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Seleção natural está combatendo Alzheimer e tabagismo

A seleção natural não para nunca – e parece que está tentando dar um jeito em dois dos maiores problemas de saúde da humanidade.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 set 2017, 18h44 - Publicado em 12 set 2017, 18h00

Na escola você aprende que humanos, cachorros e macacos são do jeito que são por causa de da seleção natural, teoria publicada por Charles Darwin em 1859.

Pausa rápida para revisar: às vezes um animal nasce com uma modificação genética. E essa modificação, sem querer, acaba sendo vantajosa para ele. É como se o patinho feio, que é preto, passasse a usar sua cor única para se camuflar nas águas de um rio escuro – e conseguisse, assim, se esconder de predadores com mais facilidade que seus irmãos. Graças a isso, ele vai viver mais tempo e se reproduzir mais, passando esses genes para frente. Com o tempo, a parcela de patos pretos na população aumentará muito. E foi assim, modificação por modificação, ao longo de milhões de anos, que todos os seres vivos que existem chegaram à forma que têm hoje.

Acontece que essa forma não é fixa, e que a seleção natural não parou. Ela continua acontecendo o tempo todo, com todos as espécies – inclusive a nossa.

Por meio da análise de 8 milhões de mutações no DNA de 215 mil seres humanos, a equipe do biólogo Hakhamanesh Mostafavi, da Universidade de Columbia, concluiu que, aos pouquinhos, a seleção natural está apagando do nosso DNA os genes que causam a doença de Alzheimer e os que aumentam a propensão ao tabagismo.

O primeiro impulso seria explicar esse fenômeno à maneira clássica – a do patinho feio: pessoas que fumam mais vivem menos e têm mais problemas de saúde, o que diminui suas chances de ter filhos. Pessoas que não têm predisposição ao vício, por outro lado, tendem a ser mais saudáveis e viver mais.

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Mas isso não é bem verdade no mundo contemporâneo, em que pessoas só morrem por causa do cigarro muito depois do fim da idade reprodutiva ideal. Dá tempo de ter muitos filhos e distribuir seus genes a rodo antes de acabar com os próprios pulmões.

Nesse caso, explica o artigo científico, a seleção natural poderia usar artifícios mais sutis para atuar. O mais convincente deles é a hipótese da vovó. De acordo com ela, as fêmeas humanas (e de outros animais, como as baleias) passaram a viver longos períodos após a menopausa porque a seleção natural percebeu que avós vivas ajudam a criar os netos – o que aumenta as chances de sobrevivência de quem está duas gerações à frente.

O oposto também é verdadeiro: um neto que perdeu os avós por causa do tabagismo ou do Alzheimer teria menos gente para criá-lo e protegê-lo, e isso diminuiria, ainda que em um um nível estatístico muito difícil de perceber na prática, suas chances de sobrevivência.

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É claro que há muito especulação aí. Mostafavi explicou à Nature que as análises feitas por sua equipe levaram em consideração apenas pessoas que estão vivas neste exato momento. “Se uma variante genética influencia na sobrevivência, sua frequência deve mudar de acordo com a idade dos indivíduos vivos”.

Em outras palavras, o estudo não tem como abarcar mais do que as três gerações que separam um bisneto de sua bisavó – o que é um piscar de olhos para a evolução, bem menos que o suficiente para causar uma mudança notável e homogênea nos 7 bilhões de seres humanos do planeta. Há o risco de que a queda no número de genes associados a Alzheimer e tabagismo entre as pessoas vivas em 2017 seja só uma flutuação momentânea, um ponto fora da curva. O ideal, é claro, seria selecionar milhares de famílias e seguí-las por gerações à fio – algo inviável na prática.  

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