Supercidades
No século 21, o mundo terá 19 cidades com mais de 20 milhões de habitantes. A maneira como vamos viver daqui para a frente está sendo forjada nessas metrópoles gigantes
Texto Jeanne Callegari
As cidades estão crescendo. Em 2008, o número de pessoas vivendo nelas ultrapassou o de gente vivendo no campo, no mundo. E essa proporção deve aumentar: a cada ano, 1 milhão de habitantes da zona rural migram para áreas urbanas, em busca de oportunidades. Esse movimento não se distribui igualmente pelo globo, mas se concentra nas principais pontas desse processo de urbanização: as megacidades, metrópoles com mais de 10 milhões de habitantes. Algumas delas terão, em breve, mais de 20 milhões de pessoas: são as chamadas supercidades.
São lugares como Nova York, Londres, São Paulo. Em locais como esses, tudo é superlativo, exagerado. Eles concentram o que há de melhor em turismo, finanças, cultura. Atraem os melhores cérebros e os maiores investimentos. Mas também encaram desafios gigantescos, proporcionais a seu tamanho e importância. É o trânsito que não para de aumentar, o quebra-cabeça da distribuição de tudo, as montanhas de lixo geradas todos os dias.
Em um mundo globalizado, elas são o principal ponto de conexão entre pessoas e nações. Não visitamos mais Inglaterra, França ou EUA, mas Londres, Paris e Nova York. “[Essas cidades] são os motores de desenvolvimento de seu país e a porta de entrada para os recursos de sua região”, diz o relatório Index da Cidade Global, de 2008, realizado pelo Conselho de Chicago para Assuntos Globais em parceria com a revista Foreign Policy. “A história da globalização é a história da urbanização.”
O futurólogo Richard Saul Wurman, fundador do evento de ideias inovadoras TED, concorda. Para ele, as supercidades serão “pontos centrais que redefinirão radicalmente o cenário macroeconômico e cultural mundial”. Para estudar o fenômeno, ele criou o projeto 19.20.21, que analisará as 19 cidades com mais de 20 milhões de habitantes no século 21 – por isso o nome. Dessas 19, duas são brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Em 5 anos, o time deve coletar dados que serão divulgados por meio da web, da televisão, de seminários e revistas e livros. E o 19.20.21 não é o único plano tentando desvendar o futuro do urbanismo: a Fundação Megacidades, na Holanda, tem o mesmo propósito, assim como o Projeto Megacidades, uma organização americana sem fins lucrativos.
Tanto esforço para descobrir o que está rolando nas maiores cidades do mundo tem razão de ser. Afinal, como polos principais da globalização, tudo que acontece nelas influencia o resto do mundo. Elas terão, por exemplo, que tomar a dianteira nas medidas para promover a sustentabilidade. Se Londres toma uma medida para restringir o número de carros nas ruas (veja na página 42), São Paulo faz um aterro que transforma lixo em energia (veja na página 45) ou Paris implanta um sistema de aluguel de bicicletas (reportagem na página 43), o mundo estará de olho. Afinal, em 2050, dois terços da humanidade estarão morando em áreas urbanas – e a maneira como iremos fazer isso está sendo testada aqui e agora, nessas metrópoles globais.