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Peixes-palhaço realmente são pais superprotetores

Esses animais são pais exemplares, dispostos a fazer de tudo pelos filhotes — e não só no cinema.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 dez 2017, 18h15 - Publicado em 9 Maio 2017, 13h36

Querer fugir das amarras de ter um pai superprotetor pode parecer um sentimento muito humano, mas é exatamente a história que dá base a Procurando Nemo. E a Pixar acertou em cheio: os machos de peixe-palhaço estão entre os pais mais apegados do mundo animal.

Um novo estudo com os Amphiprion ocellaris, nome científico dos Marlins e Nemos da vida real, investigou como os hormônios dão origem a esse comportamento tão distinto.

Isso porque o cuidado paterno que eles exibem é raro. Em muitas espécies, os machos são indiferentes aos próprios filhotes. E, na maioria delas, eles são hostis aos filhotes dos outros.

A mesma coisa acontece com peixes: ovas de um ninho estranho acabam virando caviar para um peixe macho. Mas não para o peixe-palhaço. Eles cuidam dos filhotes dos outros como se fossem seus. E a adoção também acontece com pais solteiros, que nunca cruzaram: basta ver um conjunto de ovas sem proteção que eles assumem a função paterna na hora.

Os cuidados são intensos. Eles ficam de guarda dentro das anêmonas, removendo qualquer sujeira que se aproxime dos pequenos. Os pais também batem as nadadeiras para garantir que a água ao redor dos ovos seja sempre tão rica em oxigênio quanto possível. A versão marítima do leite com pêra no berço de ouro.

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Tudo isso graças a um hormônio muito parecido com a oxitocina. Em humanos, ela é produzida durante o parto e no leite materno, ajudando a forjar a conexão entre a mãe e o bebê. É conhecida como hormônio do amor e da confiança.

Nos peixes-palhaço, é a isotocina que tem esse papel. O estudo, feito pela Universidade de Illionis em Urbana-Champaign, comprovou essa tese bloqueando o hormônio no corpo dos peixes. Rapidamente, eles pararam de cuidar dos filhotes.

Mas só a isotocina não é suficiente para explicar este comportamento curioso. Os pesquisadores analisaram também o papel da vasotocina, um hormônio parecido com a argenina vasopressina, que existe no corpo humano.

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O curioso é que, em humanos, a oxitocina é um hormônio tradicionalmente ligado à conexão emocional e maternidade. Já a vasopressina (também chamada de ADH), regula, entre outras coisas, a sua vontade de fazer xixi. Mas, em estudos com mamíferos, ela já foi associada à agressividade, dominância e competição sexual. Ou seja, o ADH tem tudo a ver com os “comportamentos de machão”.

Os cientistas, então, dividiram machos de peixe-palhaço em duplas. Uma delas teve sua produção de vasotocina bloqueada. A outra dupla produziu o hormônio normalmente.

Sem vasotocina, os peixes foram bem menos agressivos uns com os outros. Como se a necessidade de competir tivesse sumido. Isso já era esperado. Mas, quando eles foram colocados em anêmonas cheias de ovas, sua atenção se voltou imediatamente aos filhotes — e o cuidado foi ainda mais intenso que o normal. Mas esse carinho extra tem um custo: os pesquisadores acreditam que o hormônio que eles bloquearam regula o instinto de vigilância e proteção do ninho.

Dá para dizer, portanto, que o filme acertou em cheio ao mostrar os peixes-palhaços como pais superprotetores. Eles não apenas mimam os filhos, mas são quimicamente programados para associar esse cuidado intenso com uma vigilância constante contra ameaças. Com cuidado demais e proteção de menos, os Nemos correriam muito mais riscos — mesmo que não aparecesse nenhum Popozão nas redondezas para levá-los até P. Sherman, 42, Wallaby Way, Sydney.

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