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Veja como é um cérebro sob o efeito dos “cogumelos mágicos”

Estudo mostrou que a psilocibina, princípio ativo desses fungos, tem efeitos que podem durar semanas, com potencial para ser usado em psicoterapias.

Por Eduardo Lima
17 jul 2024, 12h00

Em 2023, a Austrália liberou o uso de psilocibina, o princípio ativo dos cogumelos psicodélicos, para psicoterapia de pacientes com depressão resistente. Compostos alucinógenos como esse estão passando por cada vez mais estudos e testes clínicos para avaliar sua eficácia no tratamento de transtornos alimentares, ansiedade e bipolaridade.

Agora, um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis, nos EUA, usou ressonâncias magnéticas para mostrar o que acontece no cérebro sob o efeito da psilocibina.

Aqui no Brasil, o princípio ativo é ilegal, mas os cogumelos que o contém não são, fazendo com que a droga entre num limbo regulatório e possa ser adquirida na internet. Se quiser entender mais sobre terapias com esse e outros psicodélicos, leia nossa reportagem de capa sobre o assunto.

Mãos com luvas manipulando cogumelos

O composto dos cogumelos mágicos embaralha temporariamente áreas do cérebro do usuário relacionadas ao senso de espaço, tempo e de si mesmo. O estudo, publicado na revista Nature nesta quarta (17), mostrou que a psilocibina afeta capacidades introspectivas como sonhar acordado ou relembrar memórias.

Os cientistas já sabem que a psilocibina, em condições controladas, pode ser usada para aliviar sintomas de depressão, ansiedade e vício em humanos. Os efeitos psicológicos e moleculares já eram conhecidos. Mas e onde essas duas áreas se juntam, no funcionamento do cérebro? Qual o efeito da psilocibina ali?

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Efeito que dura semanas

O doutor Joshua Siegel, pesquisador de psiquiatria e líder do estudo, se dedicou a entender como a droga afeta as redes de funcionamento cerebrais (os caminhos que conectam diferentes regiões do cérebro) de cada participante do teste.

Sete adultos saudáveis foram recrutados para o estudo. Eles tomaram uma dose alta de psilocibina ou de metilfenidato, a forma genérica da Ritalina, medicamento usado para tratar TDAH. Especialistas treinados acompanharam os participantes nas viagens.

Antes, durante e depois do uso da psilocibina, os participantes passaram por uma bateria de 18 ressonâncias magnéticas funcionais para analisar a atividade cerebral. Depois de um semestre, quatro dos sete participantes iniciais voltaram para repetir o experimento.

Ilustrações diferentes do cérebro sob efeito da psilocibina.

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Os pesquisadores descobriram que o efeito da psilocibina não é permanente, mas é profundo, se espalha pelo cérebro e pode durar por semanas. O impacto começa forte, e depois continua de forma mais sutil, algo importante para um possível remédio. Algo que deixasse as redes neurais de uma pessoa bagunçadas por dias não seria bom, e nem algo que fosse tão imediato que não deixaria tempo para o efeito fazer diferença no paciente.

O que a psilocibina fez nos participantes foi dessincronizar a rede de modo padrão (em inglês, default mode network) do cérebro, uma porção de áreas cerebrais interconectadas que ficam ativas quando ele não está trabalhando em nada específico. 

Olha só o cérebro antes, durante e depois do uso da psilocibina:

Cérebro sobre diferentes efeitos, com cores variadas.

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A rede voltou ao normal depois que os efeitos da psilocibina passaram, mas algumas pequenas diferenças em comparação com as imagens antes dos cogumelos persistiram por semanas. Já os pacientes que receberam metilfenidato continuaram com as redes de modo padrão estáveis.

Com psicodélicos, somos todos (cerebralmente) iguais

A experiência psicodélica surge nesse embaralhamento da rede de modo padrão, que é fundamental para a pessoa pensar em si em relação ao mundo. A consequência de longo prazo é que essa dessincronização deixa o cérebro mais flexível, mais maleável, e possivelmente mais capaz de alcançar um estado saudável.

As redes funcionais cerebrais normalmente são bem distintivas, tendo diferenças claras de uma pessoa para a outra. Sob o efeito da psilocibina, essas distinções desapareciam, e as imagens cerebrais dos participantes do estudo ficavam mais similares entre si. A individualidade e o senso de si mesmo somem durante a viagem e voltam depois.

Esses dados específicos sobre os efeitos da psilocibina no cérebro são mais um passo na direção de entender melhor como os psicodélicos podem ser usados para psicoterapia. Isso não quer dizer que os cogumelos mágicos podem ajudar qualquer um, e os pesquisadores deixam claro que o estudo deles não deveria ser interpretado como um motivo para se automedicar com psilocibina.

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