É verdade que cachorros sofrem quando os donos se separam?
Com frequência, eles agem de forma estranha depois do término. Mas, para especialistas, a reação é mais complexa que o simples luto pelo relacionamento.
Um término de relacionamento é sempre difícil para todos os envolvidos. Mas, graças à geração que já tem mais cães que filhos, surgiu uma nova preocupação: como explicar ao cachorro que mamãe e papai não se amam mais?
Brincadeiras à parte, cãezinhos podem, sim, ficar bastante estranhos depois de um término. Comportamentos comuns são aumento de agressividade ou então o contrário: o bicho fica estranhamente quieto e introspectivo.
É comum que essa mudança seja associada a um processo de luto do cachorro pelo término – e, principalmente, saudade de um dos membros do casal que saiu da casa. É uma perspectiva bastante humana – e até, de certa forma, verdadeira –, mas a reação do cão tende a ser mais complexa que isso.
Em entrevista à New York Magazine, a cientista Angie Johnson, da Universidade Yale, detalhou o que passa na mente de um cachorro depois de um término – e como os humanos podem ajudar no “processo”.
Em primeiro lugar, é importante saber que bicho sofre por motivos totalmente diferentes dos seus. Enquanto, depois de um pé na bunda, os humanos ouvem Marília Mendonça e choram sabendo que o/a ex nunca mais vai voltar, o cão não tem noção do caráter definitivo dessas coisas.
Aos poucos, ele percebe que a pessoa não está mais por perto com tanta frequência, mas, de certa forma, ainda espera que ela apareça eventualmente. Não vai compreender que nunca mais um dos donos vai voltar.
Dentro dessa doce ignorância, o que ele sente mesmo é a mudança na rotina e no ambiente, segundo Johnson. O cheiro muda, as coisas mudam de lugar e roupas e objetos “somem”. Como o animal usa esses fatores como ponto de referência, pode ficar confuso e agitado. São essas reações à perda de um ambiente conhecido e seguro que interpretamos como tristeza ou saudade.
A mudança no “clima” da casa também pode afetar o cão: primeiro porque, antes do término, o estresse e as brigas geralmente aumentam. Depois, o choro é que fica frequente. Sendo um bicho social, ele percebe e acaba estressado também.
Por fim, a parte mais fofa de tudo isso é que o bicho também estranha a tristeza do dono. Isso pode levá-lo a tentar chamar a atenção do humano com brincadeiras e tentativas de conforto, mas o conjunto da obra pode desestabilizar seu pet. Esse desequilíbrio é que explica os comportamentos bem diferentes da personalidade normal do cachorro.
A boa notícia é que, conforme as lágrimas secam e as coisas vão voltando ao normal, uma nova rotina é criada. O cão volta a se sentir seguro, independente do antigo morador da casa reaparecer ou não. Dá para dizer que, no fim das contas, o cachorro acaba de certa forma tomando partido na separação – geralmente o de quem fica com ele.