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“Anora”: conheça a comunidade russo-americana que inspirou um dos favoritos ao Oscar

O filme se passa no bairro de Brighton Beach, um pedaço de praia em Nova York que recebeu muitos imigrantes fugindo da União Soviética.

Por Eduardo Lima
12 fev 2025, 12h00

Apesar de ser uma produção dos Estados Unidos, Anora, o filme que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e é um dos favoritos para levar o Oscar deste ano, tem uma comunidade russa em seu centro, com atores do Leste Europeu e da Armênia e vários diálogos na língua de Tolstói. Mas por quê?

O filme acompanha Anora “Ani” Mikheeva (interpretada por Mikey Madison, que está indicada ao Oscar de Melhor Atriz e manda muito bem), uma trabalhadora sexual nascida nos Estados Unidos, mas com ascendência russa. Na história, ela se envolve – e rapidamente se casa – com Ivan (Mark Eydelshteyn), o filho de um oligarca russo ricaço que foi para os EUA estudar, mas prefere passar o tempo torrando o dinheiro do pai em festas na sua mansão em Nova York.

A comédia às avessas segue o casal de jovens e alguns capangas do pai de Ivan, que tentam convencer o garoto cabeça-de-vento a desistir do romance. Na hora que a confusão bate à porta, as coisas se complicam para Ani (que não tem nem de longe a mesma grana que o seu amado para ajudá-la a se livrar do problema). Assista ao trailer do filme, que já está nos cinemas:

Para criar Anora Sean Baker, o diretor e roteirista do filme, baseou-se na história de um russo-americano recém-casado que foi sequestrado. Além disso, Baker também se inspirou no tempo em que editava vídeos de casamento, entre 2000 e 2001 – vários deles para a populosa comunidade russo-americana de Nova York.

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Russos em NY

Nova York é a cidade com a maior população de falantes de russo no Ocidente. Os imigrantes se concentram, principalmente, no bairro de Brighton Beach, um pedacinho de praia na costa do Atlântico no meio da metrópole, no sul do distrito do Brooklyn. É no Brooklyn, aliás, que estão várias locações de Anora, como restaurantes típicos, as igrejas ortodoxas e os estabelecimentos operados por imigrantes das ex-repúblicas soviéticas.

Os primeiros imigrantes da Rússia chegaram aos Estados Unidos no fim do século 18. Os que ocuparam em Brighton Beach – entre eles, provavelmente a família fictícia de Ani – vieram depois disso. Refugiados da União Soviética, eles começaram a entrar em Nova York a partir da década de 1970. O bairro negligenciado começou a crescer e recebeu ainda mais imigrantes ainda após a queda da URSS, em 1991.

Hoje, há cerca de 600 mil russos-americanos na cidade, a maioria filhos de imigrantes, além de vários descendentes de outras repúblicas ex-soviéticas, como Ucrânia, Bielorrússia, Cazaquistão e Uzbequistão.

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Muitos dos russos e ucranianos que se mudaram para Brighton Beach são judeus que fugiram da perseguição religiosa na União Soviética. Por causa disso, o bairro ganhou o apelido de Little Odessa, em homenagem à cidade ucraniana que tinha uma grande população judaica na primeira metade do século 20.

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O filme passeia pelo bairro, onde Ivan tem uma mansão com vista para o mar que, na vida real, já foi propriedade de um oligarca que fez a fortuna na Rússia e passa por restaurantes em que os capangas do oligarca falam russo sem se preocupar em traduzir (Madison, que é judia, aprendeu a falar russo para o filme). Dentro da maior cidade dos Estados Unidos, há gente de todos os cantos – até da Rússia, inimiga histórica do país.

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Outro pedaço de cultura russa que aparece no filme, mesmo que rapidamente, são os gopnik. É com essa palavra que Ani ofende Igor (Yura Borisov, o primeiro ator russo a ser indicado ao Oscar desde 1977), um dos capangas do pai de Ivan. Mas o que é um gopnik?

Há uma subcultura de classe baixa e pouca escolaridade nas repúblicas ex-soviéticas conhecida como gopota (no singular, gopnik ou gopnitsa para mulheres). Esses jovens, geralmente vestidos com moletons da Adidas (popularizados pela equipe soviética nas Olimpíadas de 1980), são vistos como delinquentes e vândalos.

(Se você assistiu à série Gavião Arqueiro, da Marvel, vai se lembrar da Tracksuit Mafia, a gangue russa toda uniformizada com moletons que atuava, justamente, em Nova York).

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A visão estereotipada dos membros dessa subcultura é que eles são envolvidos com crime, extremamente conservadores, exageram no álcool e têm fortes opiniões contra o Ocidente. A palavra realmente não cabe para Igor, uma das únicas pessoas que trata Ani bem durante o filme.

Agora que você já tem um conhecimento introdutório de cultura russo-americana, dá para ir assistir Anora mais informado – e curtir uma história que mistura os dois lados da cortina de ferro para tocar em questões universais.

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