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Estatística ou numerologia?

Talvez eles não mintam. Mas enganam. Os números passam por diversos filtros humanos passíveis de erro, imprecisão e subjetividade. Saiba como eles podem ludibriar você

Por Bruno Romani
11 Maio 2012, 22h00 • Atualizado em 31 out 2016, 18h52
  • MÉDIA FORA DO MEIO
    Um dos caminhos mais eficazes para contar meias-verdades com números é usar a média aritmética simples. A fórmula você já conhece. Eu tenho 1 real. Você tem 3. Dividimos por nós dois e nossa média são 2 reais. Nada mais correto. Mas veja como isso pode alterar o impacto da informação. Em uma fábrica, os 90 operários ganham mil reais, os 9 executivos recebem 10 mil e o presidente embolsa um milhão. A média salarial é 11 800 reais, valor muito acima de 90% da fábrica. Uma alternativa à média é a “moda” – nome estatístico para o valor mais frequente num conjunto de valores. Porém, mil reais estão muito abaixo do que ganha a diretoria e o patrão. Conclusão: dá para enfatizar o que quiser e distorcer a realidade sem deixar de falar a verdade. Basta escolher o método mais conveniente para tornar um conjunto de números um único valor.

    APRESENTAÇÃO
    Mesmo que os métodos para a coleta de dados sejam os melhores possíveis e que as intenções da pesquisa sejam das mais nobres, a organização e a apresentação desses dados podem alterar a percepção dos fatos. Em More Damned Lies and Statistics, o professor de sociologia da Universidade de Delaware Joel Best cita uma pesquisa segundo a qual 30% dos jovens americanos diziam ter envolvimento “moderado ou frequente” com bullying. Best achou a porcentagem estranha e decidiu investigar como o estudo chegou a ela. E descobriu que o dado abarcava tanto agressores quanto vítimas e que “moderado” significava episódios ocasionais no trimestre, distanciados por mais de uma semana. Já o dado que realmente preocupa pais e educadores – o de vítimas frequentes, que sofrem semanalmente – foi de 8,4%. Só que apresentar essa porcentagem causaria menos impacto.

    PERCENTAGENS ESCORREGADIAS
    Suponha que, entre 1980 e 1990, a bolsa de valores tenha caído 50% e que tenha crescido 95% entre 1990 e 2000. Parece uma boa retomada, mas quando traduzimos em valores absolutos… Suponha que o índice da bolsa fosse de mil pontos em 1980. Ele teria chegado em 1990 a 500 pontos. Com a alta da década seguinte, o índice foi para 975, pois 95% de 500 são 475. Ou seja, em 20 anos o investidor teve prejuízo, embora a alta de 95% sugira um resultado melhor do que esse.

    O INCONTÁVEL
    Antes de que um assunto seja traduzido em estatísticas, é preciso que alguém faça a contagem daquilo que se deseja transformar em números. O problema é que nem sempre o que se quer contar é simples e objetivo. Alguns assuntos são tão complexos que não dá para contar. Pense sobre o questionamento de cor de pele no censo demográfico. Em um país de tamanha miscigenação como o Brasil, declarar-se branco, preto, amarelo, pardo ou indígena traz uma simplificação da realidade. É impossível saber o que leva cada pessoa a se colocar em uma categoria e não em outra. Por isso, o resultado é flutuante, e a verdade vira produto da subjetividade de quem responde à pesquisa.

    NÚMEROS-LENDA
    Ninguém sabe de onde tais dados vêm, mas, ao longo do tempo, viram verdade absoluta na voz do povo. Um exemplo aparece quando se fala sobre quanto o dna humano tem em comum com o do chimpanzé. Uns dizem que são 96%. Outros 90%, 98%, 99%, 99,3% ou 99,4%. Falta consenso, mas citar qualquer número já confere conhecimento.

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    FONTE: Damned Lies and Statistics, Joel Best.

     

     

    Desinfográficos
    Gráficos ajudam a compreender numa só olhada dados abstratos e chatos. Mas com esse poder vem uma grande responsabilidade: a forma como é apresentado altera totalmente a leitura da informação.

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    • Para enfatizar a diferença entre uma série de números, é comum cortar a base do gráfico. O problema é que, com isso, a proporção vai para as cucuias. Para quem lê o gráfico 2, a informação parece mais palpitante.

    • A intenção era economizar espaço, e o resultado foi desastroso. Ao colocar uma escala diferente para cada gráfico, tem-se a impressão de que meninas são sexualmente mais ativas que meninos.

    • Em 50 anos, a proporção de mães adolescentes caiu e a de adolescentes solteiras subiu nos EUA. Isso parece indicar uma emancipação feminina. Mas esse gráfico esconde um detalhe. Enquanto os nascimentos se estabilizaram em 1975, o número de adolescentes solteiras aumentou – e com ele o de mães solteiras. Assim, dois dados positivos esconderam uma informação negativa.

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