Enciclopédia SUPER das finanças
"Derivativos alavancados forçam o hedge em commodities." Não entendeu? Então aprenda economês, a língua mais importante do mundo - para o seu bolso
Ações
Papéis que valem como pedaços de uma empresa, que qualquer pessoa pode comprar. Se você tem uma ação da Petrobras, por exemplo, vira proprietário de 0,12 bilionésimo da estatal (já que ela tem 8 bilhões de ações no mercado). Aí todo ano os lucros correspondentes a essa fração vão pingar na sua conta. O nome vem de uma expressão holandesa dos anos 1600 que significa “partes de uma ação”. Os ingleses preferiram encurtar e chamar os papéis só de “partes” (“shares”). E nós ficamos com o “ação”. Uma palavra menos precisa, diga-se. É que “ação”, na Holanda do século 17, tinha o sentido de “empreitada”, pois a venda desses papéis financiava empreitadas mesmo, como as expedições da Companhia da Índias Ocidentais para invadir o Brasil e dominar o comércio de açúcar. “Investimento agressivo” é isso aí!
Alavancagem
Um modo ainda mais agressivo de investir do que invadir países: aplicar com dinheiro dos outros. Tipo: você vai ao banco e pega R$ 100 mil, pagando 2% de juros. Aí aplica tudo na bolsa. Passa um mês e as suas ações valorizam 12%. Pronto: você saca os R$ 112 mil, paga os R$ 2 mil dos juros e ainda sobram 10 pilas. “Dá para viver disso!”, diriam alguns. E dá mesmo: é mais ou menos assim que os bancos ganham dinheiro. Eles sempre investem pelo menos o triplo do que têm. É como se alguém pegasse R$ 10 mil emprestados para aplicar quando tudo o que tivesse em bens fosse um Fusca e um violão. Alguns bancos chegavam a investir 30 vezes seu patrimônio – o que daria tipo R$ 90 mil no caso do nosso amigo do Fusca e do violão! Mas aí foi só bater um vento em 2008 que eles quebraram. E levaram o resto junto.
É a figura paterna do sistema financeiro de um país – um departamento do Estado com poder de abrir e fechar a torneira de dinheiro. Seu trabalho é controlar essa vazão: se ela crescer muito, gera inflação; se secar, congela a economia. Então ele usa 3 armas para manter tudo ok:
1. depósito Compulsório
O BC segura parte de todo o dinheiro que é depositados nos bancos. Quando ele segura muito, falta dinheiro para os bancos emprestarem. Para os lucros não caírem, o jeito é cobrar mais pelos empréstimos: é aí que a taxa para financiar o carro que você quer sobe. Já se o BC liberar o compulsório, acontece o contrário. E a oferta de dinheiro aumenta.
2. Operações de mercado
O BC aumenta a taxa de juros dos títulos públicos. Quando faz isso, pessoas e bancos atraídos pelos juros compram os títulos, o que suga a oferta de dinheiro nas ruas.
3. Taxas de redesconto
Bancos pegam dinheiro emprestado do BC quando estão com as calças curtas. Caso o BC queira diminuir a oferta de dinheiro, ele aumenta os juros desses empréstimos. Aí é aquela história de novo: o bancos ficam com menos grana para emprestar, eles sobem os juros para manter os lucros e voilà: a economia esfria. E o risco de inflação também.
Bolsa
É o nome de um hotel em Bruges, na Bélgica: o Hôtel Des Bourses, onde comerciantes medievais se encontravam para negociar. Quando o comércio de ações começou para valer, na Holanda do século 17, batizaram o lugar onde os negócios rolavam de Amsterdam Bourse. E a coisa pegou de vez. Bom, nem tanto: os ingleses preferiram chamar os lugares onde acontecia o comércio de papéis de “comércio de papéis” mesmo (stock exchange).
