Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Uma nova revolução sexual

A onda de aplicativos para encontrar parceiros é mais do que uma brincadeira: está mudando a forma como as pessoas se relacionam

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 26 Maio 2014, 22h00

Alexandre Versignassi e Pedro Burgos

Se um economista fosse analisar o mercado das conquistas amorosas, concluiria que ele é mais ineficiente que as empresas do Eike Batista. O que não falta são dificuldades operacionais, custos insanos e riscos desmedidos. Ir para uma balada, por exemplo: sai caro, demanda tempo e, pelo menos para os homens, ainda tem o fator Rocky Balboa. “Não importa quantos socos você consegue dar, mas quantos você consegue tomar”, diz Rocky. Na noite funciona igual: suportar uma sequência de foras e manter a fleuma é fogo. Coisa para campeões.

Mas esse jogo está mudando, graças a aplicativos que deixam a operação de conquista mais enxuta. O primeiro desses apps amplificadores de eficiência é exclusivo dos gays: o Grindr. Ele chegou em 2009 à App Store com uma premissa simples: mostrar para os gays onde estavam os outros gays, por GPS. Um cadastrado do Grindr saca o smartphone e consegue ver quantos outros usuários do app estão nas proximidades – a 200, 100, 10 metros de distância. Aí é só dar uma olhada na foto e, se for o caso, começar uma conversa com o sujeito.

Então veio o Tinder, uma espécie de Grindr para héteros. Ele surgiu em 2012 e agora está no auge. A simplicidade é o trunfo ali também. Se a sua avó visse a interface da coisa, iria achar que se trata de um jogo de cartas com polaroids no lugar do baralho. Você entra no app e seleciona o perfil das pessoas com quem quer “jogar”. Imagine que você é um homem de 30 anos, e que escolhe jogar com mulheres de 25 a 35. Nisso, o app mostra a foto de alguma mulher dessa faixa etária cadastrada ali. Se você gostou, dá um like. E vem outra foto. Se não gostou, dispensa. E vem outra foto… Bom, lá do outro lado, alguma mulher selecionou ver homens de 25 a 35 anos. E ela pode ter dado um like em você. Se você também deu um nela, parabéns: o Tinder avisa que houve um match ali, que vocês se gostaram. E abre uma espécie de WhatsApp para a conversa começar.

Não fica nisso. O app dá preferência para mostrar gente que esteja geograficamente perto de você, o que facilita a transformação do encontro virtual num de verdade. Na prática, cinco minutos de Tinder acabam valendo por cinco horas de balada – um ganho de eficiência comparável ao da Revolução Industrial. E com um extra: você não sente quando toma um fora. Se der like em alguém e não receber um de volta, pode se confortar com a ilusão de que o outro não viu sua foto lá no meio.

Continua após a publicidade

Não que tudo isso seja 100% novo. A internet sempre esteve associada à conquista. Desde as priscas eras do chat do UOL. Mas a coisa estava longe do ideal: era tudo caótico, com todo mundo falando com todo mundo. E se você conseguisse conversar “em privado” com alguém, era preciso um bocado de fé para acreditar que o ser humano que se identificava como “gatinhamanhosa” era de fato gatinha, ou manhosa, ou mulher. As paqueras de salas de chat, enfim, eram bem menos eficientes que as caçadas a esmo na balada.

Para resolver isso, em pouco tempo apareceram os sites dedicados especificamente à conquista, com softwares que ajudavam a selecionar pares. Vieram o OkCupid, o Match.com, o Parperfeito… Hoje há pelo menos 8 mil serviços desse tipo pelo mundo – apesar de apenas 1% sobreviver depois de um ano. Como a concorrência é grande, alguns sites foram se especializando, e há hoje serviços dedicados a serem o cupido de pessoas que não querem alguém fora de seus grupos religiosos, de gente com a mesma deficiência física ou fãs da Apple – ou até pessoas que têm herpes. Seja como for, para a grande maioria dos sites-cupido funcionar direito, você precisa fornecer um bocado de informações: só o OKCupid tem mais de duas centenas de perguntas em formulários. Muita burocracia.

A graça do Tinder é justamente driblar tudo isso. E usando tecnologias que não foram criadas para facilitar conquistas amorosas. O GPS começou como um sistema militar na década de 1970. Depois migrou para o mundo civil, até se tornar onipresente. E agora permite que solteiros encontrem outros solteiros no mesmo bairro. Com os smartphones é parecido. Eles nasceram para levar o poder de computação de um PC para o bolso. E agora esse poder ajuda a selecionar parceiros – à velocidade da luz. Mais: quem verifica a identidade das “gatinhasmanhosas” de hoje, com alguma segurança, é o Facebook, que surgiu para… Não. Mark Zuckerberg criou sua rede justamente como uma brincadeira sexual. Foi em 2003, quando estudava em Harvard e desenvolveu o avô do Face de hoje, o Facemash. O programa colocava na tela duas fotos de meninas da universidade, uma ao lado da outra, e os estudantes votavam em qual era a mais bonita. Aí vinha outro par de fotos. E mais outro… Tosco. Mas ainda assim parecido com o que o Tinder faz hoje. Certas coisas nunca mudam… Só ficam mais eficientes.

Continua após a publicidade

O perigo é que a coisa esteja ficando eficiente demais. O jogo tradicional da conquista também serve para que os parceiros em potencial mostrem suas habilidades numa situação adversa – como o ambiente competitivo de uma balada, ou do campus da faculdade, ou do trabalho. Sem esse elemento, encontrar a pessoa certa para algo maior do que um relacionamento casual talvez fique é mais difícil. E isso não tem nada de eficiente.

* Pedro Burgos, jornalista, é autor de Conecte-se ao que Importa – Um Manual da Vida Digital Saudável (editora Leya).

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.