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Conheça os bastidores de “Pinóquio”, de Guillermo del Toro

Um livro ilustrado. A paixão pela história original. E uma equipe internacional de artistas. Entenda como o diretor idealizou e gravou esta animação em stop-motion, disponível na Netflix.

Por Luisa Costa
Atualizado em 22 jan 2023, 12h43 - Publicado em 22 jan 2023, 12h40

Geppetto, o artesão solitário de uma aldeia italiana, construiu um boneco de madeira que ganha vida – e o batiza de Pinóquio. Guillermo del Toro, por sua vez, construiu 32.

Não, ele não queria quebrar algum recorde de marcenaria. Del Toro, diretor de filmes como O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, embarcou no mundo da animação em stop-motion para contar a sua versão da história de Pinóquio, que estreou em novembro de 2022 na Netflix. O filme recentemente ganhou o Globo de Ouro de Melhor Animação – e é um dos favoritos ao Oscar.

O boneco de madeira não está sozinho: os outros personagens também são fantoches. Todos foram produzidos por uma equipe internacional de artistas, que também construíram os cenários e figurinos. É um processo artesanal, que leva um bocado para chegar ao resultado que você vê na tela: a gravação de Pinóquio (2022) levou 940 dias (dois anos e meio) – um cronograma de filmagem dez vezes maior que o normal, segundo Del Toro.

Cena do filme Pinóquio, de Guillermo del Toro.
(Netflix/Divulgação)

Se você ainda não assistiu ao filme (dica da Super: assista), vale dizer que a adaptação pouco lembra a versão clássica de 1940, produzida pela Disney. Ela está mais próxima da obra original de Carlo Collodi (1826-1890), que é bem menos ingênua: nela, por exemplo, Geppetto é preso e Pinóquio mata o grilo falante a pauladas.

No filme de del Toro, a história se passa na Itália de Mussolini, quando o fascismo está em ascensão. Nesse cenário, alguns veem na imortalidade de Pinóquio um trunfo para vencer qualquer batalha.

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Entre figuras realistas e fantásticas, o stop-motion nos coloca questões filosóficas. É um conto essencialmente existencial, segundo Del Toro: “Algo que nunca esteve vivo pode se tornar humano? O que nos faz humanos? O que faz nossa passagem por esse mundo tão valiosa e importante? Como um bom mexicano, eu tenho uma resposta: a morte”.

Ao lado de Guillermo está o diretor Mark Gustafson (da animação stop-motion O Fantástico Sr. Raposo), o roteirista Patrick McHale (O Segredo Além do Jardim) e o compositor Alexandre Desplat – vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora por A Forma da Água.

Quem empresta a voz ao Pinóquio é um ator novato chamado Gregory Mann. Já outros personagens ganharam vozes bem conhecidas. É o caso do Grilo Falante, interpretado por Ewan McGregor, e de Geppetto, que ficou com David Bradley (o sr. Filch da saga Harry Potter). O elenco ainda inclui Tilda Swinton, Christoph Waltz, Cate Blanchett, Ron Perlman e Finn Wolfhard. No vídeo abaixo, dá para ver alguns bastidores do trabalho de dublagem:

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Do livro às telas

Tudo começou com uma paixão de Guillermo del Toro pela história do Pinóquio – em particular, por uma edição lançada em 2002, com ilustrações de Gris Grimly. O desenhista, por sua vez, sonhava com a adaptação da história para o cinema e, na lista de possíveis diretores para o longa, colocava Del Toro em primeiro lugar. Foi o match perfeito.

O cineasta leu o livro de Grimly em 2004 e, rapidamente, o pessoal da editora Tor (responsável pela publicação) juntou os dois artistas num almoço. A conversa certamente alimentou o desejo de Del Toro em adaptar a obra.

Guillermo del Toro no set de Pinóquio.
(Jason Schmidt/Netflix/Divulgação)

Trabalho artesanal

Guillermo chamou o designer Guy Davis para construir o personagem a partir das ilustrações de Gris – mudando principalmente o desenho original da cabeça de Pinóquio para conseguir representar mais emoção no boneco de madeira. (Dê uma olhada nas ilustrações de Grimly nesta página.) Para concretizar as ideias de Del Toro, Davis se juntou a um time de designers e animadores dos Estados Unidos, México e Inglaterra. E então eles produziram tudo do zero.

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“Tudo tem que ser construído. Essa é a bênção e a maldição do stop-motion”, disse Curt Enderle, que ajudou a coordenar a produção do filme. “Você cria um mundo diferente de qualquer outro. E isso é realmente poderoso.”

Em um projeto de stop-motion, funciona assim: depois que roteiro, bonecos e cenários estão prontos, os animadores começam a criar as cenas do filme. Ajustam a luz e a câmera no estúdio, posicionam o personagem na paisagem da vez e tiram uma foto. Então, voltam ao boneco, alteram levemente sua posição ou expressão (através de mecanismos sutis dentro da cabeça dos fantoches) e fazem outra foto.

Movimentar um único personagem por um segundo requer 24 fotos. Um filme de duas horas, como Pinóquio, tem 7,2 mil segundos e exigiria 172,8 mil fotos – mas o número é ainda maior, considerando que a equipe de animadores trabalha, claro, com vários personagens. Você pode ter uma ideia de como é este processo neste vídeo da Netflix.

Para filmar a animação em menos de três anos, del Toro trabalhou com 60 unidades de filmagem simultaneamente. Ou seja: várias cenas eram gravadas ao mesmo tempo, por equipes diferentes. 

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É a primeira vez que Guillermo Del Toro faz um filme em stop motion. Foi uma produção especial para ele: “Nenhuma forma de arte influenciou mais minha vida e meu trabalho do que a animação e nenhum personagem na história teve uma conexão pessoal tão profunda comigo quanto Pinóquio”.

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