Commodities
Mercadorias básicas, como petróleo, minérios. Outros produtos variam conforme o fabricante: um computador da Apple é diferente de um da HP. Mas soja é soja e ferro é ferro, não importa quem produz. Elas são negociadas nas bolsas de mercadorias. E é normal que um investidor compre um contrato que lhe dá direito a 1 000 barris de petróleo sem ser dono de refinaria nem nada. Só para vender quando subir de preço – foi por essas que o preço do barril chegou a pular de US$ 60 para US$ 147 em um ano.
Corretora
É quem faz o meio-de-campo entre as pessoas comuns, filhas de Deus, e a bolsa. Você tem que ter uma conta numa corretora para comprar e vender ações.
Derivativos
São eles, não as ações, que podem deixar alguém rico do dia para a noite (ou quebrar uma empresa da noite para o dia). Trata-se de contratos que derivam das ações. Eles funcionam assim: eu tenho ações da Super que hoje valem R$ 100 cada uma e acho que elas vão subir muito. Então vou à bolsa e compro um derivativo chamado “opção de compra” – um contrato que me dá a opção de comprar uma ação da Super a R$ 110 daqui a um mês, no dia 20, não importando o preço que ela esteja àquela altura. Esse contrato tem um preço. Digamos que seja R$ 0,10 (as opções são baratinhas mesmo na vida real). Aí chega o dia 20 e a ação da Super já está valendo R$ 150. Animal: agora posso comprar por R$ 110 e revender por R$ 150 no mesmo dia. Dá para fazer com dinheiro meu ou até emprestado. Não tem problema, de um jeito ou de outro, embolso os R$ 40 da diferença sem gastar quase nada. Agora, se estivéssemos falando de 100 mil ações da Super, eu teria investido R$ 10 mil em opções de compra e ganho R$ 4 milhões. E isso não é um exemplo estapafúrdio: acontece de verdade. E com uma frequência surpreendente quando as bolsas estão em alta. Foi graças a negócios desse tipo, inclusive, que o número de bilionários no mundo subiu de 322 em 2000 para 1 125 em 2008. Só tem um probleminha: quando o mercado cai e a ação da Super desaba para R$ 70 sua opção de comprá-la por R$ 110 vale NADA. Vira pó. E você perde tudo o que investiu nos contratos. Existem outros tipos de derivativo, mas quase todos seguem essa lógica tipo tudo ou nada.
Dinheiro
Permite a um massagista comprar 6 pãezinhos sem ter que em troca massagear o padeiro. Como todo o sistema econômico, se baseia na fé. Fé em quem cunhou o dinheiro e fé de que você vai conseguir trocá-lo por alguma coisa. Gado e grãos já foram dinheiro. Metais raros também. Mas hoje ele é feito basicamente de pixels em telas de LCD: seu patrão manda números para a sua conta por cabos de fibra ótica, você paga seus cartões e pronto. A grana nem precisa se materializar. Nos EUA, por exemplo, só 11% dos dólares são de papel.
Dow Jones
Não é sinônimo de “bolsa de Nova York”. Dow Jones é a empresa que publica o Wall Street Journal. Ela checa o quanto oscilaram as ações das 30 maiores empresas americanas e publica a média. É o índice Dow Jones, que serve de termômetro para o mercado financeiro do planeta. Nosso índice principal, o Ibovespa, faz a média das 65 maiores companhias do país. Ah: para quem tem ações de empresas pequenas, que não apitam no índice, ele não quer dizer nada. Uma Zé Mané S.A. pode subir 100% num dia que o Ibovespa caia 5%.
George Soros
O Maradona do mercado financeiro. Fez boa parte de sua fortuna de US$ 11 bilhões com jogadas geniais, imprevisíveis, que deixaram o mercado de boca aberta. Seu gol de placa, como o de Dieguito, foi contra a Inglaterra: lucrou mais de US$ 1 bilhão num dia apostando na queda da libra.
