O futuro da Apple
Como um pai ausente, mas de personalidade forte, Jobs deixa seu estilo pessoal marcado no DNA da companhia, que ainda vai continuar liderando revoluções no mundo da tecnologia
Alan Deutschman
Volta e meia, eu me pego fazendo a seguinte pergunta: como seria o nosso mundo se Steve Jobs não tivesse nascido? E se ele tivesse se tornado monge budista, como chegou a cogitar, e nunca fundasse a Apple nem se interessasse por tecnologia?
Algumas coisas não seriam assim tão diferentes. Se não fosse copiada por Jobs, a interface gráfica desenvolvida pela Xerox no centro de pesquisas de Palo Alto acabaria nas mãos de outro empresário – possivelmente Bill Gates, e o Windows teria sido lançado um pouco antes do que foi.
Talvez fosse um processo mais lento, mas a revolução que deixou os computadores acessíveis às pessoas comuns aconteceria de todo jeito. Quanto aos lançamentos dos últimos anos, ainda teríamos outros tocadores de MP3, celulares excepcionais e tablets no mercado. Só não seriam tão bonitos.
Mas esses são argumentos falaciosos. Steve Jobs não criou nada do zero sozinho. Mas ele tinha a capacidade de pensar a tecnologia fora dos padrões dos nerds, e é isso que faz dele um herói, um personagem quase mitológico. E que influenciou não só os gadgets que carregamos conosco ou os nossos computadores mas também nosso jeito de perceber o mundo.
Com o Macintosh, Jobs não criou apenas um computador diferente, fácil de usar como nenhum outro antes. Ele desenvolveu o produto necessário para concretizar sua visão de futuro: o empresário tinha certeza de que estava oferecendo às pessoas algo que rapidamente se tornaria fundamental.
Steve fez isso de novo com o iPod (e o iTunes), o iPhone e, por fim, o iPad. Nesse sentido, ele era uma espécie de profeta – com a enorme vantagem de que tinha a capacidade de transformar suas visões em realidade.
Não é todo dia que surge uma pessoa como ele. O que esperar, então, da Apple sem seu fundador? Será que ela vai voltar ao limbo em que caiu enquanto Jobs esteve fora? Bom, por pelo menos dois anos, quase nada vai mudar. Esse é o tempo de desenvolvimento dos produtos que ainda foram pensados por Jobs. A questão, portanto, é o que esperar da empresa a partir de 2013.
Alguns analistas influentes dizem que, sem Jobs, a Apple vai virar o que a Sony é hoje: uma empresa de ponta, com muita tradição, mas sem personalidade. Não acredito nisso. As marcas do fundador estão impressas no DNA da companhia.
Desde que voltou a liderar a Apple, Jobs trabalhou para construir um legado e conseguiu. Formou um time que se completa: Tim Cook é um mestre do gerenciamento do dia a dia, Jonathan Ive cuida das inovações no design, Scott Forstall cria softwares inovadores, Philip Schiller é um mestre do marketing e Eddie Cue lida bem com a internet. Somados, eles podem substituir o patrão.
Na verdade, já vêm exercendo esse papel há algum tempo. Muito se dizia, por exemplo, que Ive e Jobs dividiam um mesmo cérebro, tamanha a sintonia entre os dois. O futuro da Apple está no trabalho conjunto desses profissionais, formados pelo convívio diário com o gênio. Só em um quesito a empresa está definitivamente aleijada: na apresentação de produtos. Tim, o novo responsável por este trabalho, não tem uma fração sequer do carisma do ex-patrão. Mas quem tem? De toda forma, agora pouco importa. Tenho certeza de que a Apple vai continuar nos explicando o que vamos querer e pensar no futuro. Onde quer que esteja agora, Jobs ainda vai ter motivos para sorrir.
* Alan Deutschman é especializado em liderança empresarial e autor de The Secod Coming of Steve Jobs.