Apple mostra sua plataforma de IA para iPhone, iPad e Mac
Apple Intelligence entende comandos de voz, interage com conteúdo dos apps e tem Siri integrada ao ChatGPT; processamento usa "nuvem privada", protegendo os dados; veja novidades de evento da empresa
Acabou de terminar a apresentação de abertura do Worldwide Developers Conference (WWDC), o evento anual da Apple dedicado ao desenvolvimento de software. A empresa começou com o Vision Pro, seu headset de realidade virtual, cujo sistema operacional vai ganhar uma atualização.
O visionOS 2 tem pequenas mudanças de usabilidade (agora há atalhos, com gestos, que levam diretamente à tela Home ou ao centro de controle), bem como novas APIs que prometem melhorar a criação de conteúdo para o aparelho. A Canon irá lançar uma nova lente, para a câmera EOS R7, que capta vídeos no formato do Vision Pro. O headset será lançado em mais oito países (o Brasil não está na lista).
Em seguida, a Apple apresentou o iOS 18. Ele tem mudanças cosméticas (ao acionar o Modo Escuro do iPhone, os ícones da tela inicial também ganham tons mais escuros), e permite que desenvolvedores de apps criem extensões para a Central de Controle, ou coloquem atalhos na lock screen – o Instagram poderia ter um atalho para gravar um story, por exemplo.
O novo iOS permite que o usuário proteja aplicativos sensíveis, que só podem ser abertos após uma reautenticação, por meio do Face ID. É um recurso de segurança bem importante – se o iPhone for roubado, em tese o ladrão não conseguirá ter acesso a apps bancários, por exemplo. Vamos ver como funcionará na prática.
Os AirPods Pro vão ganhar um recurso, o Voice Isolation, que promete eliminar os ruídos de fundo das chamadas de voz. No AppleTV, o destaque é a função Enhanced Dialogue, que usa inteligência artificial (a Apple prefere o termo machine learning) para identificar e amplificar os diálogos de filmes e séries, cujo áudio fica mais fácil de ouvir e entender.
O watchOS 11, o sistema operacional do Apple Watch, tem um novo aplicativo: o Vitals, que monitora cinco métricas de saúde (ritmo cardíaco, oxigenação, temperatura corporal, hidratação e sono) e mostra se estão dentro do ideal. O watchOS também ganhou um sistema inteligente, que irá exibir widgets na tela quando o Apple Watch achar que eles são úteis – como uma previsão do tempo se for chover, por exemplo.
No iPadOS 18, a função Math Notes gera gráficos automaticamente a partir de equações – e a Smart Script permite editar anotações feitas à mão, apagando e reordenando trechos (isso é possível porque o software analisa e reproduz a sua caligrafia).
No macOS Sequoia, a novidade mais interessante é o espelhamento de iPhone, que permite controlar o celular – a tela do iPhone aparece como uma janelinha do macOS. Pode ser bem útil quando você está trabalhando e precisa fazer alguma coisa no celular (também dá para atender ligações, cujo áudio é roteado para os alto-falantes e microfones do Mac).
Já o navegador Safari promete usar machine learning para identificar e destacar -com um clique- as informações mais importantes das páginas que você estiver vendo. A ideia é tornar as coisas mais fáceis de encontrar nos sites, cada vez mais cheios de elementos. A conferir.
As novas versões dos softwares serão liberadas, em versões beta, no segundo semestre.
No final da apresentação, Tim Cook mostrou o mais esperado: a plataforma de IA da empresa, batizada de Apple Intelligence. Ela é um conjunto de funções inteligentes que rodam no iPhone, no iPad e no Mac. O iPhone, por exemplo, irá usar IA para entender quais notificações são mais importantes – e destacá-las.
A Apple Intelligence é capaz de ler o conteúdo dos apps, e roda no nível do sistema operacional: você pode pedir a ela que procure certo arquivo ou toque determinado podcast, por exemplo. Se uma pessoa enviar uma mensagem com o endereço dela, por exemplo, você poderá dizer “adicione essa informação ao contato” – e o sistema fará isso, adicionando aquele dado à sua agenda do iOS.
Basta dar comandos de voz para a assistente Siri – que foi reformulada, e agora usa a Apple Intelligence como “motor”. Ela também tem acesso ao ChatGPT, que poderá consultar (mediante permissão do usuário) para responder perguntas.
A Apple Intelligence também inclui funções mais convencionais de IA, como geradores de imagens e textos (que permitem criar ilustrações, ajudam a escrever mensagens e resumem threads de email), bem como um gerador de emojis, o Genmoji – basta digitar uma descrição, e o iOS gera um emoji usando IA. E o app Fotos ganhou uma ferramenta que permite apagar objetos das imagens (como no Galaxy AI, da Samsung).
A Apple Intelligence roda de forma híbrida: parte das ações é computada localmente, e parte roda na nuvem (pois a IA requer muito poder de processamento). Porém, segundo a empresa, a computação online ocorre em uma “nuvem privada”: os dados não ficam armazenados nos servidores da Apple, que não tem acesso a eles, pois são encriptados (presumivelmente, usando uma chave criptográfica guardada no iPhone, iPad ou Mac. A conferir).
A Apple Intelligence será compatível com o iPhone 15 Pro, bem como Macs e iPads com processador M1 ou posterior.
Ao apresentar suas funções de IA, a Apple algumas vezes usou verbos no futuro (como ao dizer que a Siri será capaz de fazer tal coisa). Então é possível que nem todos os recursos apresentados estejam disponíveis já no lançamento do iOS 18 e do macOS Sonoma. Também será preciso ver quão bem tudo isso funcionará na prática.
Mas, ao integrar IA tão profundamente a seus sistemas operacionais, a Apple dá um passo ambicioso – e entra bem, apesar do atraso, na corrida da inteligência artificial.