Henrique Ribeiro
Para começo de conversa, uma bomba atômica na América do Sul reacenderia brigas do passado. “A região parece pacata porque nenhum país possui um grande arsenal. Quando algum tiver a bomba, todos os outros passarão a investir em programas nucleares para se proteger”, diz o sociólogo Demétrio Magnoli. O resultado seria uma corrida armamentista, liderada por Brasil e Argentina, em todo o subcontinente. Uma espécie de Guerra Fria terceiro-mundista.
E essa ainda não é a pior notícia. Em 1970, o Brasil assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, se comprometendo a não desenvolver pesquisas nucleares com fins bélicos. Com exceção de Israel, todas as nações que desrespeitaram o trato foram punidas (principalmente por EUA e Europa, mais preocupados em manter o seu poder). Índia e Paquistão tiveram parcerias, financiamentos e vendas de armas cancelados. Irã e Coreia do Norte sofreram corte de empréstimos, bloqueio de exportações e importações e ainda ganharam, junto com o colega Iraque, o apelido de Eixo do Mal.
Com o Brasil, talvez o embargo não fosse tão intenso. “Mas haveria retaliações”, diz Paulo Almeida, professor de política da PUC-SP. O distanciamento dos nossos principais parceiros econômicos afetaria todo o comércio internacional brasileiro. A saída seria apoiar-se na China, que não costuma adotar posições extremistas em sua política internacional.
A importância da nossa relação com o Oriente seria proporcional ao autoritarismo do governo. Como se sabe, EUA e Europa são terminantemente contra ditaduras. E não haveria outra forma de bancar uma iniciativa como essa.
Com a economia estagnada, viajar ao exterior e ter um quarto só seu voltariam a ser um sonho
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Para sustentar a impopularidade de uma medida como essa, o Brasil tenderia ao autoritarismo. A censura voltaria ao cotidiano dos veículos de comunicação (algo parecido com o que acontece hoje na China).
Ardidas e Mike
Com a estagnação econômica e a diminuição da oferta de produtos gringos, a pirataria e o mercado negro viveriam um boom em seus negócios. A procura por roupas, filmes e quaisquer outros bens de consumo que levem uma marca seria ainda maior do que já é.
Made in China
Uma das principais retaliações seria no campo dos produtos eletrônicos. Televisões, dvds e celulares americanos se tornariam raridade nas lojas – que, em compensação, ofereceriam um vasto catálogo de produtos chineses.
Quarto compartilhado
A perda de aliados do calibre dos EUA e da União Europeia funcionaria como um freio ao crescimento da economia brasileira. O país deixaria de atrair investimentos diretos e, com isso, o nível de renda da população média deixaria de crescer.
O sonho acabou
Considerados inimigos por metade do mundo, obter vistos de entrada nos principais destinos turísticos internacionais seria um drama para os brasileiros. Viajar à Disney ou passar a lua-de-mel em Paris voltaria a ser um sonho.
Juventude transviada
A aproximação política entre Brasil, Irã e Coreia do Norte favoreceria o intercâmbio cultural entre esses países. Teerã e Pyongyang poderiam se tornar adeptos do carnaval de rua e você estaria desesperado pelo lançamento dos novos cds de Mansour e Kim Kwang Suk.
Agradecimentos Magazine Luiza e Procópio Sports
Fontes Aquilino Senra, professor do Departamento de Pesquisas Nucleares da UFRJ; Demétrio Magnoli, sociólogo; Marcos Fernandes, coordenador do Centro de Estudos e Processos de Decisão da FGV; Paulo Edgar Almeida, professor de política da PUC-SP; Pedro Furnari, professor de história da Unicamp.