Quando a matemática vira poesia
Conheça as reportagens da Super premiadas pelo IMPA, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada.
Fiz minha primeira matéria para a Super há 22 anos. Era sobre matemática – tentava explicar ali a natureza das raízes quadradas, dos números irracionais, dos números imaginários… Na época, eu trabalhava em outra publicação da Abril. Mas sonhava em escrever para a Super.
Então decidi atirar primeiro e perguntar depois: escrevi a reportagem por conta própria, sem combinar com os editores da época, e mandei.
Mas deu em água. O pessoal recusou meu texto, com uma explicação gentil: o tema era abstrato demais. O mais provável é que não estivesse bom o bastante, claro. Mas tinha outro fato: naquele momento (2002), a revista estava mais focada em ciências sociais do que em exatas (que tinha sido seu forte nas décadas anteriores).
Mesmo assim, a tentativa me aproximou do pessoal da Super, e fui emplacando minhas primeiras reportagens aqui. Em 2006, virei um dos editores. Dez anos mais tarde, assumiria a chefia da redação. Com um objetivo central: fortalecer a pegada em ciências exatas (e biológicas).
Minha primeira contratação com essa meta em vista foi a do Bruno Vaiano, um cara apaixonado por tudo o que envolva complexidade. Ele começou como estagiário, em 2016, tornou-se um dos editores, e hoje é um dos melhores divulgadores de ciência do país.
Em dezembro do ano passado, Vaiano venceu pela segunda vez o Prêmio IMPA de Jornalismo, oferecido pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada. A conquista foi justamente na categoria Matemática, pela reportagem “O Primado dos Primos” (janeiro de 2023), sobre a natureza dos números divisíveis apenas por 1 e por eles mesmos.
Como diz Vaiano na matéria: “Eles são especiais porque formam os tijolos fundamentais da matemática – do mesmo jeito que os elementos da tabela periódica permitem montar todas as moléculas que os químicos estudam, os primos são a base para construir todos os outros números”.
Dali em diante ele explica os estudos de Euclides, a hipótese de Riemann e outros tópicos de alta densidade, sempre de forma leve, fluida.
A outra vitória de Vaiano no Prêmio do IMPA tinha rolado em 2020, com “A Matemática foi Descoberta ou Inventada?”. E em 2021, ele ficou com a prata por “As Várias Faces do Infinito”. Nesta edição, veja um pouco mais do estilo dele na reportagem sobre o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck.
Falando em láureas: em 2023, a Super venceu, pelo terceiro ano consecutivo, o Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar, na categoria Veículo Impresso Especializado. Quem oferece é o Hospital Albert Einstein e o portal Jornalistas&Cia.
Parabéns aqui à toda equipe da Super. Em especial, ao editor Bruno Garattoni, responsável pela maior parte das nossas reportagens sobre medicina – e pelo grosso das matérias de capa também, independentemente do tema. A desta edição, inclusive, é um belo exemplo de seu talento multidisciplinar.
No fim, acho que o aspirante a jornalista de ciência que eu era em 2002 teria inveja das realizações deste time da Super. Já este nem tão jovem diretor de redação de 2024 sente outra coisa, claro: um orgulho que tende ao infinito.
Boa leitura, e um ótimo ano.