Por que a região Nordeste tem tantos estados pequenininhos?
Trata-se de uma herança das capitanias hereditárias – um pedacinho de história profunda do Brasil que provavelmente lhe rendeu algum tédio no colégio.
Os territórios estreitos empilhados como livros ao longo do litoral do Nordeste remetem, em última instância, às faixas de território compridas que Portugal concedeu a um grupo seleto de colonizadores no século 16 – as capitanias hereditárias.
O Rio Grande do Norte era a Capitania do Rio Grande, a Paraíba foi a Capitania de Itamaracá, e Pernambuco já se chamava Pernambuco ou Nova Lusitânia. Esses três futuros estados ficavam ao norte das Capitanias da Bahia, de Ilhéus e de Porto Seguro – que depois acabariam unidas na imensa Bahia, em vez de formar três faixas separadas.
Todas as capitanias, em tese, iam do litoral até a linha do Tratado de Tordesilhas, que passava sobre o Tocantins atual. Na prática, não era tão fácil penetrar no território rumo a oeste, e o controle efetivo sobre as terras frequentemente terminava bem antes.
Alagoas, originalmente, era o sul da capitania pernambucana, e se tornou independente em 1817, como uma punição de D. João VI a um movimento republicano, a Revolução dos Padres. Já Sergipe foi um desmembramento da Bahia. Vale dizer que Pernambuco já controlou, em certo ponto do passado, todo o atual oeste da Bahia.
O Espirito Santo é um outro exemplo de ex-capitania que preserva mais ou menos as fronteiras da era colonial. Nas faixas de litoral mais próximas do sul do pais, a extensão das capitanias na latitude ia aumentando para compensar seu tamanho decrescente na longitude.
Com o tempo, os cortes retinhos no mapa foram se adaptando à realidade irregular das fronteiras na prática, e algumas subdivisões – que depois passariam a ser chamadas de províncias – comeram faixas imensas de território. A capitania de São Vicente, depois rebatizada de São Paulo, também foi dona dos atuais Matos Grossos, Goiás, Tocantins e Paraná em certo ponto.
Fonte: artigo “Reconstruindo o mapa das capitanias hereditárias”, de Jorge Pimentel Cintra.