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O caso espetacular das curas espirituais

As cirurgias mediúnicas continuam desafiando a ciência. Fato ou alucinação? A SUPER investigou, e as respostas estão em nosso livro.

Por Alexandre de Santi
Atualizado em 26 abr 2023, 11h15 - Publicado em 17 dez 2015, 16h30

Luiz Carlos Nunes aguardava na fila de atendimento quando João de Deus o encarou e mandou que passasse à frente. Nunes foi orientado a sentar numa poltrona no centro da grande sala da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, interior de Goiás, a 117 quilômetros de Brasília. João de Deus, o mais procurado cirurgião espiritual em atividade no mundo, colocou um lençol branco sobre o dorso de Nunes como uma preparação para um corte de cabelo. Depois, acomodou um travesseiro nas suas costas, enquanto rasgava com desprezo uma embalagem onde estava envolto um bisturi, aparentemente novo. Estava com olhar perdido na plateia. Ao se aproximar de Nunes, João de Deus afastou os cabelos que encobriam um tumor cancerígeno diagnosticado três anos antes. Apertou o caroço localizado no canto superior direito da cabeça com os dedos e fez um corte horizontal de 2 centímetros. Por duas vezes, revira o bisturi no corte. Depois, o solta e aperta a fenda até sair um espesso líquido branco.

Um fio de sangue escorreu sobre o rosto de Nunes, respingando no manto branco. Como uma pinça, o médium remexeu de novo no corte até extrair o suposto tumor que levou Nunes de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, à Abadiânia. Com um chumaço de gaze, enxugou o sangue que brotava da fenda. Pressionou a gaze várias vezes sobre o corte de modo brusco. Nunes parecia estar num estado de semi-vigília. De olhos fechados, sua cabeça ia para trás e para frente como se tivesse caindo no sono na poltrona de casa.

João de Deus pegou uma nova gaze e começou a limpar a parte direita do rosto de Nunes. Logo abaixo do olho direito, havia um outro tumor cancerígeno. O médium rasga uma nova embalagem de bisturi, encara os presentes e se volta mais uma vez para o rosto de Nunes. Faz um corte na maçã do rosto e espreme o corte até extrair outro caroço, em uma operação que dura 30 segundos. Em seguida, assistentes de João de Deus erguem a cadeira onde Nunes estava sentado Nunes e o levam até a sala de enfermaria, contígua a grande sala de atendimentos. Era quinta-feira, 12 de outubro de 2000. “Senti apenas que estavam mexendo na minha cabeça, mas não dor”, lembra Nunes que, hoje, 15 anos depois não tem sequer a marca dos dois cortes.

O vídeo da cirurgia de Nunes foi gravado em VHS e está disponível no YouTube desde 2010. A cirurgia de 7 minutos pôs um fim ao tratamento contra um tumor na cabeça diagnosticado em abril de 1997. Nunes havia tentando se operar com médicos formados por duas vezes. Em ambas, foi mandado para casa com a explicação que a cirurgia não era uma boa alternativa. Além de perder os movimentos do rosto e a visão, uma operação não iria alterar seu prognóstico – que não era nada bom, 2 a 3 meses na melhor das hipóteses. “Os médicos diziam que o melhor que eu tinha a fazer era levar meu marido para casa. Para morrer em casa, eles queriam dizer”, diz Eraci, a esposa de Nunes.

Diante desse diagnóstico sombrio, o gaúcho Nunes recorreu ao médium. Tinha ouvido falar de João de Deus pela primeira vez um ano antes, quando um primo lhe contou sobre supostos milagres do cirurgião espiritual. Até então, Nunes estava familiarizado com a mediunidade como membro da Cavaleiro de São Jorge, uma fraternidade da Umbanda com influência do espiritismo de Allan Kardec. Mas não conhecia João de Deus pessoalmente. Naquela época, também estava precisando de ajuda. Tinha um problema intestinal grave cujo principal sintoma eram diarreias frequentes. A médica havia constatado a presença de um câncer no intestino e de divertículos (pequenas bolsas na parede do intestino grosso) e sugeriu uma cirurgia imediata. Nunes pediu um tempo e viajou a Abadiânia, em 18 de junho de 1996.

