Vamos mandar superbactérias até o espaço – para prever o futuro
Microrganismos resistentes a antibióticos vão dar uma volta no foguete de Elon Musk carregando a esperança de encontrarmos uma solução para eles no espaço
No Valentine’s Day, dia dos namorados americano, a empresa espacial SpaceX, fundada por Elon Musk, se prepara para um programa nada romântico. Em 14 de fevereiro, eles pretendem lançar um foguete carregado de superbactérias assustadoras – para tentar combatê-las no espaço.
A passageira da vez é a MRSA, uma variação da Staphylococcus aureus que é resistente à meticilina, antibiótico da família das penicilinas. Ela é extremamente letal nos EUA – mata mais, por ano, que a soma de vítimas da AIDS, do Parkinson, do enfizema e de homicídios. A infecção começa com pontinhos na pele e evolui para bolhas que viram feridas profundas, podendo acabar em fasciite necrosante.
Mas a ideia não é simplesmente despejar esse bicho tóxico como se fosse lixo espacial. O plano é levar a cultura até a órbita na Estação Espacial Internacional. Lá, a SpaceX e a Nasa querem aproveitar o ambiente do espaço para estudar melhor a resistência desse microrganismo e entender como ele cria defesas contra novas drogas. Assim, dá para ter uma ideia melhor do que as novas gerações – de pessoas e de antibióticos – precisarão enfrentar.
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Por que no espaço?
Pesquisas realizadas desde o fim dos anos 1990 tentam explicar como a vida reage à redução de gravidade e à radiação espacial. Um dos efeitos observados em bactérias é uma superatividade de proteínas ligadas ao seu metabolismo. Isso quer dizer que elas vivem seu ciclo de vida e se reproduzem mais rápido. Com isso, elas sofrem três vezes mais mutações que na Terra.
Algumas dessas mutações são justamente o que as torna resistentes aos remédios. Portanto, o que o projeto pretende fazer é acelerar o processo de evolução dessas bactérias, analisando suas mudanças em tempo real com uma tecnologia chamada GeneRADAR.
O ciclo da bactéria no espaço pode nos dar a visão de um ou mais possíveis futuros da MRSA na Terra, indicando que mutações elas são mais propensas a desenvolver. Se as bactérias se comportarem de acordo com o esperado, o método pode ajudar a ciência a pesquisar tipos específicos de medicamentos para combater novas resistências bacterianas antes que elas se apresentem em infecções humanas.
O problema é que a MRSA está longe de ser a única superbactéria a estar aumentando sua resistência – e, pelo menos por enquanto, estamos longe de ter tantos foguetes assim.