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Tipo sanguíneo dos neandertais pode estar relacionado a sua extinção

Uma variante no sangue dos neandertais pode ter causado a morte de diversos recém-nascidos da espécie, por uma doença que existe até hoje entre humanos.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 28 jan 2025, 11h52 - Publicado em 27 jan 2025, 18h00

Quando as espécies Homo sapiens começaram a se aventurar fora da África e encontraram outros hominídeos, como os Homo neanderthalensis, uma diferença sutil nos glóbulos vermelhos dos humanos modernos pode ter sido importante para a extinção dos neandertais, segundo um estudo de pesquisadores da francesa Universidade Aix-Marseille.

Os pesquisadores sequenciaram o genoma de dezenas de hominídeos que viveram entre 120 mil e 16,5 mil anos atrás. Ao fazer isso, eles perceberam um tipo sanguíneo que aparecia principalmente nos neandertais, e que pode ter sido fatal para os seus bebês recém-nascidos.

Uma rápida evolução nas hemácias dos Homo sapiens diferenciou a espécie dos neandertais, de acordo com o estudo publicado na Scientific Reports.

Os tipos sanguíneos humanos – classificados pelo sistema ABO com fator Rh positivo ou negativo – são caracterizados por proteínas e açúcares presentes nos glóbulos vermelhos chamadas de antígenos. Uma pessoa com antígenos do tipo A vai ter seu sistema imunológico reagindo se entrar em contato com antígenos do tipo B, por exemplo.

O sistema ABO foi desenvolvido em 1901. Desde então, a comunidade científica descobriu que os tipos sanguíneos são bem mais complexos, com vários antígenos menos conhecidos habitando a superfície e o interior das células vermelhas do sangue. Uma dessas variações genéticas nas hemácias foi encontrada entre os neandertais – e pode ajudar a explicar o fim da espécie.

Doença continua até hoje

O fator Rh é uma proteína que algumas pessoas têm (tipo sanguíneo positivo) e outras não (tipo sanguíneo negativo). Os cientistas da universidade francesa encontraram uma variante de proteína Rh, muito rara nos seres humanos e nos hominídeos denisovanos, no genoma dos neandertais.

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Os cientistas buscaram essa variante específica de proteína Rh porque sabiam que ela poderia causar complicações fatais para os recém-nascidos neandertais, como ainda hoje causa em casos raros.

Eles analisaram os genomas previamente sequenciados de 22 Homo sapiens, que viveram entre 46 mil e 16,5 mil anos atrás, 14 neandertais, que viveram entre 120 mil e 40 mil anos atrás, e um indivíduo descendente de neandertais e denisovanos, que viveu há 98 mil anos.

Todos esses indivíduos viveram espalhados pela Eurásia, entre onde hoje fica a Alemanha até regiões ocupadas pela Rússia e pela China.

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Os neandertais não tiveram grandes alterações em seus tipos sanguíneos em seus últimos 80 mil anos de vida, já que viviam mais isolados e, por causa disso, desenvolviam menos diversidade genética. Porém, se sabe que eles interagiram e tiveram relações sexuais com outros hominídeos, como os humanos modernos e os denisovanos. O que acontecia, então, quando esses tipos sanguíneos diferentes se encontravam?

A hipótese dos pesquisadores é que, quando uma neandertal fêmea tinha relações sexuais com um macho sapiens ou denisovano, o bebê tinha um alto risco de nascer com doença hemolítica perinatal. Essa condição surge quando a mãe e o recém-nascido tem tipos sanguíneos incompatíveis. A doença pode causar anemia severa, danos cerebrais e até morte. Isso pode ter contribuído para a extinção dos neandertais.

A doença hemolítica perinatal continua sendo um problema. Os pesquisadores conseguiram rastrear a rara variante sanguínea responsável por alguns dos casos, chamada de RHD DIII tipo 4, que os humanos herdaram de cruzamentos com os neandertais. Descobrir a variante é importante porque ela ajuda a monitorar a gravidez com mais detalhes e diagnosticar casos da doença.

Hoje, a doença hemolítica perinatal pode ser tratada com uma imunoglobulina produzida em laboratório que previne que a mãe produza anticorpos contra o sangue do feto. Cem mil anos atrás, a situação dos neandertais era bem diferente.

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Os cientistas também descobriram que as variantes mais comuns de proteína Rh hoje entre os humanos modernos, diferentes da mais comum entre os neandertais, surgiram de uma rápida evolução da espécie depois que os primeiros Homo sapiens começaram a deixar a África, entre 70 mil e 45 mil anos atrás.

Essa evolução e diversificação dos tipos sanguíneos dos humanos modernos provavelmente aconteceu na região onde fica o Irã, quando os Homo sapiens tiveram contato com outras populações de hominídeos e desenvolveram antígenos diferentes, que continuam até hoje.

Alguns dos genomas de Homo sapiens analisados mostraram três grupos de variações sanguíneas que simplesmente não existem mais, em linhagens de seres humanos que foram encerradas há milhares de anos.

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