Quando foi atendido por João de Deus, a quem chama de “pai”, o radialista falou que estava com um câncer no intestino. “Ele me disse ‘Filho, dessa doença você está curado, mas não vai parar de vir a esta casa’”, contou. O pedido soou como uma ordem e, desde então, não houve um ano em que ele tenha deixado de ir à Casa Dom Inácio. Ele lembra que, antes de regressar a Campo Bom, cidade a 20 km de São Leopoldo (RS), a diarreia começou a diminuir e ele sentia-se melhor.

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Em casa, correu para a médica para fazer novos exames. Já na consulta, seu estado geral deixou a especialista espantada. “Eu disse que estava me sentindo bem e ela duvidou, me encarou com um olhar desconfiado”, lembra Nunes, sentado em uma poltrona ao lado de Eraci no pequeno apartamento de dois quartos em um condomínio simpático a 26 km de Porto Alegre. Apesar da fé no tratamento de João de Deus, Nunes queria saber se havia tido uma melhora real e aceitou se submeter à bateria de exames. Naquele dia, ficou das 14h às 20h no hospital fazendo um check-up completo.

Quando retornou para saber dos resultados, a médica estava de novo estupefata. “Ela disse que dava para ver claramente cortes suturados no intestino como se fossem de uma cirurgia”, contou Nunes. O radialista disse que não havia sido operado. Ela, então, o examinou meticulosamente atrás de cortes no abdômen. Não encontrou nada – nesta primeira sessão, João de Deus não usou bisturi, fez a chamada “cirurgia” sem corte, a mais utilizada pelo médium. As operações sem corte são, na verdade, sessões de reza e meditação com foco no problema do paciente. “Achei melhor não contar que havia ido à Abadiânia porque ela não ia acreditar”, confessou Nunes.

Nunes e Eraci se conheceram em uma viagem para Abadiânia, dois meses antes do segundo diagnóstico de câncer do radialista. Em 1996, Eraci havia ido pela primeira vez ao encontro de João de Deus na esperança de tratar as dores na coluna terríveis que só passavam com injeções de corticoides. Ao entrar na fila para atendimento, foi chamada pelo próprio médium para fazer parte da “corrente”. Na época, ela não fazia ideia do que se tratava. Depois soube que era um grupo de pessoas nas quais João de Deus identificava poderes mediúnicos e de concentração. Elas ficavam reunidas em uma segunda sala, contígua ao salão principal, onde são realizados os atendimentos. Além de ter se livrado da dor na coluna, Eraci conseguiu reverter um diagnóstico de leucemia, cujos sintomas desapareceram. Diante do histórico de sucesso de João de Deus na vida do casal, eles decidiram voltar em julho à Casa Dom Inácio juntos, depois que médicos tinham diagnosticado um novo tumor em Nunes, agora na cabeça.

Casos de pacientes como Eraci e Nunes, que sempre recorrem ao médium, são comuns em Abadiânia, onde João Teixeira de Faria, o João de Deus, fundou a casa de tratamento espiritual, hoje um sucesso mundial. Os estrangeiros, que representam 80% da sua clientela, o chamam de John of God. Nascido em 1942, o médium é um fazendeiro católico semi-analfabeto, pai de 11 filhos de mulheres diferentes. Quando atende às centenas de pessoas nas quartas, quintas e sextas, diz estar possuído por espíritos que têm o dom da cura. Seriam mais de 30 entidades que operam pelas suas mãos. Ou seja, João de Deus estava tecnicamente fora de si quando rasgou a cabeça de Nunes para extrair o primeiro tumor. Sua consciência, segundo ele, estaria dominada pelo cirurgião português Augusto de Almeida, morto em 1941, ou pelo próprio Ignácio de Loyola, santo do século 14 que dá nome à Casa. Hoje, Nunes é conhecido por lá como o “cyborg do Dr. Augusto”, em razão das inúmeras cirurgias que já fez com João de Deus.

