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Mulher Cientista

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Pesquisadoras brasileiras contam sobre o seu trabalho e os desafios da carreira.

Conheça o trabalho de Fabiana Zuelli, primeira brasileira a ganhar o prêmio USERN

Pesquisadora analisa como fatores biológicos e ambientais podem levar a aparições de transtornos psicóticos. Entenda o estudo e a importância do prêmio.

Por Manuela Mourão
18 jan 2025, 14h00

Para uma criança que passou a infância imersa no mundo da ciência, ser fisgada pela área da pesquisa não foi nada inesperado.

Quando era pequena, Fabiana Corsi-Zuelli acompanhava seu pai, um biomédico, para cima e para baixo. Fazia dos laboratórios seu parquinho e dos microscópios, suas bonecas. Hoje, já muitos anos depois, ela se tornou a primeira brasileira a conquistar o troféu da Universal Scientific Education and Research Network (USERN) – uma premiação global que reconhece os feitos de cientistas jovens (até os 40 anos de idade) em qualquer novo avanço ou conquista na educação científica, pesquisa ou serviço à humanidade em cinco campos científicos: incluindo ciências médicas, da vida, formais, físicas e sociais.

Um conselho de 600 cientistas da nata da inovação, incluindo 20 ganhadores de prêmios Nobel e Abel (uma láurea da matemática), elegeram Fabiana e seu trabalho como um dos mais influentes do mundo, superando as outras mais de 90 mil indicações. Em outras palavras, Corsi-Zuelli ganhou a Bola de Ouro Jovem do ramo das ciências médicas. 

Ela conta para a Super que o troféu foi uma surpresa, e que a alegria é imensa. “Acho que reflete a minha trajetória enquanto pessoa, enquanto pesquisadora. Eu sou uma pessoa que vem do ensino público do Brasil, desde o fundamental estudei em escola pública, então pra mim sempre teve a barreira dos recursos ali, para alcançar uma universidade de excelência e enfrentar essas barreiras.”

Como uma cientista, ela diz que o mérito também é um reflexo do espaço das mulheres nas pesquisas. “A mulher, que é maioria na pós-graduação, ainda é minoria em cargos de liderança em áreas de pesquisa e na academia. E esse reconhecimento é muito interessante e bom para a sociedade, porque mostra o papel da mulher na ciência, dá visibilidade e pode servir de inspiração para outras jovens que possam ingressar na área.”

Vamos entender a trajetória de Fabiana e sua linha de pesquisa.

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O início de tudo

Fabiana virou doutora pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, no interior de São Paulo, na cidade em que nasceu e cresceu. Mas tudo começou com um bacharelado em enfermagem, em que teve seu primeiro contato com o que ela chama de “ciência formal”. 

“A minha primeira iniciação científica foi um estudo sobre saúde mental na atenção primária à saúde. Depois, recebi duas bolsas para participar de estudos pré-clínicos: um em que trabalhava com roedores e investigava os mecanismos inflamatórios relacionados a uma condição de inflamação geral”, conta. “No outro, fiz uma iniciação investigando os mecanismos relacionados à depressão.

Após alguns intercâmbios acadêmicos—um no Canadá, com financiamento da Bolsa Mérito Acadêmico da USP, e outro na Inglaterra, com financiamento do Ciência sem Fronteiras—e muitas pesquisas, saiu um casamento: Fabiana uniu sua atração pelos mecanismos de doenças ao âmbito da saúde mental. Veio então o mestrado em neurociência.

Ao mesmo tempo, a doutora vivia um período difícil: um diagnóstico de esquizofrenia na família e o sofrimento que acompanhou todo esse processo. O episódio, porém, motivou a pesquisadora a embarcar no tema do doutorado e do estudo premiado pela USERN: como fatores biológicos e ambientais podem influenciar na manifestação de transtornos psicóticos. 

A pesquisa do ouro

A premiação reconheceu uma série de artigos publicados durante o doutorado de Fabiana e a trajetória da jovem pesquisadora. 

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Um deles, publicado em 2023, analisou cerca de 500 indivíduos, com avaliações clínicas, biológicas e ambientais completas. Destas, 166 eram pacientes com primeiro episódio de psicose, o que Corsi-Zuelli chama de “surto psicótico limpo”, ou seja, não era secundário a outras condições médicas. Os demais participantes eram indivíduos de controle de base populacional e irmãos de pessoas em surto limpo, que não manifestaram sintomas.  

