Califórnia deve tornar a maconha tão legalizada quanto chocolate
Liberação do uso recreativo no Estado mais rico do planeta pode tornar a maconha legal no mundo todo, em pouco tempo.
No dia em que todas as atenções do mundo se voltam para a disputa entre Hillary Clinton e Donald Trump pela casa Branca, outra eleição ferrenha promete mudar os rumos da história. Nesta terça-feira, os eleitores da Califórnia também podem decidir se a maconha deve ser legalizada ou não no estado mais rico dos EUA. As últimas pesquisas indicam que a proposta 64 – que regulamenta a produção e a venda da droga para uso recreativo – vai ser aprovada com alguma vantagem. Se isso se confirmar, o movimento pela legalização da maconha vai ganhar um fôlego e tanto.
>Nos EUA, a “onda verde” já está crescendo exponencialmente, pelo menos a julgar pelo avanços dos últimos plebiscitos. Em 2012, Colorado e Washington legalizaram. Em 2014, foi a vez de Alaska e Oregon. Em 2016, além da Califórnia, outros quatros Estados tentam abrir o comércio de maconha: Arizona, Maine, Massachusetts e Nevada. Com os cinco plebiscitos aprovados – e essa chance existe – o número de estados americanos com a droga legalizada pularia de 4 para 9, do dia para a noite. E um em cada quatro americanos passaria a viver num estado em que se pode comprar cannabis na lojinha, como álcool ou cigarro.
A Califórnia sozinha, no entanto, é suficiente para causar uma saia cada vez mais justa para o governo dos EUA. É o Estado mais populoso e rico o país. Para se ter uma ideia, se a Califórnia fosse um país, ela seria a quinta maior economia do mundo à frente do Brasil e da França. Logo, não surpreende que as estimativas de faturamento para o mercado local de cannabis sejam igualmente impressionantes. A consultoria Arcview, que conecta investidores ao mercado legal de cannabis, estima que as vendas com maconha para uso medicinal e recreativo cheguem a US$ 22 bilhões em quatro anos, se a legalização passar. Seria um mercado maior que o do famoso vinho californiano, por exemplo.
Fora o faturamento, o Estado ainda iria economizar uma baita grana com polícia e penitenciárias. A Califórnia, que ainda prende pessoas por uso e tráfico de maconha, tem uma das maiores populações carcerárias dos EUA (que por sua vez tem a maior do mundo). Essa despesa com cama, comida e roupa lavada para presos é uma pedra no sapato do Estado há anos. Durante o governo do exterminador Arnold Schwarzenegger, eles chegaram a prender pessoas em ginásios, por falta de espaço. E os crimes de drogas são um dos principais motivos de encarceramento do Estado, como na maioria dos países do continente americano.
Se o exemplo do Colorado e de Washington foram suficientes para incentivar outros 9 plebiscitos em 4 anos (dois foram submetidos mas reprovados em 2014), imagine os outros Estados americanos vendo a Califórnia faturar alto com a maconha. E pode imaginar uma influência muito maior, porque além do fator econômico, tem o fator cultural. Afinal, você nunca ouvir o Lulu Santos cantar “Garota eu vou pro Colorado”, certo?
Além de uma potência econômica, a Califórnia é influente não apenas nos EUA. Sozinha, mexe com o mundo inteiro. A Califórnia é Hollywood. É Los Angeles e São Francisco. É a terra do cinema, do surf, do skate, do velho oeste. E até da maconha. Foi por lá , nos anos 70, que inventaram o Skunk, variedade mais famosa da planta no mundo. Foi na Califórnia, também, que passou a primeira lei de maconha medicinal dos EUA, há exatos 20 anos. Desde então, metade dos Estados americanos seguiu a tendência e aprovou leis semelhantes. A pergunta não é tanto se eles vão seguir a onda californiana e legalizar o uso recreativo também. Seria mais adequado perguntar quando.
Vale dizer que, pela lei federal, a maconha continua proibida. Mas uma espécie de acordo de cavalheiros existente entre os americanos, os Estados têm autonomia para legislar sobre qualquer tema, eventualmente contrariando a normal federal. Mas a maioria da população americana já defende a legalização. Na última pesquisa do Gallup, as pessoas a favor representavam 58% amostra – a mesma fração dos eleitores na Califórnia. Conforme novos Estados ganham dinheiro com esse mercado legalizado, fica cada vez mais difícil para o congresso manter esse status quo. E é aí que a história pode mudar mesmo. Porque quando os EUA terminarem sua proibição da maconha, não vai faltar países seguindo a tendência, a começar pelo nosso.