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Por que políticos “brutos” são tão populares

Um especialista em personalidade garante que a evolução tem tudo a ver com isso – e nós explicamos usando Planeta dos Macacos

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 nov 2017, 13h16

Mapear a personalidade dos políticos usando o mundo animal é um exercício mental, no mínimo, intrigante. Existem psicólogos que defendem que, tal qual nossos genes, a evolução moldou o comportamento e a personalidade humana.

Seguindo essa linha, Dan McAdams, um dos grandes experts em psicologia e personalidade, resolveu investigar quais são as características que tornam líderes políticos mais populares – tudo isso, a partir de insights de colônias de chimpanzés. Ele chegou em dois estilos básicos de liderança, que ilustram dois tipos básicos de políticos: os que lideram pela força e os que lideram pelo prestígio. A partir dessas ideias, McAdams tenta explicar porque os políticos do primeiro tipo – os brutos – têm feito tanto sucesso ultimamente.

Aproveitando o tema e para deixar a coisa mais didática, vamos explicar as conclusões dele usando os filmes da franquia Planeta dos Macacos. Preparados, primatas?

Dominância social

A organização dos chimpanzés, como de muitos outros coletivos no mundo animal, dá poder aos machos com maior tamanho, força e extroversão. “O líder domina os demais com táticas de intimidação, blefe e agressividade”, diz McAdams. “Um mecanismo especialmente efetivo de dominância é a ‘exibição de comando'”.

Segundo o pesquisador, essa exibição se dá quando o líder surta, começa a gritar e zombar e a gesticular descontroladamente enquanto ele ataca outros machos próximos. As fêmeas e filhotes correm para se esconder, os machos se encolhem de medo.

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É exatamente o que acontece em uma das primeiras cenas de Planeta dos Macacos: A Origem, de 2011. Caesar, o macaco inteligente, vai parar em um abrigo – e a sua recepção por outro primata, Rocket, é idêntica à descrição de McAdams.

O legal de Planeta dos Macacos é que, conforme se tornam inteligentes, os chimpanzés vão seguindo o mesmo padrão de organização que nós, humanos, desenvolvemos.

A ideia de liderança por dominância – “a lei do mais forte” – dá lugar à liderança pelo prestígio.

Prestígio

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A liderança por prestígio é uma estratégia mais “recente” no nosso histórico evolutivo. Existe, segundo McAdams, há uns poucos milhões de anos, desde que a ideia de “cultura” surgiu nas sociedades humanas.

Os líderes ganham autoridade no grupo por demonstrar bom desempenho em atividades valorizadas. Em vez de vencer pela porrada, ele acaba escolhido pelo grupo por conseguir fazer coisas igualmente importantes para a sobrevivência na comunidade. Provavelmente, as primeiras lideranças por prestígio surgiram para quem caçava muito bem, fazia armas melhores e aprendeu mais rápido a cozinhar.

Depois, habilidades como negociar e fazer as pazes com outras tribos (o que economizava energia, se comparado a ter que matar todo mundo) e curar ferimentos ganharam importância ainda maior na hierarquia – e, até hoje, a medicina, o direito e os negócios são os pontos de partida da carreira da maior parte dos políticos.

Em Planeta dos Macacos, Caesar se torna o “macho alfa” do grupo por sua capacidade de estratégia – comprovada quando ele escapa do abrigo, rouba a substância-teste e torna todos os outros macacos inteligentes como ele. Ele não é o mais forte (lembrem da surra que ele tomou do Rocket no primeiro vídeo): sua liderança só surge quando ele ganha prestígio no grupo.

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Humanos: porrada e estratégia

Ao longo dos filmes da franquia, esses dois conceitos de liderança ficam em conflito, Caesar representando o prestígio e Koba, o macaco rebelde, querendo trazer de volta a hierarquia da força.

Mas Planeta dos Macacos só é um bom exemplo para explicar política porque – ao menos nesse aspecto – não é maniqueísta: a porrada não deixa de ser uma forma válida de manter a liderança e até o intelectual Caesar sabe a importância de uma demonstração de força.

Da mesma forma, líderes políticos humanos, segundo McAdams, costumam mostrar tanto liderança por dominância quanto por prestígio. Afinal, chimpanzés e humanos evoluíram de um mesmo ancestral, há meros milhões de anos. Segundo McAdams, ainda temos uma associação intuitiva, biologicamente inerente, entre força e status social.

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A ascensão dos bichos-homens brutos

Enquanto McAdams reconhece que os dois estilos de liderança são importantes para os políticos, ele se pergunta: porque hoje em dia estamos vendo a popularidade galopante de líderes que se sustentam só na base da dominância?

O exemplo máximo disso, para o pesquisador, é Donald Trump (apesar de ser bem fácil imaginar outros exemplos da política brasileira). As declarações incendiárias do presidente americano “são o equivalente humano à exibição de comando”, intimidando seus rivais e se fazendo notar por todos.

Outra característica comum entre chimpanzés e esse tipo de político são as alianças de curto prazo. Em vez de se cercar de acordos definidos pela expertise dos dois lados, são definidos acordos instáveis, inclusive com rivais, abandonadas imediatamente no momento em que deixam de ser vantajosas no curto prazo.

Mas em que ambiente essas lideranças se tornam mais interessantes que as dos líderes por prestígio? McAdams acredita que a resposta é o medo: em uma sociedade de caos, os líderes pela força mandam melhor.

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Os machos alfa dos chimpanzés  falam mais alto que todo mundo – e, por isso, são os únicos que conseguem ser ouvidos no meio do pandemônio. Como na cena com o Rocket, os rivais se escondem e os aliados, para serem vistos como tal, precisam demonstrar submissão.

Uma vez que o caos termina, existe um período de paz e ordem – e, depois de passar por tanto medo, frustração e impotência, é o único tipo de paz que parece atingível.

Qualquer semelhança com a política humana não é mera coincidência: o mundo do Planeta dos Macacos, afinal, sempre foi o nosso.

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