Hedge
Significa “proteção”. Se você é dono de uma companhia aérea, não vai poder mudar o preço da passagem a cada solavanco do preço do petróleo. O negócio é fechar contratos para retirar o óleo daqui a meses ou anos a um preço já acertado. Isso protege sua companhia contra subidas no preço do barril. Por outro lado, tem gente que prefere comprar petróleo (ou outras mercadorias) para “fazer hedge”, como diz o povo do mercado, contra a inflação. Além disso, também dá para se proteger de quedas da bolsa. Uma das formas é lançar contratos de opção de compra no mercado e embolsar o dinheiro que investidores mais otimistas pagariam por elas. Não entendeu? Veja o verbete Derivativos.
Ibovespa
Vide Dow Jones.
Inflação
Coisa que de tempos em tempos mostra que o dinheiro é mais abstrato do que parece. Foi o que os reis da Espanha perceberam nos séculos 16 e 17. Eles mineravam quase 200 toneladas de prata por ano na América do Sul e levavam para a Europa. No começo era uma beleza. Mas chegou uma hora em que havia mais prata na economia do que coisas para comprar. E ela perdeu valor. Se antes dava para adquirir um castelo com uma tonelada de prata, agora ele custava duas. É a ordem natural das coisas: o dinheiro desvaloriza, os preços inflam. Isso vai destruindo o poder de compra da população, até que a economia trava. O efeito é tão nocivo que Hitler chegou a usá-lo como arma: mandou imprimir milhões em libras esterlinas para jogar na economia britânica – afundá-la em inflação. Não parece, mas o contrário disso é pior. Se existe pouco dinheiro na economia, começa uma deflação: os preços caem sem parar. Aí complica: imagine uma fábrica de sapatos que tenha de vender por menos que pagou pelo couro. Não dá. Mas num cenário de queda forte de preços isso vira realidade. E todo mundo quebra. Foi isso que jogou o mundo no buraco durante a grande depressão dos anos 30. E era a possibilidade de uma nova onda de deflação o que mais afligia os Bancos Centrais no auge da crise. Por isso mesmo eles correram para jogar trilhões de dólares na economia. Não fosse por isso, a gente poderia acabar sem sapatos.
Juros
O preço do tempo. Se você quer montar uma padaria que espera render R$ 1,5 milhão daqui um ano, mas ainda falta R$ 1 milhão para comprar os fornos, pode pegar esse dinheiro emprestado de um banco. Se os juros forem de 20% ao ano, o tempo em que você ficou com o dinheiro vai custar R$ 200 mil. Pode ser caro, mas ainda assim vai valer a pena, já que, depois de abertas as portas, a padaria ainda pode dar R$ 300 mil de lucro. Na Idade Média, a Igreja condenava ao inferno quem cobrasse juros – achava imoral que alguém ganhasse dinheiro sem produzir nada diretamente. Mas bastou que a economia europeia passasse a ser movida a juros para que a Igreja promovesse a alma do usurário do inferno para o purgatório.
Mercado financeiro
Um jogo de War: vale a sorte e vale a estratégia, mas ninguém sabe dizer em qual proporção. É que o mercado finaceiro não trabalha com a realidade do presente, mas com expectativas para o futuro. Por exemplo: se uma crise estiver por vir na economia, o melhor é vender suas ações e comprar tudo depois pela metade do preço. Mas o mercado é nervoso, como brincou o célebre economista Paul Samuelson: “A bolsa previu 9 das últimas 5 recessões”.
Sociedade Anônima (S.A.)
Uma empresa dividida em ações. Por que elas preferem ser sociedades anônimas do que ficar com o lucro todo para elas? Bom, imagine que você tenha uma rede de padarias que vale R$ 10 milhões e quer que ela cresça. Então precisa levantar uma grana para investir. Um jeito de fazer isso é vender uma parte da companhia, só que na forma de ações. Aí você emite 10 milhões de ações a R$ 1 cada uma, guarda metade para garantir o controle e vende o resto. Nisso você levanta R$ 5 milhões para investir sem ter de pagar juros a um banco, só uma parte dos lucros que tiver no futuro. Com o dinheiro extra, você compra mais padarias e pode ter mais lucros com metade das ações da sua nova, e grande, rede do que com a antiga inteira. Parece nonsense – tanto que muitos megaempresários nunca lançam ações. Mas eles são a excessão. Regra mesmo é o modelo das S.A.
