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Porque os elefantes têm as bolas nas costas?

Não são os camelos, veja bem: mamíferos do grupo dos elefantes estão entre os únicos que têm testículos embutidos, próximos aos rins. E agora descobriram o porquê.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 jul 2018, 12h48 - Publicado em 6 jul 2018, 12h41

“Os animal, tem uns bicho interessante… Imaginem só como é o sexo dos elefante… E os camelos, que tem as bolas em cima das costas”

Não é todo dia que este repórter pode abrir um texto da SUPER citando Mamonas Assassinas. E também não é todo dia que ele pode se dar ao luxo de fazer uma ressalva biológica à mais amada banda de Guarulhos: por incrível que pareça, os camelos têm saco escrotal como a gente. Pendurado. São os sábios elefantes que guardam seus testículos no interior do corpo, perto dos rins — quase nas costas.

Essa adaptação embutida não é exclusividade dos gigantes acinzentados: é comum a todos os animais do clado Afrotheria, que também inclui o peixe-boi e o porco-formigueiro (que no Brasil é chamado erroneamente de “tamanduá” por causa do desenho O Tamanduá e a Formiga).

Os membros variados do Afrotheria compartilham uma única etiqueta biológica porque evoluíram juntos na África em relativo isolamento geográfico após a queda do meteoro que levou os dinossauros a extinção há 66 milhões de anos. Eles podem não se parecer tanto assim por fora, mas a genética deda o grau de parentesco: todos vem de um ancestral comum, que se separou da árvore principal há mais ou menos 100 milhões de anos. 

Outra coisa que reafirma a semelhança (voltando ao começo do texto) são os benditos testículos embutidos. Eles são praticamente o único grupo de mamíferos placentários que optou por mantê-los próximos dos rins na vida adulta, na posição original — em vez de balançá-los orgulhosamente por aí.

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“Posição original” porque todo mamífero, no primeiros estágios de desenvolvimento, tem testículos internos. Inclusive você, bom leitor. O que acontece em humanos, cachorros, camelos e uma porção de outros animais é que, aos três meses de gestação, alguns genes são ativados e fazem as gônadas descerem. Nos elefantes — e em pelo menos outras 71 espécies do Afrotheria, segundo um artigo científico publicado nesta semana —, isso não acontece.

Biólogos sempre se perguntaram qual dessas duas configurações é a original de fábrica. Em outras palavras: será todo mamífero tinha testículos externos antigamente, e só alguns se desviaram do padrão graças a uma mutação? Ou na verdade é o contrário: os mamíferos que viram uma vantagem adaptativa em ter as gônadas do lado de fora precisaram criar genes só para permitir isso?

Um grupo de biólogos do Instituto Max Plank, na Alemanha, se debruçou sobre a questão. E a resolveu. Eles encontraram dois genes, RXFP2 e INSL3, que, quando são desativados em ratinhos de laboratório, impedem os testículos deles de se deslocar para o saco escrotal no momento certo da gestação. E descobriram que esses genes estão incompletos, inativos ou até desaparecidos nos genomas de vários dos membros da grande família dos elefantes.

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Moral da história? Mamíferos não tem as bolas nas costas. E ponto final. Quem quis se diferente ao longo da história natural precisou passar por modificações.

O que levanta uma questão ainda mais profunda: porque deixaríamos algo tão valioso do ponto de vista darwiniano à mostra, em um lugar frágil? Bem, há algumas explicações. Algumas envolvem a temperatura necessária para fabricação e preservação de espermatozoides. Outras tem a ver com a necessidade de mostrar “as armas na disputa” por fêmeas. A verdade é que ninguém sabe ao certo. Agora sabemos que os elefantes podem guardar a resposta.

Muito bem guardada.

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Mesmo.

 

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