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Tardígrados brilham no escuro para sobreviver à radiação

Espécie recém-descoberta do animal, considerado o mais resistente do mundo, possui um "escudo" fluorescente capaz de proteger contra raios UV.

Por Bruno Carbinatto
14 out 2020, 18h49

Eles têm apenas meio milímetro de comprimento, mas não se deixe enganar pelo tamanho diminuto. Os tardígrados – ou ursos d’água, para os íntimos – são provavelmente os organismos mais resistentes da Terra. Parentes dos artrópodes, esses seres microscópicos  conseguem sobreviver a secas prolongadas, temperaturas congelantes ou muito quentes, falta de oxigênio, pressões altíssimas e outras condições extremas. Como se não bastasse tudo isso, cientistas descobriram uma nova espécie de tardígrado com um mecanismo de defesa inusitado: um escudo contra radiação ultravioleta que brilha no escuro.

A descoberta foi feita por acaso. Pesquisadores do Instituto Indiano de Ciência, em Bangalore, coletaram diversos tardígrados em musgos e ambientes aquáticos pelo campus a fim de estudá-los. Uma das placas contendo as amostras foi deixada embaixo de uma lâmpada de ultravioleta usada para esterilização de materiais – a radiação liberada por ela é tão forte que mata rapidamente vírus, bactérias e outros micróbios, até mesmo alguns considerados muito resistentes.

Uma espécie de nematelminto chamada Caenorhabditis elegans, que estava na amostra, morreu em 15 minutos de exposição à radiação. Os tardígrados da espécie Hypsibius exemplaris também pereceram em até 24 horas. Mas, para a surpresa dos pesquisadores, alguns tardígrados com coloração avermelhada sobreviveram vários dias expostos aos raios mortais de ultravioleta. Mesmo quando a equipe aumentou a dose de radiação em quatro vezes, 60% desses tardígrados continuaram vivendo por até 30 dias.

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Estudando mais de perto esses exemplares, os pesquisadores constataram que provavelmente se trata de uma espécie ainda não identificada do gênero Paramacrobiotus, a qual eles apelidaram Paramacrobiotus BLR. O que mais chamou atenção na descoberta foi o fato de que, sob luz ultravioleta, os tardígrados até então avermelhados brilhavam em um forte tom de azul escuro (veja na foto acima).

Segundo a pesquisa publicada na revista Biology Letters, trata-se de um curioso mecanismo de defesa dessa espécie: em seu corpo há pigmentos especiais capaz de transformar a radiação ultravioleta nociva em uma luz azulada que não causa danos, funcionando como um tipo de escudo antirradiação. A equipe observou que os tardígrados que apresentavam menor quantidade desse pigmento morriam mais rapidamente do que os que brilhavam mais.

Ao mesmo tempo, quando os cientistas extraíam a substância desses seres e cobriam outras espécies de tardígrados que não possuem o escudo, como a Hypsibius exemplaris, esses também aguentavam mais tempo sob os raios ultravioletas, indicam que de fato o pigmento funciona como uma espécie de escudo. A equipe ainda não conseguiu identificar, porém, exatamente qual ou quais pigmentos na composição do animal têm essa função.

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A enorme resistência dos tardígrados não é exatamente uma novidade para a ciência: eles já sobreviveram ao vácuo do espaço sideral e possivelmente foram levados à Lua por uma missão espacial israelense que falhou. No entanto, há várias espécies do animal, cada uma com suas peculiaridades e mecanismos ainda não muito bem compreendidos pela ciência

Os pesquisadores esperam entender melhor a nova espécie em pesquisas posteriores. Ainda não se sabe se essa característica é exclusiva dos Paramacrobiotus BLR ou se outros tardígrados também possuem o pigmento de defesa. É possível, especulam os cientistas, que aquela espécie desenvolveu o mecanismo em um processo de adaptação aos verões quentes e secos da Índia – e de fato os exemplares coletados estavam em locais com alta incidência de luz e, às vezes, com poucas água, algo incomum para animais que geralmente vivem submersos.

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