Estima-se que João de Deus tenha “tratado” mais de 9 milhões de pessoas em seus 54 anos de atividade. Caçula de seis irmãos, ele nasceu em Itapaci, também interior de Goiás, em uma família de poucas posses. Largou os estudos quando cursava o equivalente à segunda série do Ensino Fundamental e nunca mais voltou aos bancos escolares. Aos nove anos, teve uma premonição. Estava com a mãe visitando parentes no município de Nova Ponte quando vislumbrou uma tempestade que arrasaria casas, entre elas a do seu irmão. A chuva veio e destruiu as casas, como João previra. Mas foi só aos 16 anos que ele decidiu procurar um centro espírita em Campo Grande. Ele conta que antes havia recebido a visita de Santa Rita de Cássia, de quem é devoto até hoje. Desde então, nunca mais parou. Fundou a Casa Dom Ignácio de Loyola, em 1976, e sua fama hoje é quase tão grande quanto a do seu mentor, Chico Xavier. O médium brasileiro, maior expoente do movimento espírita, insistiu que João de Deus resistisse às perseguições que sofreu antes da Constituição de 1988. Até então, a liberdade de credo não estava expressa na carta magna e a fiscalização sobre as cirurgias espirituais era mais rígida. Mas a nova Constituição deixou o controle mais brando, desde que, é claro, não seja confundida com prática ilegal da medicina ou piore a condição dos pacientes.

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Na sua longeva carreira, só houve um registro de morte. A austríaca Martha Raucher teve um infarto enquanto rezava o terço em um final de tarde em fevereiro de 2012, na Casa Dom Inácio. João de Deus não estava no local no momento. Além disso, a austríaca não havia sido submetida a cirurgias, e havia chegado ao Brasil já bastante debilitada, segundo testemunhas. O Ministério Público arquivou as denúncias contra o cirurgião espiritual por falta de provas. Até 2015, não havia nenhuma investigação em curso. A maioria das “cirurgias” são entre aspas mesmo – só na base da reza, sem contato físico. As outras, com incisão de facas e bisturis, são feitas somente em quem pede – e muitas vezes, João de Deus se recusa a fazê-las. Além de atender na Casa Dom Inácio, o médium viaja anualmente para os Estados Unidos, a Áustria e a Suíça para dar conta da fama internacional.

Eraci e Nunes levam centenas de pessoas em excursões mensais à Abadiânia. Mas não deixam de ir ao médico. “O pai (como chamam João de Deus) sempre reforça que não é para abandonar tratamento com seu médico”, diz Nunes. O tratamento em Abadiânia seria “complementar”.

Geralmente, quem procura João de Deus já foi desenganado pela medicina ou está há anos em tratamento sem grandes progressos. O médium não promete cura, mas proliferam relatos sobre seus milagres. Um dos mais famosos é o de Shirley MacLaine, responsável por divulgar o nome do médium no exterior. A atriz americana diz ter sido curada de um câncer no abdômen com a ajuda de João.

Cirurgia Espiritual 1

Em 2012, foi a vez de Oprah Winfrey visitar a Abadiânia e conhecer pessoalmente John of God. Chegou descrente, para gravar um programa de TV com o curandeiro. “Fui ao Brasil preparada para duvidar do que os meus olhos vissem”, disse na época. “Mas o corpo não mente. Quando João de Deus entrou na sala e fez sua primeira cirurgia, em uma mulher, ele me chamou para chegar mais perto. Fez uma incisão de uma polegada no seio dela. Pensei ‘Sim, é uma faca mesmo e, sim, é sangue pingando nas suas calças brancas’. Como isso pode estar acontecendo sem anestesia, sem ela sequer pestanejar?”, contou Oprah, diante das câmeras, para a sua plateia. A apresentadora desmaiou durante a sessão. Foi amparada por uma voluntária para recobrar os sentidos. Apesar do choque, alega ter sentido uma profunda e inexplicável sensação de paz e gratidão. Por essas, todo ano a pequena cidade goiana ganha novos moradores que desejam ser voluntários na Casa Dom Inácio. Estima-se que existam mais de 300 pessoas tenham largado tudo para viver próximas ao médium.

