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Por que os portugueses se concentraram mais em colonizar a América que a África?

Não é bem assim: a África tem diversos países falantes de português. Mas é inegável que Portugal, no século 16, tinha interesses diferentes em cada continente.

Por Bruno Carbinatto
20 abr 2020, 17h10

Não é bem assim: Portugal também teve uma extensa e marcante presença na África. Tanto que, até hoje, vários países do continente adotam o português como língua oficial: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial. Acontece que a colonização da África só se intensificou a partir do século 19, bem depois dos processos de colonização das Américas, que começaram lá no século 16. 

Na época em que o Brasil era uma colônia – centenas de anos antes do continente africano virar alvo das potências industriais –, Portugal já se destacava por lá: era a única nação europeia a ter papel colonizador, ainda que restrito, em regiões da atual Angola e do atual Moçambique, além de dominar arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé. Outros países europeus, como França, Inglaterra e Holanda, mantinham apenas entrepostos comerciais na costa da África.

Há alguns fatores que explicam porque a colonização da África não foi simultânea à da América. “A face atlântica do continente africano abrigava algumas sociedades centenárias quando os portugueses chegaram, no final do século 15 e início do 16”, explica Marina de Mello e Souza, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Nesse contexto, era vantajoso para os países europeus manter boas relações de comércio com essas nações, e não tentar assumir o comando político. “Já nas Américas, os interesses de Espanha e Portugal foram primeiro explorar diretamente as riquezas minerais; depois, as potencialidades agrícolas. Para isso, esses reinos ocuparam o continente e dizimaram a população nativa, implantando novas formas de organização social.

Outra característica que impediu a colonização da África passa uma sensação estranhamente atual: as epidemias. Lembra daquela história de que os europeus trouxeram diversas doenças para as Américas na época da colonização, dizimindo as populações nativas que não tinham anticorpos contra os patógenos?

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Então, isso também acontecia na África, mas ao contrário: algumas doenças no continente eram novas e fatais para os europeus. “Portanto, mesmo quando havia interesse econômico em ocupar o continente, como no caso dos portugueses em Luanda e na região de Moçambique, isso era dificultado pelas doenças”, explica a professora.

A partir de 1890, o cenário muda e África vira o novo palco das disputas de potências europeias. Portugal, que já não tinha mais domínio sobre o Brasil, não ficou para trás. “Nessa época, os interesses do nascente capitalismo industrial eram outros: não mais a obtenção de mão de obra barata na forma de escravizados direcionados para a América, mas em mercados fornecedores de matérias-primas e consumidores de produtos industrializados”, explica Marina de Mello e Souza.

Nesse cenário, Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Portugal passam a ter uma atuação mais abrangente no continente e disputam territórios para explorar. Não que as doenças tenham ido embora, é claro: mas quando é dinheiro que está em jogo, não há malária que segure um inglês de cartola. 

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Pergunta de @andressa.llopes, via Instagram.

 

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