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As séries mais difíceis de acompanhar, de acordo com as suas legendas

A comédia "It`s Always Sunny in Philadelphia" tem 176,2 palavras por minuto. Veja a lista completa – e entenda por que os americanos têm visto cada vez mais programas legendados.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 5 jan 2024, 16h05 - Publicado em 5 jan 2024, 15h22

Você costuma perder um ou outro diálogo da sua série favorita? Precisa ficar com o controle em mãos para voltar alguns segundos da cena? Normal: alguns programas despejam tantas palavras por minuto na tela quanto um rap do Eminem.

Um levantamento de 2023 quantificou essa verborragia toda. A WordFinderX (uma ferramenta que auxilia jogadores de Scrabble, Wordle e vários outros jogos linguísticos) analisou quantas palavras por minuto (ppm), em média, as séries mais populares da TV americana possuem.

A pesquisa selecionou as temporadas mais recentes dos programas e contabilizou as palavras usando bases de dados de três sites: OpenSubtitles, Subdl e TVSubtitles.net, que possuem os arquivos “.srt” (que vêm com a legenda + a duração delas na tela) de milhares de episódios. Se você já baixou séries por vias, digamos, extraoficiais, é provável que conheça algum deles.

A campeã é It`s Always Sunny in Philadelphia, com 176,2 palavras por minuto, em média. A sitcom criada por Rob McElhenney (e com Danny DeVito no elenco) acompanha um grupo de amigos que administram um pub na Filadélfia. Estreou no FX em 2005 e está na 16ª temporada – em 2020, tornou-se a comédia em live action mais longeva da televisão dos EUA.

Em segundo lugar está outra sitcom: Brooklyn Nine-Nine, com 174,6 ppm. Gilmore Girls completa o pódio com 167,8 ppm. Veja a lista completa:

Das 15 primeiras séries do ranking, 12 são comédias (em live action ou animação) – um gênero que, via de regra, se apoia em diálogos rápidos e extensos para fazer piada. Produções com outros artifícios (ação, efeitos visuais, cenários fantásticos) se concentram no final da lista. Exemplos: A Casa do Dragão (62,4 ppm), O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder (57,7) e Obi-Wan Kenobi (50,5).

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Mas, afinal, em que momento uma legenda se torna difícil de acompanhar?

A National Disability Authority, uma agência irlandesa que promove estudos e políticas públicas voltadas à acessibilidade, recomenda que legendas em inglês não excedam a velocidade de 170 palavras por minuto – e que, se possível, fiquem na faixa das 140 ppm. O levantamento da WordFinder, contudo, apontou que 16 séries americanas ultrapassam esse valor.

No Brasil, o Guia Para Produções Audiovisuais Acessíveis, elaborado pelo Ministério da Cultura, sugere três velocidades confortáveis para o espectador: 145 ppm, 160 ppm e 180 ppm. Para cada uma delas, há uma tabela que indica o limite de caracteres e o tempo de exibição de cada legenda na tela – para que qualquer um possa acompanhar o texto sem se perder.

É claro: traduções do inglês para o português não geram legendas com a mesma quantidade de palavras por minuto. Seria necessário um levantamento semelhante ao do WordFinder, mas no nosso idioma, para uma comparação 100% justa.

Mas, para além da comparação entre as séries, a pesquisa serve para ressaltar dois pontos. O primeiro é que a dificuldade de acompanhar legendas é algo universal, rs. E o segundo é que os americanos (e falantes de língua inglesa no geral) estão consumindo mais conteúdos legendados.

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Ativar legendas?

Em 2023, uma pesquisa apontou que 38% dos americanos prefere assistir a filmes, séries e programas de TV com legenda – mesmo que sejam em inglês. Entre os menores de 30 anos, essa preferência sobe para 63%.

Essa tendência se repete no outro lado do Atlântico: no Reino Unido, um estudo da Stagetext, ONG para surdos que produz legendas de obras culturais, mostrou que quatro em cada cinco adultos de 18 a 25 anos assistem a conteúdos legendados com frequência ou o tempo todo.

Exemplo de legenda no filme Charada (1963)
(Imagem: Charade (1963) / Wikimedia Commons/Reprodução)

O hábito não se restringe a pessoas com surdez ou algum tipo de dificuldade auditiva. Assistir a algo na Netflix, no YouTube ou no TikTok com as legendas ativadas têm se tornado o padrão para muita gente. E há uma série de fatores que explicam isso. Vamos a alguns deles:

1 – “O que foi que ele disse”?

Nas primeiras décadas do cinema falado, os microfones eram trambolhos pesados que limitavam o trabalho dos atores: era preciso empostar a voz e tomar cuidado com as movimentações em cena para que o aparelho captasse o áudio.

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Com o tempo, os mics ficaram menores e maleáveis. Hoje, é possível espalhar vários deles pelo set, como as lapelas, que ficam escondidinhas na roupa dos atores. Dessa forma, os artistas podem sussurrar à vontade, conferindo mais naturalidade às cenas. Ao espectador, resta aumentar o volume da TV – ou ativar as legendas.

2 – O trabalho de mixagem de som

Você pode estar se perguntando: “se há tantos sussurros, por que o diretor não aumenta o volume do áudio?”. Não é tão simples assim.

No mundo do audiovisual, o mixadores equilibram todos os barulhos e efeitos sonoros de uma produção. Tendo em mente a intenção de determinada cena (rir, chorar, assustar, etc.), é preciso saber em que momento valorizar os diálogos, o som ambiente e a trilha sonora. É aqui que também se dá profundidade ao som (sensação de distância, como o barulho de um trem se aproximando).

Como este vídeo da Vox explica, os mixadores prezam pelo “dynamic range” (faixa dinâmica), que é a diferença entre os sons mais altos e baixos de determinada cena – um intervalo que garante a coerência e a sensação de escala.

Suponhamos que você está assistindo a uma cena de Velozes e Furiosos em que o Vin Diesel está conversando com alguém – e que, na sequência, há uma explosão. Se o diálogo estiver muito alto, o barulho da explosão perde força. Mas não dá só para aumentar o volume do “boom!”, porque o som pode ficar distorcido. Para manter o dynamic range, então, diminui-se o volume do diálogo.

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3 – As mudanças tecnológicas – e dos hábitos de consumo

No show-biz, o som de uma produção é pensado inicialmente para as melhores exibições possíveis – uma sala de cinema com caixas capazes de reproduzir 128 faixas de áudio, por exemplo. Só depois esse material é ajustado para outras formas de exibição, como o som estéreo de dois canais da sua TV.

Essa adaptação, aliada ao fato de que as TVs ultrafinas (e os smartphones) não possuem alto-falantes tão potentes como os de um cinema, prejudica a qualidade final do áudio – e, consequentemente, pode tornar os diálogos mais difíceis de entender.

Mas talvez o maior culpado para a popularização das legendas seja a forma como consumimos conteúdo hoje em dia. Assistimos a vídeos em ambientes barulhentos (na academia, no ônibus, no metrô), onde o texto na tela é o nosso melhor companheiro. Além disso, as plataformas de streaming, com conteúdos do mundo todo, universalizaram o recurso. E as captions automáticas de redes como YouTube e TikTok têm ficado cada vez mais assertivas.

Vida longa a esses textinhos.

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