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Uma delas é o americano Matthew Ireland, nascido em Vermont, Colorado. Matthew ainda hoje passa temporadas na Casa para agradecer. Em 2003, ele desembarcou em Goiás com um gioblastoma estágio 4, o câncer cerebral mais agressivo encontrado em humanos. Tinha 27 anos e havia recém-terminado a faculdade. Ele havia recém gasto suas economias para comprar um camping nas montanhas do Colorado e dividia seu tempo com a administração do local e como técnico de um time de basquete de uma escola de Ensino Médio. Foi nesta época que começou a ter dores de cabeça terríveis. O primeiro diagnóstico foi enxaqueca. Só que os analgésicos fortíssimos receitados por um médico local não fizeram efeito algum. Matthew, então, foi submetido a uma tomografia. E o radiologista logo lhe avisou: “Há algo na sua cabeça que precisa ser retirado imediatamente. Nós não temos as condições de fazer essa cirurgia aqui, mas você precisa ser operado logo”.

O irmão de Matthew o levou às pressas para Denver, a 8 horas de carro de onde viviam. Chegando lá, soube que o diagnóstico era bem pior: um tumor maligno, localizado no centro do cérebro, em uma região inoperável. A única coisa que os cirurgiões podiam tentar era aliviar a pressão craniana e fazer um desvio para que os líquidos cerebrais, retidos por causa do tumor, fluíssem melhor. Horas depois da operação, ele estava cercado pela mãe, o irmão e três amigos de faculdade que largaram tudo para vê-lo. “Foi a primeira vez na minha vida que senti o quanto era amado”, contou Matthew a Kelly Turner, autora de Radical Remission (Remissão Radical, sem tradução no português), livro de casos de curas milagrosas.

Antes de receber alta e após uma segunda cirurgia que tornou permanente o desvio dos líquidos cerebrais, o médico chamou Matthew para decidir o tratamento. Na verdade, não havia muitas opções. A quimioterapia e a radioterapia conseguiriam, no máximo, diminuir o crescimento do tumor. Segundo seu oncologista, Matthew tinha 2% de chances de viver mais de um ano e meio. “Ele foi honesto e Deus o abençoe por isso. Meu médico salvou minha vida fazendo as cirurgias e sou eternamente grato por isso”, lembra. “Depois desses anos, percebi que ele havia feito tudo o que estava ao seu alcance. Só parou quando não sabia mais o que fazer – e aí algo muito maior me ajudou”, contou Matthew a Kelly.

O americano se mudou para a costa leste para ficar próximo da família. Havia tomado uma decisão séria: “Não vou morrer. Se só 2% dos que têm a minha doença sobrevivem, bom. Eu serei esses 2%”. Ainda assim, resolveu, apesar da pouca eficácia no seu caso, fazer radioterapia e quimioterapia. Duas semanas depois da primeira sessão das duas terapias combinadas, sentia-se péssimo com os inevitáveis efeitos colaterais. Havia perdido o apetite e o paladar. Um desânimo tomara conta do seu corpo.

Pior: não estava fazendo efeito. Uma tomografia constatou que o tumor seguia crescendo, embora de forma mais lenta. Foi então que um amigo sugeriu a Matthew que ele fosse ao Peru onde um xamã colecionava casos de cura inacreditáveis. Os amigos fizeram uma vaquinha e, em poucos dias, deram a Matthew a passagem de avião. Ele se preparava para ir à América do Sul quando recebeu um recado estranho. Uma das mulheres que também embarcaria na viagem recomendou que Matthew trocasse o itinerário. Sua intuição dizia que ele devia ver John of God, no Brasil. Após pesquisar sobre o médium na internet, Matthew achou estranha a forma do tratamento espiritual, mas uma coisa o surpreendeu. João de Deus não cobrava nada. “A ideia de alguém que não trata por dinheiro… Isso me convenceu que ele realmente queria curar pessoas”, disse.

