Santos eternos
Mas existem também corpos como o de Santa Zita, que não sofreram nenhuma intervenção e permanecem com todos os órgãos internos.
Rafael Kenski
O corpo de Santa Zita, morta em 1278, permanece intacto até hoje. Assim como ela, continuam preservados cerca de 100 santos, papas e beatos, como João XXIII, Santa Rita de Cássia e São Ubaldo de Gubbio. Esse sinal, tomado como milagre durante séculos, finalmente tornou-se alvo de um estudo minucioso do Vaticano, que, durante os últimos 15 anos, contratou legistas, paleopatologistas e especialistas em múmias para desvendar o mistério. As pesquisas descobriram que muitos dos corpos, como o de Santa Margarida de Cortona, foram mumificados por seus devotos, que utilizaram técnicas semelhantes às dos egípcios. Em muitos casos, os órgãos internos eram guardados e transformados em relíquias.
Mas existem também corpos como o de Santa Zita, que não sofreram nenhuma intervenção e permanecem com todos os órgãos internos. Milagre? Talvez não. “Santa Zita é uma múmia natural”, diz o paleopatologista Gino Fornaciari, da Universidade de Pisa, Itália, responsável pela autópsia da santa. “A mumificação natural acontece em lugares muito secos, onde o corpo desidrata rapidamente e a falta de água impede a ação das enzimas e das bactérias responsáveis pela putrefação.” Essas condições podem ser encontradas nas criptas das igrejas onde muitos dos santos estão enterrados. Esses locais apresentam freqüentemente temperatura baixa – inferior à ideal para o desenvolvimento de bactérias – que varia muito pouco ao longo do ano.
Diante das pesquisas, o Vaticano deixou de considerar a preservação dos corpos como um dos milagres necessários para que uma pessoa seja considerada santa pelo papa. Mas a capacidade dos corpos de vencer o tempo – e a raridade desses fenômenos – não deixam de impressionar cientistas e fiéis em todo o mundo.