Taxa Selic
É a taxa de juros que o governo paga nos títulos públicos. Selic é uma sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Mas isso não importa. O que interessa sobre ela está no verbete aqui ao lado.
Títulos públicos
O setor privado trabalha com o que pode dar lucro, o governo assume tudo o que for necessário, mas não der lucro – defesa, previdência social… E usa o dinheiro dos seus impostos para isso. Mas eles não são o suficiente para manter o fluxo de caixa. Então precisa pegar dinheiro emprestado. Para isso, o país emite títulos da dívida pública – papéis em que promete devolver o dinheiro com juros numa data determinada. Quanto mais confiável é o país, maior é a chance de que ele cumpra a promessa – e mais cobiçados são os títulos dele. Os papéis do governo americano são os galãs aí. Como os EUA sempre pagaram em dia, seus títulos são considerados como o investimento mais seguro do mundo. Então eles não precisam fazer força para se dar bem: pagam uma miséria de juros e todo mundo corre para eles mesmo assim. Aqui é diferente. Como o Brasil já deu calotes em suas dívidas e fez sandices como confiscar caderneta de poupança, nossos títulos ainda estão no time dos feios: se não pagarem juros altos não arranjam tantos investidores.
Warren Buffett
O O Pelé do mercado financeiro. Ninguém ganhou tanto quanto ele nas bolsas: sua firma de investimentos começou do zero e hoje é uma empresa que vale US$ 145 bilhões (pouco menos que a Petrobras). Como o Rei, é um jogador objetivo, que parte direto para o gol, sem firulas: prefere investir em grandes empresas, que rendem pouco, mas sempre, do que tentar lances mirabolantes. Agora há pouco, aproveitou o pânico do mercado para comprar ações a preços baixos quando todo mundo estava desesperado para vender. Como boa parte dos grandes investidores, Buffet não está no mercado para juntar dinheiro e sacar quando tiver muito. Ele está por diversão. Sabe aqueles pescadores que devolvem o peixe para a água? Então. Tanto é assim que vai doar quase toda a sua fortuna, de US$ 37 bilhões. Mais do que um tipo de investimento, afinal, o mercado financeiro é um esporte. E se você tem medo de quebrar as pernas, melhor ficar de fora.
ESCAMBO
Grãos e gado eram o dinheiro das primeiras civilizações. Dinheiro mesmo: as pessoas faziam poupança com essas mercadorias e pegavam emprestado pagando juros em espécie.
METAIS
Ouro e prata foram as primeiras moedas universais. Mas seu valor é tão abstrato quanto o de cédulas de papel: depende da crença das pessoas.
MOEDA
Efígies gravadas nas moedas eram uma garantia do Estado de que esses discos de metal valiam alguma coisa. E ainda são.
USURA
Emprestar dinheiro a juros era uma prática condenada pela Igreja Católica na Idade Média. Mas depois banqueiros virariam papas.
BANCOS
Eles eram bancos mesmo (no sentido de “lugar para sentar”) no final da Idade Média. É que os agiotas ficavam sentados neles para atender seus clientes.
BULLS E BEARS
“Vender a pele do urso antes de caçá-lo” era um provérbio inglês. Aí urso (bear) passou a designar quem está vendendo suas ações. Depois chamaram de “touro” (bull) quem compra.
ESCAMBO 2.0
Dinheiro na mão é vendaval, mas mercadorias concretas, como grãos e petróleo, não. Elas sempre valerão algo. Então muitos fazem reservas em mercadorias, como faziam há milhares de anos.
Para saber mais
The Ascent of Money
Niall Ferguson, Penguin Press.
Money, a History
Vários autores, Firely Books.
Salve-se Quem Puder
Edward Chancellor, Companhia das Letras.