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Tubarões também fazem “amigos”, revela estudo

Tubarões-cinzentos-dos-recifes vivem em comunidades fixas e também tem parceiros de caça fixos, comportamento incomum entre as espécies desse predador marítimo.

Por Bruno Carbinatto
12 ago 2020, 17h50

Quando pensamos em tubarões, geralmente imaginamos criaturas solitárias, explorando o vasto oceano em busca de presas. Embora isso possa ser verdade para várias espécies do predador, pelo menos um tubarão possui comportamento social e até faz amizades duradouras com seus pares.

Uma nova pesquisa descobriu que tubarões-cinzentos-dos-recifes formam grandes comunidades (geralmente com mais de vinte indivíduos) nos habitats em que vivem. Essa espécie (Carcharhinus amblyrhynchos) é conhecida por habitar partes do oceano Índico e Pacífico e, como o nome sugere, vivem em recifes de corais, que são habitats marinhos bastante biodiversos e cheios de vida. Até aí, não há muitas novidades: grandes grupos desses tubarões já haviam sido observados juntos em recifes durante o dia, quando são menos ativos.

Mas o novo estudo deu um passo além e descobriu alguns detalhes interessantes. A equipe de pesquisadores americanos colocou chips em 41 indivíduos da espécie que habitam o Atol Palmyra, uma ilha formada por corais no Oceano Pacífico que pertence aos EUA. Entre 2011 e 2014, os pesquisadores conseguiram rastrear o movimento dos bichos através dessa tecnologia, que também diferenciava qual tubarão era qual através de sinais diferentes enviados pelos chips.

Eles descobriram que essas comunidades eram formadas por indivíduos específicos que se encontravam sempre no mesmo local do recife, com uma distância clara entre as diferentes comunidades. Anteriormente, não se sabia que essas comunidades eram formadas sempre pelos mesmos indivíduos, acreditava-se apenas que os tubarões se uniam aleatoriamente com outros de sua espécie ao longo dos recifes. Poucas interações entre tubarões de diferentes comunidades foram registradas no período analisado. Além disso, dentro de uma própria comunidade há subdivisões entre os tubarões, como “laços de amizade” que parecem durar por anos.

As regiões específicas do recife funcionavam como uma “casa” para cada comunidade de tubarões durante o dia, quando a espécie é menos ativa e descansa. Porém, quando a noite chega, os tubarões dentro de cada comunidade se separavam em grupos menores, na maioria dos casos em duplas, para ir caçar. E esses sub-grupos mantinham padrões, com quase sempre os mesmos indivíduos saindo para caçar com seus “amigos” marítimos. Após a caçada, os tubarões voltam para o mesmo ponto no recife de corais e as comunidades se reúnem novamente.

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Os resultados, publicados na revista Proceedings of the Royal Society B, sugerem que os tubarões conseguem identificar individualmente outros tubarões na comunidade, embora ainda não esteja claro como isso aconteça. Em alguns casos, tubarões analisados nos estudos sairam para caçar com os mesmos parceiros durante os quatro anos estudados. Os pesquisadores acreditam que esses laços de “amizade” podem durar até mais do que isso, mas infelizmente não foi possível provar, já que as baterias dos equipamentos usados só duravam por quatro anos.

Não está claro também como o comportamento de caça se dá nas duplas que saem juntas – os rastreadores não abrangiam o mar aberto, onde os tubarões se aventuravam para procurar presas –, então não é possível saber se a parceria se estende até o ponto de compartilhar uma única presa, por exemplo. No entanto, simulações feitas pelos pesquisadores indicam que caçar em dupla ou trio pode ajudar os tubarões a compartilhar informações sobre locais que têm mais presas.

Vantagens na caçada também podem explicar o porquê desse comportamento incomum nesses tubarões, segundo os autores. Outros comportamentos sociais comuns em animais, como cuidar de seus filhotes e se importar com outros membros da comunidade, não são observados, o que indica que a “amizade” na verdade é mais uma estratégia de sobrevivência do que o conceito que usamos para humanos e outros animais mais sociáveis. De qualquer forma, entender que esses animais possuem uma certa estrutura social é um novo passo interessante para cientistas estudarem não só os tubarões, mas como as sociedades se formam na natureza.

 

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