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“A Garota da Agulha”, que concorre com “Ainda Estou Aqui”, conta história de famosa serial killer da Dinamarca

Dagmar Overbye matou dezenas de recém-nascidos – e o caso acelerou uma mudança na legislação do país. Entenda essa história.

Por Rafael Battaglia
8 fev 2025, 16h00

Disponível na plataforma de streaming Mubi, A Garota da Agulha é o representante da Dinamarca no Oscar de Melhor Filme Internacional deste ano. É concorrente direto de Ainda Estou Aqui e dos outros três longas que integram a categoria: Emília Perez (França), Flow (Letônia) e A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha).

O filme estreou em maio de 2024 no Festival de Cannes, onde concorreu pelo prêmio principal, a Palma de Ouro. Perdeu para Anora, um dos favoritos ao Oscar. Essa é a 15ª indicação da Dinamarca na categoria de Filme Internacional; o país já venceu quatro vezes.

Com direção do sueco Magnus von Horn, A Garota da Agulha é um misto de drama e suspense que se passa na capital dinamarquesa, Copenhague, logo após a Primeira Guerra Mundial. O filme acompanha a vida de Karoline (Vic Carmen Sonne), operária de uma fábrica têxtil que, durante o conflito, fazia uniformes para o exército.

A jovem leva uma vida miserável. Sem o marido (que parece ter morrido na guerra), ela é despejada de casa e forçada a se mudar para um pequeno apartamento sujo, sem banheiros e com goteiras.

Karoline se apaixona pelo dono da fábrica e fica grávida. O homem, porém, não propõe casamento. Pelo contrário: ela é demitida, e sua situação se complica ainda mais.

A história de Karoline é um retrato da Europa pós-guerra, e as escolhas estéticas do filme dão ênfase a isso. Todo filmado em preto e branco, A Garota da Agulha se inspira no expressionismo alemão, um movimento que surgiu na época em que o filme se passa e que exagerava nas sombras e nas atuações para dar vazão às angústias do período.

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O expressionismo lançou as bases para gêneros como o terror e o noir (o Nosferatu original é fruto dessa onda). A cena inicial de A Garota da Agulha, diga-se, é uma referência direta a esse movimento – e faz gelar a espinha. Fica o aviso.

O filme também tem um pé no true crime – uma importante personagem da história é baseada em uma das serial killers mais famosas da Dinamarca. A partir daqui, o texto talvez contenha spoilers. Continue por sua conta e risco.

Dagmar Overbye, a criadora de anjos

Imagem da Trine Dyrholm e Ava Knox Martin em A Garota da Agulha (2024).
(A Garota da Agulha/Reprodução)

Desempregada e sem ter a quem pedir ajuda, Karoline não sabe o que fazer com o bebê que carrega. Eis que surge Dagmar Overbye (Trine Dyrholm), uma senhora dona de uma loja de doces em Copenhague e que promete ajudá-la.

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Só que não é caridade: Dagmar comercializa ilegalmente bebês para adoção. Ela recolhe recém-nascidos sob uma taxa e encontra famílias dispostas a cuidar deles. Karoline, porém, não tem dinheiro suficiente, então acaba trabalhando como ama de leite de Dagmar (as crianças, afinal, precisam mamar) para quitar sua dívida.

Atriz dinamarquesa veterana e premiada, Dyrholm interpreta uma pessoa que existiu na vida real: Dagmar Johanne Amalie Overby (1887-1929) assassinou dezenas de crianças em Copenhague. A motivação era financeira. Assim como no filme, Dagmar lucrava sendo a intermediária entre mães que queriam se livrar dos filhos e quem receberia as crianças. Mas era tudo mentira: não havia famílias adotivas, e Dagmar matava as crianças entregues a ela.

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Acredita-se que Dagmar agiu entre 1913 e 1920. Era uma época em que os registros de nascimento e de adoção eram precários. Isso ajuda a explicar por que demorou tanto para que ela fosse pega. Por matar gente tão nova, ela ganhou o apelido de “Angel Maker” (“a criadora de anjos”).

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Karoline nunca existiu de verdade. Ela é inspirada na mulher que teria denunciado Dagmar à polícia depois de se arrepender de ter entregue seu bebê a ela. Overbye confessou ter matado 16 crianças, mas acredita-se que o número real é bem maior. Ela foi condenada à morte, mas depois sua pena mudou para prisão perpétua. Ela morreu na cadeia em 1929.

Dagmar enforcava, afogava e queimava as crianças. Muitos dos restos mortais foram encontrados no forno do sistema de aquecimento de sua casa. Os registros das cenas do crime serviram de base para a produção de A Garota da Agulha. As 122 páginas de transcrição do julgamento de Overbye também inspiraram o roteiro, assinado por von Horn e pela dinamarquesa Line Langebek.

Em 1924, na esteira da repercussão do caso Dagmar, a Dinamarca endureceu a legislação sobre as certidões de nascimento. Foi uma mudança com consequências persistentes: até hoje, o cadastro geral dinamarquês unifica e facilita o acesso a muitos serviços públicos do país .

Se na vida real, os motivos de Dagmar parecem ter sido puramente econômicos, em A Garota da Agulha a assassina ganha mais camadas. Von Horn e Dyrholm criaram uma personagem complexa, fruto do contexto desolador do pós-guerra. Em uma das cenas derradeiras do filme, ela explica seu (turvo) senso de justiça: ela seria a pessoa encarregada do trabalho sujo ao qual as mães que abandonam os seus filhos não querem se submeter.

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Tudo isso, porém, acontece sem que em nenhum momento as ações de Dagmar sejam relativizadas – uma armadilha que muitos true crimes costumam cair. Esse, talvez, seja o grande trunfo do filme. Vale assistir.

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