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Pesquisadoras brasileiras contam sobre o seu trabalho e os desafios da carreira.

“Você não é um gênio incompreendido”: as lições da astrofísica brasileira que trabalha na China

Professora da Universidade Yangzhou, Larissa Santos está no Brasil para o lançamento de seu novo livro. Em entrevista, ela fala sobre as fronteiras da cosmologia e a visão equivocada que as pessoas têm sobre a ciência.

Por Maria Clara Rossini
11 Maio 2024, 10h00

Boa parte das pessoas não compreende a ciência muito bem. Acham que Einstein era um gênio maluco, ou que os dinossauros foram extintos do dia para a noite. E tudo certo: ninguém tem obrigação de saber tudo, ainda mais se essas coisas não foram ensinadas muito bem na escola. O trabalho de pesquisadores, professores e divulgadores de ciência é elucidar essas questões e trazer um pouquinho do fazer científico para a sociedade.

Larissa Santos é uma dessas profissionais. A astrofísica brasileira é professora de cosmologia na Universidade Yangzhou, na China, onde mora há 10 anos. Graduou-se em física pela Universidade de Brasília (UnB), fez mestrado em astrofísica no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e doutorado na Universidade de Roma 2. A oportunidade de ser pesquisadora na China veio no seu segundo pós-doutorado. 

Junto com a pesquisa, um dos aspectos mais importantes da sua vida profissional é a divulgação científica. Ela comenta notícias de astronomia no perfil do Instagram @bariogenese (explicaremos o que o nome significa adiante). Ela veio ao Brasil para divulgar seu novo livro De onde surgem as grandes ideias?”, e conversou com a Super sobre cosmologia e o fazer científico.

Larissa começa contando que a Super e outras revistas de divulgação científica despertaram seu interesse por física e cosmologia quando jovem. (Ficamos felizes, Larissa :D). Ela ganhou um telescópio e uma luneta de presente, o que só aumentou seu fascínio pelo Universo. Foi questão de tempo até que decidisse fazer física.

Leia a conversa a seguir.

Super: Um dos seus principais interesses é a radiação cósmica de fundo. Em que pé estão as pesquisas nessa área?

Larissa Santos: Ele é um dos pilares para o modelo cosmológico padrão (o modelo do Big Bang). Atualmente, a polarização tem tido um foco maior porque ela é uma das possibilidades que nós temos de conseguir provar as teorias inflacionárias.

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O modelo cosmológico padrão tem diversos probleminhas. E para resolver esses problemas, na década de 1980 surgiram algumas teorias, hoje conhecidas como teorias de inflação cósmica. Ela diz que o Universo passou por uma expansão exponencialmente acelerada lá no início. 

Só que nós precisamos provar que essa expansão aconteceu. É a cosmologia de precisão: usar dados para comprovar as teorias. Uma das previsões diz respeito a um modo específico de polarização da radiação cósmica de fundo que, de acordo com nossas teorias, só pode ser causado através da inflação. Então atualmente os experimentos de radiação cósmica de fundo estão enlouquecidos buscando por essa polarização, porque seria uma forma de provar que a inflação realmente aconteceu. Com certeza seria uma descoberta de prêmio Nobel.

S.: E com o que você trabalha, dentro desta área?

L.S.: Por muito tempo eu trabalhei analisando a distribuição de temperatura da radiação cósmica de fundo. Existem pequenas anomalias de temperatura nessa radiação primordial que nos dão informação sobre o Universo primitivo, então mapeava e caracterizava-as estatisticamente.

Hoje eu trabalho com remoção de contaminantes, na parte da polarização da radiação cósmica de fundo. A gente não observa apenas a radiação cósmica de fundo no céu, né? Existem ondas eletromagnéticas de outras fontes do Universo, e atualmente eu trabalho tentando remover essa contaminação de outras frequências.

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S.: A sua conta de divulgação no Instagram é @bariogenese. Por que escolheu esse nome?

L.S.: A bariogênese é um dos grandes mistérios da cosmologia moderna. A gente sabe hoje que existe mais matéria (bárions) do que antimatéria no universo. A princípio não tem por que isso ter acontecido: deveríamos ter quantidades iguais de matéria e antimatéria.

No entanto, se essas quantidades fossem iguais, nós não existiríamos. Porque quando matéria encontra antimatéria, elas se aniquilam. Então aconteceu algo no universo primitivo, chamado bariogênese, que causou essa assimetria. Mas a gente não sabe o que aconteceu exatamente.

Eu escolhi esse nome para o canal porque eu gosto da bariogênese e estudo o universo primitivo.

S.: De onde veio a ideia de escrever De onde surgem as grandes ideias?”, seu novo livro?

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L.S.: Eu recebo muitas perguntas do público nas redes sociais, e muitas pessoas têm uma ideia bastante equivocada de como a ciência se desenvolve. As pessoas pensam que são grandes gênios, momentos inspiradores, momentos Eureka que surgem com ideias disruptivas e mudam a ciência. 

Mas é muito mais do que isso. Todos podem fazer ciência, e ela é construída tijolinho por tijolinho. várias ideias em cima de ideias anteriores que são modificadas e transformadas com o tempo.

A minha ideia com o livro foi mostrar que as grandes ideias não surgem do nada. Depende muito do estudo, curiosidade, ambiente e pessoas com quem nos relacionamos. São vários fatores que influenciam boas ideias, e não só um momento de inspiração divina.

S.: Qual é o exemplo mais bacana que você retrata no livro?

L.S.: Um dos capítulos que eu escrevi chama “Você não é um gênio incompreendido”, porque as pessoas têm muitas conspirações, eu recebo emails com pessoas refutando Einstein e outras teorias.

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Para criticar as teorias fundamentais da natureza, nós temos que compreendê-las muito bem, como Einstein compreendia a teoria newtoniana e todas as teorias de seu tempo. Basicamente eu falo que tem que estudar para ter pequenas ideias ou ideias disruptivas. Precisamos compreender a ciência do nosso tempo para caminhar, e não só despejar ideias vazias por aí.

S.: Como cientistas e divulgadores podem ajudar para uma melhor compreensão da ciência?

L.S.: Falta um pouco de ensino de história da ciência. A gente aprende só equações ou resultados científicos na escola. Então realmente parece que as pessoas tiveram insights que mudaram a ciência, devido à forma como ela é ensinada.

Isso também se aplica ao ensino superior. No meu curso de física, eu não lembro de ter visto nada sobre história da ciência. A gente aprende em dois meses as equações que Einstein demorou 10 anos para obter. Talvez falte um pouco essa noção de como a ciência foi construída e do contexto da época.

S.: Gostaria de acrescentar algo?

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L.S.: O livro é para todo mundo. Afinal de contas, a criatividade é um assunto que interessa a todos e eu não falo especificamente sobre ciências no livro. Ele é sobre como desenvolver a criatividade, mas eu uso a história da ciência para exemplificar e contextualizar.

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De onde surgem as grandes ideias?: através do olhar da ciência

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