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Salve o planeta – troque a carne por feijão

Nova pesquisa calcula que, se a população fizesse a troca, os EUA poderiam cumprir mais de 50% das reduções de gases previstas no Acordo de Paris até 2020

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
31 Maio 2017, 17h56

A ciência é cheia de ironias. E a que acaba de ser descoberta não cheira nada bem. Pesquisadores norte-americanos concluíram que, apesar das flatulências, comer feijão em vez de carne é melhor para a atmosfera da Terra – se todo mundo nos EUA largasse o bife e optasse pelo grão, o país mais rico do mundo conseguiria, até 2020, bater algo entre 46% e 74% da meta de redução de gases de efeito-estufa prometida no Acordo de Paris.

Algo bem necessário, principalmente considerando que ainda ontem a SUPER noticiou os efeitos preocupantes de um possível aumento na temperatura e na concentração de gás carbônico das águas oceânicas.

É claro que não faltaram piadinhas, algumas realmente boas. “Essa é a primeira vez na história em que o feijão é identificado como uma medida para redução de gases”, afirmou a cientista ambiental Helen Harwatt, uma das autoras do estudo, à revista Popular Science.

Mas o assunto é sério e o resultado não é tão inesperado assim. Os gases humanos não são nada perto da quantidade de gás metano que a produção intensiva de gado libera na atmosfera. Bois e vacas são máquinas de arrotar e soltar pum, e fornecem ao ser humano uma quantidade de nutrientes que não bate com o tamanho de seu impacto ambiental. Segundo os pesquisadores, o feijão, combinado com outros vegetais, é capaz de suprir nossas necessidades calóricas e proteícas com a mesma eficiência que a carne vermelha – sem bater o último prego no caixão das mudanças climáticas. Você pode ler o artigo completo aqui.

O metano (CH4) retém 25 vezes mais calor do que o CO2, e dura mais tempo na atmosfera. Ele é produzido por microrganismos que vivem no sistema digestivo dos animais ruminantes. É um festival de gases tão arriscado para a manutenção das temperaturas médias do globo que táticas inusitadas já foram propostas pela ciência para contornar o problema – a mais cômica é adicionar orégano, um antibiótico leve, à ração do gado (e torcer para as bactérias cederem ao tempero favorito da pizzaria).

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Hoje, cerca de 10% dos gases de efeito estufa são culpa desses animais. A Dinamarca, inclusive, já está considerando cobrar um imposto sobre o churrasco. Triste para os fãs do carvão – caso deste repórter –, mas necessário.

“O que esse artigo tenta demonstrar, de uma maneira muito inteligente, é que uma única mudança nos hábitos alimentares poderia ter um efeito dramático sobre as emissões de gases de efeito estufa”, afirmou Joan Sabaté, coautora do estudo. “A nação poderia alcançar mais da metade dos seus objetivos de redução sem impor padrões novos à indústria automobilística.”

O que não é uma boa ideia na prática (deixar o setor automobilístico à solta é sempre um perigo para o ar), mas ilustra bem o tamanho do impacto bovino.

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Com base em estudos anteriores, os pesquisadores também calcularam que um fim hipotético da criação de gado e sua substituição por plantações de feijão e outras plantas iria desocupar 42% do território que é atualmente dedicado à produção agropecuária.

Em uma nota otimista, o estudo lembra que os antioxidantes e fibras do feijão são bem melhores para o corpo que as gorduras saturadas da carne vermelha – que, se consumida em grandes quantidades, também aumenta os riscos de desenvolver diabetes tipo 2 e câncer colorretal. É claro que, por motivos culturais, tirar o bife do prato de uma nação inteira não é possível em curto prazo. Mas se você quer ajudar o meio ambiente, pode ser uma boa ideia, com o tempo, dar uma guinada na sua própria dieta.

É sempre bom lembrar que a retirada de produtos de origem animal da alimentação deve sempre ser acompanhada da reposição adequada desses nutrientes por fontes vegetais – um processo que deve, de preferência, ser acompanhado por um nutricionista.

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