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Robôs e trolls russos semeiam discórdia sobre vacinas no Twitter

Empresa russa acusada de interferir nas eleições americanas alimenta discussões sobre vacinação na internet – e destrói a confiança do público na imunização.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 jan 2023, 20h54 - Publicado em 27 ago 2018, 17h44

Uma análise de 1,8 milhão de tweets publicados entre julho de 2014 e setembro de 2017 revelou que robôs e perfis falsos baseados em território russo usam o Twitter para jogar lenha na fogueira das discussões sobre vacinação. Nos EUA, por exemplo, 93% do conteúdo disponível sobre o assunto na rede social contém afirmações hostis ou links perigosos – tudo produzido sob medida para diminuir a confiança da população em campanhas de imunização em massa.

As contas clandestinas produzem posts que associam a vacinação a questões polêmicas, como preconceito de classe (a elite recebe vacinas mais puras que as pessoas comuns), sociedades secretas (não tome vacinas, os Illuminati estão por trás delas) e religião (eu não acredito em vacinas, eu acredito na vontade de Deus). Os tweets falsos não necessariamente se opõem à prática: alguns zombam dos conspiradores, sempre de maneira ofensiva (não dá para consertar estupidez, deixe que eles morram de sarampo. Eu apoio a vacinação!).

Pais desinformados geralmente recorrem à internet para sanar dúvidas sobre a vacinação de seus filhos – e acabam sendo expostos a tantas mentiras que podem acabar pensando que não há consenso cientifico sobre a prática. “A maior parte dos americanos acredita que vacinas são seguras e eficientes, mas quem acompanha o Twitter tem a impressão de que há muito debate sobre o assunto“, afirmou, em comunicado, David Broniatowski, pesquisador da Universidade George Washington e líder do estudo.

Da amostra total, com quase dois milhões de posts sobre vacinas, Broniatowski selecionou 889 para olhar mais de perto. Era relativamente fácil identificar os falsos: os que eram gerados por robôs em geral continham links e tentavam convencer o usuário a acessar páginas com vírus.

Já os escritos por trolls de carne e osso se entregavam graças a deslizes mais sutis – sinal de que os russos mal-intencionados não entendiam muito bem o público alvo de suas lorotas. Por exemplo: americanos religiosos tendem a se opor a uma vacina específica, a do HPV – por acreditar que, ao evitar uma doença sexualmente transmissível, ela incentiva a promiscuidade. Nenhum dos tweets falsos menciona esse detalhe.

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Outra maneira óbvia de separar o joio do trigo é a quantidade: perfis falsos disparam em média 1 post sobre vacinação a cada 550 posts sobre outros assuntos. Já uma pessoa de verdade fala do assunto em apenas 1 a cada 12 mil posts.

Várias das contas clandestinas envolvidas neste episódio eram administradas pela misteriosa Internet Research Agency (IRA) – uma empresa contratada pelo governo russo que usa posts maliciosos em diversas redes sociais para manobrar a opinião pública de outros países de acordo com os interesses diplomáticos de Putin.

Parece um roteiro de Agente 86, mas é real: em fevereiro deste ano, o Twitter deletou 3,8 mil usuários utilizados pelo grupo de hackers russos – dois meses depois, em abril, o Facebook identificou e excluiu outras 135 contas usadas pelo IRA para disseminar informações falsas.

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Eles já estão na ativa há algum tempo. Há três anos, em junho de 2015, o New York Times enviou um repórter a São Petesburgo para visitar a sede da empresa – um pequeno prédio de quatro andares que foi apelidado de “Fazenda de Trolls”.

A IRA é apenas uma dos muitos meios pelos quais o governo russo supostamente interferiu na opinião pública americana no período que antecedeu as eleições presidenciais de 2016 – que levaram Donald Trump ao poder.

“Esses trolls estão usando a vacinação como um assunto controverso, causando discórdia na sociedade americana”, afirmou também em comunicado Mark Dredze, cientista da computação da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, que participou do estudo. “Ao encenarem os dois lados da discussão, eles destroem a confiança do público na vacinação e nos expõe ao risco de contrair doenças infecciosas.”

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