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Se todo mundo fizesse duas semanas de quarentena, o resfriado seria erradicado?

Na teoria, faz sentido. Na prática, é impossível tirar esse plano do papel.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 set 2024, 18h00

Há uma chance remota de que sim. Mas pôr o plano em prática é impossível. O físico-cartunista Randall Munroe – autor de um livro intitulado E se? em que ele simula cenários absurdos com uma ajudinha de equações – explica o desafio. 

O primeiro passo é manter todas as pessoas do mundo à maior distância possível umas das outras. Considerando a área total dos continentes e dividindo pelos 7,5 bilhões de cidadãos da Terra, temos que cada um de nós ficaria a 77 m de distância do humano mais próximo. 

Meus pêsames para quem ficar com o Saara, a Sibéria ou a Amazônia. Apenas algo entre 0,6% e 3% da terra firme é coberta por cidades. Todo o resto é natureza ou agropecuária, e a maioria de nós não sobreviveria nesses locais. Para não falar na tarefa hercúlea de transportar todo mundo até o local exato de seu isolamento.

O próximo passo é dividir igualmente todo o estoque de comida do mundo. Até produzimos alimento suficiente para sustentar essa gente toda, mas a existência de tantos famintos em países pobres mostra que nosso problema não é quantidade, e sim distribuição.

Além disso, grande parte do rango estaria na forma de grãos como trigo ou soja. Boa sorte transformando-os em algo comestível sem uma ajudinha da indústria (lembre-se: não haverá “trabalhadores essenciais” como na covid-19. Todo mundo para). 

Os problemas estão só começando: embora pessoas com sistemas imunológicos saudáveis eliminem o vírus do resfriado em cerca de dez dias, os imunocomprometidos podem passar muito mais tempo com o dito-cujo no corpo.

Já pensou identificar e isolar por um tempo extra indeterminado todo mundo que tem algum problema com seus glóbulos brancos? Pois é. Basta uma única pessoa escapar da vigilância para o vírus voltar a se espalhar. 

Em suma: esse isolamento social hipotético é utópico em muitos aspectos (como democratizar completamente o acesso a alimento) e distópico em tantos outros (o grau de autoritarismo necessário para pôr o plano em prática é digno de Stálin em um dia inspirado). É bem mais fácil aguentar espirros e ranho por alguns dias.

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