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E se o rock não existisse?

Os jovens teriam outro jeito de se vestir, de encarar o sexo e de protestar. Aliás, chegariam à fase adulta sem saber o que era adolescência

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 mar 2023, 11h16 - Publicado em 24 fev 2014, 22h00

Menos jovens, menos rebeldes e mais virgens. Assim seria um mundo onde nunca houvesse surgido o rock’n’roll. “A maior contribuição do rock para a sociedade foi a libertação do corpo em todos os sentidos”, afirma Herom Vargas, professor de história da cultura da Universidade Metodista de São Paulo. “Estaríamos fadados a não fazer amor antes do casamento, a não nos rebelar contra padrões sociais preestabelecidos e enfrentaríamos barreiras até para experimentações estéticas corriqueiras, como usar calça jeans e fazer tatuagens.”

É possível que não existisse a adolescência como a conhecemos. Até a década de 1950, o esperado era que você passasse de criança para adulto mirim, sem escalas. Com os primeiros solos de Chuck Berry e Bill Haley e as primeiras reboladas de Elvis, ficou claro que uma revolução cultural estava em andamento. E ela afetava diretamente aqueles seres inclassificáveis que estavam na puberdade e queriam imitar os desajustados despojados que apareciam na TV e no cinema. Se nunca tivesse visto Elvis rebolando de jaqueta de couro, o jovem Erasmo Esteves seria um anônimo tijucano sem o sobrenome e talvez sem a amizade de Roberto Carlos, que insistiria em ser famoso com boleros e bossas-novas.

Também perderíamos uma forma de expressão importante. Conceitos como socialismo e anarquismo ficariam sem uma plataforma de divulgação competente para os jovens pouco afeitos à leitura de Karl Marx e Mikhail Bakunin, o que enfraqueceria as revoltas e manifestações populares. Como o professor Herom Vargas afirma, o rock trazia em si a noção estética da rebeldia. “A música desobedecia estéticas, com o ruído da guitarra e danças que punham os corpos a distância e cada vez mais soltos. Essas rebeldias se juntaram a todas as outras: sociais, políticas, ideológicas…” Os Sex Pistols não ironizariam a rainha da Inglaterra e o The Clash não lançaria luz sobre conflitos de esquerda na Nicarágua. Até as manifestações que tomaram o Brasil em junho de 2013 seriam comprometidas. Mayara Vivian, uma das porta-vozes do Movimento Passe Livre, afirmou em plena Câmara Municipal de São Paulo: “Eu não gosto de políticos. Eu gosto de Ramones.”

Seria mais difícil fazer sexo sem o empurrãozinho dos roqueiros. Assim como nossos bisavós, teríamos poucas chances de treinar nossas habilidades sexuais. A menos que se fizesse tudo às escondidas. Com seus refrões libertários e as curtas vidas loucas de gente como Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison (todos mortos aos 27 anos), o rock foi a pólvora que detonou a explosão da revolução sexual. Sem ele, o “amor livre” ainda estaria preso em algum celeiro do interior dos EUA.

Fontes: Herom Vargas, professor de história da cultura da Universidade Metodista de São Paulo; Waldenyr Caldas, professor de sociologia da cultura da USP.

Ilustração: Elias Silveira

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