Para compreender a pesquisa de Fabiana, vale entender antes o que são os transtornos por trás do estudo.

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, psicoses são um conjunto de sintomas que afetam a mente de uma pessoa. Durante um episódio do transtorno, os pensamentos e percepções de um indivíduo ficam perturbados e ele pode ter dificuldade em reconhecer o que é real e o que não é.

Fabiana explica que o primeiro contato do paciente com a rede de saúde costuma acontecer quando ele manifesta “sintomas positivos” – a denominação é pelo fato de serem sinais bem evidentes. Muitas vezes , esses sintomas acontecem em forma de delírios ou alucinações.

“Ele [o paciente] pode sofrer com delírios persecutórios, ou seja, ele acredita que alguém está o perseguindo, acha que tem câmeras o filmando ele, que há alguma conspiração. Ou então pode ver e ouvir coisas que não existem, o que chamamos de alucinações.” Além disso, outro delírio recorrente envolve as manifestações religiosas, em que o indivíduo acredita que demônios estão atrás dele.

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Por outro lado, existem também pacientes que passam por um “período de pródromo”, em que ele manifesta os “sintomas negativos”, menos comuns de serem identificados. Nessa fase, o indivíduo começa a se isolar e sentir um embotamento afetivo, isto é, a dificuldade de expressar emoções e sentimentos.

De volta à pesquisa. Com a coleta de sangue dos mais de 400 envolvidos, foi possível observar que, nesses pacientes, existia um aumento de proteínas inflamatórias, as citocinas. Esse é o fator biológico que a equipe de pesquisa procurava.

Além disso, foi observado que o estado inflamatório era mais propenso em pessoas que sofreram algum caso de trauma na infância e os indivíduos que tem esse perfil eram mais vulneráveis aos efeitos negativos do uso diário da Cannabis sativa, a maconha. Ou seja, os fatores ambientais também parecem influenciar no surgimento de psicoses. 

“A identificação do fator ambiental foi um grande achado. É importante para que futuras pesquisas façam essa consideração, não só do indivíduo como no seu caráter biológico, mas também na questão social e ambiental”, disse Fabiana. 

A cientista ficou feliz com o resultado da pesquisa e ressaltou como ela e a equipe conseguiram unir várias pontas soltas sobre transtornos psicóticos com o artigo, desde a aparição de inflamações até o uso de cannabis e o impacto dos traumas. 

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Portas abertas

Quando o projeto começou, não existia um ambulatório de primeiro episódio psicótico para atender pacientes depois que eles eram direcionados ao serviço hospitalar em Ribeirão Preto e região. Por conta das pesquisas, a orientadora de Fabiana, Cristina Marta Del-Ben, conseguiu instituir no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto um ambulatório especializado nesses casos, que hoje é referência.  

“Hoje nós temos esse serviço que faz o acompanhamento desses indivíduos e uma equipe multidisciplinar para ter essa intervenção precoce”, disse a pesquisadora.

Em relação a terapias, ela explica que os transtornos psicóticos exigem uma combinação de estratégias farmacológicas, que exigem a constante reinvenção de tratamentos – até porque um terço dos pacientes não responde aos métodos convencionais- e de terapias psicossociais, que Corsi-Zuelli faz questão de reforçar a importância na intervenção dos pacientes. 

A pesquisa vem em ótimo momento: novos fármacos são feitos com base em direcionamentos específicos em onde devem atuar. Esse é o caminho que o estudo indica. “Isso é medicina de precisão. É como se estivéssemos dizendo ‘não estou tratando os pacientes da mesma maneira, e sim identificando as características desse indivíduo e tratando ele de acordo com suas necessidades’.”

“Esse primeiro ensaio, em que a ideia é exatamente identificar dentro dos casos de psicose quem são aqueles indivíduos que têm alterações inflamatórias, leva a um ensaio clínico que está testando a combinação do antipsicótico com uma droga que modula o sistema imunológico. O objetivo é descobrir se esses indivíduos podem se beneficiar do tratamento combinado.”

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A pesquisadora divide as conquistas com o time que acompanhou o estudo, que foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), coordenado pelo professor Paulo Rossi Menezes e pela professora Cristina Marta Del-Ben. O artigo é fruto do trabalho de cientistas brasileiros com centros ao redor do mundo, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com o Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID).

Em 2025, Fabiana iniciará um pós-doutorado na Universidade de Oxford. “Eu respiro pesquisa, então para mim é dar continuidade no que eu comecei aqui.”

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