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Primeiro satélite feito de madeira é lançado ao espaço

A missão busca testar uma abordagem menos poluente, que pode, no futuro, revolucionar a indústria mundial de satélites.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 6 nov 2024, 19h11 - Publicado em 6 nov 2024, 19h00

O primeiro satélite construído de madeira foi lançado ao espaço nesta terça-feira (5). A ideia da missão é testar maneiras de reduzir o lixo espacial na exploração do espaço, visando usar a inovação em missões lunares e em Marte no futuro.

Construído por cientistas japoneses da Universidade de Kyoto, o material do satélite queimará ao retornar à atmosfera (se tudo der certo, claro).

Batizado como LignoSat, o nome faz homenagem à palavra lignum, latim para madeira. O satélite é uma parceria entre a universidade japonesa e a Sumitomo Forestry, uma empresa de extração e processamento de troncos de árvores.

Uma porta-voz da empresa informou à AFP que o lançamento foi bem-sucedido, e disse que o satélite “chegou à ISS (Estação Espacial Internacional) e será liberado no espaço em cerca de um mês” para testar sua resistência e durabilidade. Lançado em um foguete não tripulado da SpaceX, a partir do Centro Espacial Kennedy da Nasa, na Flórida, ele deve habitar a órbita a 400 km acima da Terra.

O LignoSat é uma caixinha pequenininha: cada um de seus lados mede 10cm e, no total, pesa só 900g. Toda sua confecção foi extremamente bem pensada, inclusive a escolha de qual tipo de madeira seria a melhor para a construção. A decisão final foi pela madeira honoki, vinda de uma árvore magnólia típica do Japão. 

Simeon Barber, pesquisador espacial na Open University do Reino Unido, disse à BBC que é necessário “deixar claro que este não é um satélite completamente feito de madeira, mas a premissa básica por trás da ideia é realmente interessante”.  

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Juntamente aos painéis de madeira, o dispositivo também incorpora estruturas de alumínio e componentes eletrônicos. Além disso, possui sensores a bordo para monitorar como a madeira reage ao ambiente extremo do espaço – principalmente à mudança radical de temperaturas – durante os seis meses em que ficará orbitando a Terra.

O LignoSat também busca testar a capacidade da madeira de reduzir o impacto da radiação espacial em semicondutores, para o uso em construções de data centers, por exemplo, disse Kenji Kariya, gerente do Instituto de Pesquisa Sumitomo Forestry Tsukuba, para a Reuters

“Pode parecer ultrapassado, mas a madeira é, na verdade, uma tecnologia de ponta à medida que a civilização avança para a Lua e Marte”, afirmou ele. “A expansão para o espaço pode revigorar a indústria madeireira.”

Takao Doi, um astronauta que estuda as atividades espaciais humanas na Universidade de Kyoto, diz à agência britânica que a madeira é o material que nos permitirá viver e trabalhar no espaço para sempre. 

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O time de pesquisadores japoneses de Doi tem um plano: em 50 anos será possível construir casas e plantar árvores em Marte e na Lua. Por isso decidiram desenvolver um satélite, aprovado pela Nasa, que mostrasse o potencial do material. 

O professor Koji Murata, da Universidade de Kyoto, especialista em ciências florestais, diz à Reuters que os satélites de madeira deveriam ser alternativas viáveis, já que no espaço não existe água ou oxigênio que possam apodrecê-la. 

Barber diz que um dos potenciais problemas é a dificuldade de trabalho do material: “A madeira sempre terá um problema para ser usada em estruturas críticas, como em espaçonaves, que é necessário prever quão forte ela será.”

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Por que construir satélites de madeira?

“Os pesquisadores esperam que esta investigação demonstre que um satélite de madeira pode ser mais sustentável e menos poluente para o meio ambiente do que os satélites convencionais”, disse Meghan Everett, vice-chefe científica do programa da Estação Espacial Internacional da Nasa, em uma coletiva de imprensa na segunda-feira (4), antes da cápsula Dragon decolar com o LignoSat.

Além disso, não é a primeira vez que materiais derivados da madeira são utilizados em missões espaciais. “Usamos madeira – cortiça – na camada externa das naves espaciais para ajudá-las a sobreviver à reentrada na atmosfera da Terra”, explica Barber à BBC.  “Do ponto de vista da sustentabilidade, é um material que pode ser cultivado e, portanto, renovável.”

Uma vez que sua vida chega ao fim, um satélite desativado deve retornar à Terra para que não se torne lixo espacial. A ideia é, de acordo com Doi, que os satélites de madeira peguem fogo por completo ao entrarem na atmosfera e diminuam a poluição 2 ao contrário dos feitos de metal, que liberam partículas de óxido de alumínio. 

Esses impactos estão se tornando uma preocupação crescente à medida que a população orbital aumenta, devido ao crescimento de mega constelações de satélites, como a rede Starlink da SpaceX, que atualmente conta com cerca de 6.500 satélites ativos.

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“Satélites que não são feitos de metal devem se tornar protagonistas”, disse Takao Doi em uma coletiva de imprensa no início deste ano.

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