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Matthew tentou trocar as passagens do Peru para o Brasil, mas não conseguiu. Decidiu, então, relaxar. Iria ao Peru e, na volta, tentaria uma escala no Brasil para ver João de Deus. Mas uma vizinha, que não o conhecia direito, soube do caso e lhe ofereceu dinheiro para a passagem. Ela própria havia tratado um câncer de mama com o médium brasileiro, e se dizia curada.

Matthew aceitou e embarcou a Goiás na semana seguinte. Ele não era religioso, nunca frequentara igrejas e tampouco sentia-se atraído por doutrinas rígidas. Mas, na primeira noite em Abadiânia, percebeu uma intensa luz no banheiro do quarto de hotel. Pensou ser a luz acesa, mas não era. Ele via e sentia a presença luminosa de alguém entrando no quarto e colocando a mão sobre sua cabeça. Uma sensação de êxtase percorreu seu corpo. “Foi a coisa mais intensa que senti na vida. E, naquela época, eu não sabia, mas era amor. É isso que é o amor. E isso é Deus”, contou na época.

Na manhã seguinte, Matthew vestiu-se de branco, cumprindo a única exigência requisitada aos visitantes da Casa – os espíritas acreditam que as entidades captam o campo energético de forma mais rápida quando o paciente está em coberto por vestes alvas. O americano dirigiu-se à fila de 500 pessoas que esperavam para ver João de Deus. As centenas de pessoas, concentradas, andavam a passos curtos até duas grandes salas de meditação. O médium ficava no centro da maior delas, cercado de ajudantes, entre eles intérpretes que traduzem os pedidos de estrangeiros. Quando chegou a sua vez, Matthew disse, em poucas palavras: “Eu gostaria de ficar curado do meu câncer cerebral.” João de Deus o encarou por um momento e disse: “Primeiro, comece a tomar passiflora (uma espécie de remédio natural feito na farmácia local) todos os dias e medite diariamente nesta sala.” Nos três dias da semana em que João fazia seus atendimentos, Matthew ia para a sala meditar. Ele planejava ficar um mês em Abadiânia, meditando todos os dias.

Em uma das sessões, Matthew sentiu uma mão tocar a sua e levá-la até a sua cabeça. Ele deixou a mão repousar, mas foi baixando-a aos poucos. O estranho pegou de novo a mão de Matthew e, desta vez, pressionou-a por mais tempo. Matthew entendeu o recado. Deixou sua mão repousar bem na região do tumor e, segundos depois, sentiu uma energia percorrer todo o seu corpo, como da primeira vez no hotel. Horas após, ao sair do transe, olhou para a pessoa ao lado e agradeceu. “Como você sabia que eu tenho um tumor cerebral e levou a minha mão à cabeça?”, perguntou. O desconhecido não sabia de nada. Atribuiu aos “espíritos” a ação.

Dos pacientes que procuram a Casa, muitos ficam apenas alguns dias. Outros, como o americano, permanecem por longos períodos ou fazem visitas regulares por recomendação expressa de João de Deus. Matthew sentia falta da família e dos amigos, sentia-se um fardo por estar sendo sustentado pelos pais, mas aquela era sua única alternativa. Depois de um mês de meditação e passiflora, o médium o chamou para a primeira cirurgia espiritual sem cortes. O americano ficou na sala de meditação com outras pessoas recebendo aquilo que os presentes acreditam ser uma “corrente energética poderosa” de João de Deus. O procedimento é chamado de cirurgia porque, segundo os crentes, os espíritos que encarnam no médium lançam mão de métodos análogos ao de uma operação de hospital, mas trabalham apenas sobre a “energia” dos pacientes. Cortam, desbloqueiam ou reparam o “fluxo energético” dos doentes – tudo à distância.

