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Por que gostamos tanto de bater palmas?

Os macacos também fazem isso – mas o Homo sapiens transformou o aplauso numa complexa relação social de empolgação e imposição.

Por Eduardo Lima
24 Maio 2024, 19h00

O Festival de Cannes, um dos mais importantes eventos de cinema do mundo, termina neste sábado (25). Um costume curioso do festival francês são suas (extensas) palmas depois das estreias dos filmes mais esperados. Exemplo: Megalopolis, o filme que Francis Ford Coppola, diretor de O Poderoso Chefão, queria fazer há 40 anos, finalmente saiu do papel – e foi aplaudido por sete minutos.

As sessões de aplausos bizarramente longas são costumeiras do festival e sempre viram notícia. Não é exatamente um termômetro de qualidade: na hora dos créditos, uma câmera passa pelo rosto de cada um dos atores que estão ali para a estreia, cada um recebendo cerca de meio minuto de palmas. Se você quer um filme aplaudido, um bom caminho pode ser ter um elenco gigante.

Motel Destino, filme brasileiro do diretor Karim Aïnouz que foi para Cannes esse ano, recebeu 12 minutos de aplausos. Quando o cineasta mexicano Guillermo del Toro levou seu filme O Labirinto do Fauno para Cannes, a plateia estava empolgada: foram 22 minutos, um recorde para o festival.

Mas, afinal: por que é que a galera de Cannes, e humanos no geral, gostam tanto de bater palma?

Ritmo animal

Não temos registros dos primeiros aplausos da humanidade. Mas conseguimos saber que a noção de ritmo e a capacidade de bater palma já vem bem antes: um estudo mostrou que chimpanzés, que possuem um ancestral comum com os sapiens, gostam de dançar, aplaudir e bater na parede quando ouvem música.

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Os seres humanos provavelmente começaram a aplaudir bem cedo em sua história, como explica o psicólogo Alan Crawley em um ensaio onde ele revisa estudos sobre as palmas. Sem a língua falada, a percussão corporal pode ter sido usada para transmitir recados. “As palmas são, por excelência, o sinal não-vocal com o volume acústico mais alto”, explica o pesquisador. São perfeitas para chamar atenção.

Não dá para ter certeza do surgimento biológico do aplauso, mas pode ser que o impulso para bater palmas pode ter nascido de uma reação imediata e primitiva à empolgação, uma explosão de sentimento que nos compele a fazer barulho.

Mas, se as palmas provavelmente têm uma origem natural, como é que elas foram virar parte da etiqueta ocidental na hora de comemorar alguma coisa?

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Batendo palma por obrigação

Esse nosso instrumento de percussão embutido já era usado como sinal de aprovação há, pelo menos, 3 mil anos, em rituais religiosos para chamar a atenção dos deuses. A Bíblia cita as palmas sendo usadas como forma de adoração. Já no século 6 a.C., Clístenes, um dos pais da democracia ateniense na Grécia, transformou bater palmas num dever cívico, um jeito para as massas expressarem admiração e concordância com o líder.

A contribuição individual ao aplauso do público nesses casos tem menos a ver com opinião pessoal e mais com um comportamento coletivo do grupo, uma voz coletiva e anônima. As palmas podem ser democráticas, nivelando a todos num mesmo timbre.

Na Roma Antiga, o imperador Nero foi além. Não querendo passar vergonha na frente dos seus súditos, ele levava consigo uma trupe de 5 mil soldados, sempre prontos a aplaudir. Historicamente, o aplauso não foi só uma representação de sentimentos interiores, mas também uma atividade socialmente imposta.

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Podemos ser levados a aplaudir por um sinal visual, como em programas de auditório. Na maioria dos casos, a pressão social de uma massa batendo palmas em conjunto já é o suficiente para nos levar a seguir o comportamento esperado.

Um estudo de 2013 comprovou esse contágio social de empolgação, medindo o crescimento dos aplausos. Quanto mais pessoas aplaudindo, proporcionalmente mais pessoas vão querer se juntar ao grupo.

As palmas, então, propagam-se por puro efeito manada – um mecanismo evolutivo que faz com que nós, animais sociais, imitemos um movimento feito em massa. Afinal, se todo mundo está fazendo a mesma coisa, repeti-la pode garantir a sua sobrevivência. 

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Mas nem tudo é só imposição e convenção social: bater palma para um bom filme, como lá em Cannes, ou para o show de um artista que você ama, pode ser uma experiência comunitária de união e estreitamento dos laços sociais. Às vezes é só muito legal fazer bastante barulho em grupo, mesmo.

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