Se você curte cinema e já participou de algum bolão do Oscar, sabe que, mesmo ficando de olho nos favoritos, o resultado final pode ser difícil de prever, principalmente nas categorias técnicas. Mas, nos 88 anos desde a criação do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, uma aposta tem sido segura para a categoria de Melhor Direção de Fotografia: quem vai ganhar é um homem.
Além de ser majoritariamente branca (como a hashtag #OscarSoWhite repercutiu em 2016, ano em que nenhum ator ou atriz não-branco figurava entre os indicados à estatueta), a premiação sofre também com um profundo desequilíbrio de gênero. Mais oportunidades (e mais espaço) para os homens é como o barco é tocado em Hollywood – como já falamos por aqui -, um problema escancarado na categoria de Direção de Fotografia, a única desde a criação do prêmio da Academia, em 1929, em que nenhuma mulher foi indicada por seus feitos. E o que não falta é talento.
Para celebrar o trabalho de diretoras de fotografia notáveis e que são as grandes responsáveis pelo visual marcante de obras cinematográficas famosas, o editor e cineasta Jacob T. Swinney produziu um vídeo em que reúne 12 grandes nomes da área que quem curte cinema deveria conhecer.
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No ensaio visual, são destacados os trabalhos de grandes nomes na área ainda pouco reconhecidos. Três vezes indicada ao Emmy, a francesa Maryse Alberti é responsável pela fotografia de filmes como Velvet Goldmine (1998), O Lutador (2008) e Creed (2015) e já premiada no Independent Spirit Awards e no Festival de Sundance. A canadense Maya Bankovic é responsável por filmes como Tru Love (2013) e The Rainbow Kid (2015). A argentina Natasha Braier, indicada em festivais na Austrália e em seu país natal, é responsável pela direção de fotografia marcante de The Rover – A Caçada (2014) e Demônio de Neon (2016).
A francesa laureada no César Awards Caroline Champetier tem entre seus trabalhos os premiadíssimos Holy Motors (2012) e Homens e Deuses (2010). Charlotte Bruus Christensen, premiada em Cannes, deixou sua marca em A Caça (2012), indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e em Longe Deste Insensato Mundo (2015). A americana Autumn Durald foi responsável pela fotografia de filmes como Palo Alto (2013) e One e Two (2015). A premiadíssima francesa Agnès Godard é responsável por longas como 35 Doses de Rum (2008) e Novo Mundo (2006).
A americana Ellen Kuras assina a direção de fotografia de filmes como Jogada Decisiva (1998), A Hora do Show (2000), Profissão de Risco (2001) e Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004). Reed Morano assina a fotografia de Rio Congelado (2008), Versos de um crime (2013), Irmãos Desastre (2014) e Meadowland (2015). Rachel Morrison, indicada ao Emmy, é o nome por trás de A última parada (2013), Cake (2015) e Um deslize perigoso (2015). Amy Vincent, premiada em Sundance, tem entre seus créditos Amores Divididos (1997), Ritmo de um sonho (2005) e Entre o céu e o inferno (2006). Mandy Walker é a diretora de fotografia responsável por Austrália (2008) e Em busca da justiça (2016).
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Menos oportunidade e menos reconhecimento
A falta de reconhecimento do trabalho de mulheres nessa área tem raízes profundas e antigas. Ainda que na indústria cinematográfica como um todo as mulheres sejam minoria, nenhum clubinho é tão exclusivo quanto o da direção de fotografia. Em 2015, mulheres representavam menos de 4% do total de membros da Associação Americana de Diretores de Fotografia (American Society of Cinematographers – ASC), aponta reportagem do Deadline.
A instituição fundada em 1919, um ano antes das mulheres conquistarem o direito de voto nos EUA, admitiu uma mulher pela primeira vez apenas em 1980 – Brianne Murphy, três vezes indicada ao Emmy e primeira diretora de fotografia ligada a um grande estúdio. Outros 15 anos se passaram antes de uma segunda mulher se juntar à associação. Para comparação, a Associação Americana de Diretores (DGA) contava com uma integrante do sexo feminino em 1938, dois anos após a sua fundação, e uma segunda passou a integrar a instituição em 1950.
Dos 800 diretores de fotografia que já integraram a ASC, menos de 20 são mulheres. Elas são 14 do total de 360 membros ativos da Associação em 2015, e nenhuma mulher integrou qualquer cargo dentro da instituição ao longo de suas quase dez décadas de história. Ainda que profissionais da área apontem que o número de oportunidades para mulheres esteja aumentando e que cada vez mais diretoras estejam mostrando seu talento nas telas, o número de profissionais associadas à ASC não deve crescer tão cedo. Novos membros (que devem ter obrigatoriamente atuado por pelo menos 5 anos na indústria) só são aceitos se forem convidados pela própria instituição – e são os homens os responsáveis por oficializar o convite.
O reconhecimento talvez venha primeiro na cerimônia do Oscar. Como resposta às críticas sobre a falta de diversidade entre os seus integrantes, a Academia anunciou em 2016 a entrada de 683 novos votantes: 50% são mulheres e dois terços pertencem a minorias raciais.