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Nas poucas interações que teve com o médium brasileiro, Matthew notou algo curioso. João de Deus nunca chamara sua doença de “câncer”. Uma vez apenas disse que ele tinha “algo poderoso na cabeça”. Em um das sessões de meditação, João de Deus colocou suas mãos na cabeça de Matthew, e ele sentiu novamente uma energia intensa percorrer seu corpo. Já haviam se passado mais de três meses da sua chegada ao Brasil e o visto de turista de Matthew estava expirado. Ele voltou aos EUA e sua família ficou surpresa ao vê-lo tão bem. Eles não hesitaram em pagar a passagem para Matthew voltar. Ele foi e voltou dos Estados Unidos ao Brasil durante um ano inteiro.

Quando retornou à terra natal, depois de um ano longe de casa, seus médicos pediram para vê-lo. Matthew não queria fazer a ressonância. Tinha medo que o tumor estivesse maior e que isso acabasse com a sua fé e a da sua família. Ele adiou a data do exame por mais um ano até se sentir pronto. O resultado que receberia lhe deu uma injeção de fé. O tumor ainda estava lá, mas tinha diminuído consideravelmente. Uma das amigas de Matthew, que era médica, viu o exame e lhe telefonou. “Ela me disse para continuar fazendo o que eu estava fazendo, não importasse o que fosse”, lembra. Ele voltou à Abadiânia e à sua terapia de meditação e passiflora.

No retorno à Casa Dom Ignácio, Matthew conheceu uma brasileira que havia ido em busca de conforto emocional. Ela acabara de perder seu irmão de câncer e ainda chorava a morte do pai anos antes, vítima do mesmo tipo de tumor de Matthew. Eles sentiram uma forte e estranha conexão. Neste período, Matthew quis se submeter à cirurgia com cortes. Estava disposto a fazer o tratamento heterodoxo completo. Mas, quando chegou diante de João de Deus, ouviu em tom enfático: “Você precisa de um tratamento espiritual e eu preciso que você volte para lá (à sala de meditação).” Matthew obedeceu e, durante um ano, meditou, fez cirurgias espirituais e namorou com a brasileira, que pouco mais tarde se tornaria sua mulher.

Quase dois anos depois de sua primeira ida à Casa Dom Ignácio, durante a sessão usual de meditação, João de Deus se aproximou de Matthew. Pegou sua mão e o levantou do chão. Levou Matthew junto com ele até o meio da tradicional sala de meditação e ordenou, com a ajuda de um intérprete: “Agora, encare essas pessoas e diga exatamente o que o trouxe aqui dois anos atrás e o que exatamente você não tem mais.” Era a primeira vez que João de Deus falava algo parecido.

Matthew relatou sua história em detalhes. Contou que a medicina considerava seu câncer incurável e inoperável, que recebera um prognóstico terrível de que teria, no máximo, dois anos de vida. Mas que ele estava há dois anos em tratamento com João de Deus e não sentira qualquer dor nesse período. “Foi o melhor dia da minha vida”, lembra. João de Deus pediu que Matthew voltasse logo aos EUA para fazer uma ressonância magnética e trouxesse como prova de que o tumor havia realmente sumido. “Isso vai ser muito importante para muitas pessoas no futuro”, disse o médium. Matthew obedeceu. Voltou aos EUA com a mulher, fez o exame e não havia mais sinal do tumor. “Foi um milagre”, disse. A cura de Matthew Ireland é considerada a mais impressionante do currículo do médium brasileiro.

Como explicar esses supostos poderes sobrenaturais? Até há pouco tempo, tudo era um grande mistério, ou pura questão de fé. Mas a ciência já começa a elucidar a verdade por trás das cirurgias mediúnicas. Para saber, leia o lançamento mais recente da SUPER, o livro Cura Espiritual – Uma Investigação, de onde extraímos o texto que você acabou de ler. Já nas bancas e livrarias de todo o país.

Cura espiritual sem legenda

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