Todo guloso que guardou a escova de dentes recém-usada e logo mandou ver num quindim sabe do que estamos falando. O principal suspeito para essa sensação literalmente agridoce atende por lauril sulfato de sódio, vulgo LSS, um composto presente em todas as pastas de dentes.
Esse detergente, responsável pela limpeza e espuma durante a escovação, é acusado de atordoar as papilas gustativas (presentes em toda a língua), impedindo temporariamente as substâncias que causam a sensação doce de interagir com os receptores de gosto. Ou seja, a língua recém-escovada que provar do suposto quindim vai sentir só o que ele tiver de amargo, azedo e salgado. É um sabor incompleto, falsamente diet, porque o açúcar está ali, só não é sentido.
Além disso, por ser um detergente, o LSS também dissolveria os fosfolipídeos, responsáveis por conduzir o impulso nervoso das sensações – no caso, a de gosto.
Em defesa do LSS, pode-se dizer que o tempo de contato da substância com nossas papilas gustativas durante a escovação é muito curto, sua concentração é pequena e os receptores gustativos da língua estão constantemente se renovando.
“Não há estudos que provem definitivamente que o LSS tem mesmo esse efeito de `apagar o doce`”, afirma Jaime Cury, professor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp. “Na pasta de dentes há outras substâncias, como os aromatizantes, que também atordoam os receptores de gosto.”
Acabou-se o que era doce
Substâncias da pasta de dentes podem confundir nossos receptores gustativos
O suspeito
Tudo indica que moléculas de lauril sulfato de sódio (LSS) “grudam” nos receptores gustativos e os impedem de enviar a sensação de “doce” ao cérebro.
Ainda por cima
O LSS também ataca um tipo de gordura presente na membrana celular, os fosfolipídeos, alterando a sensação do gosto.
Cúmplices
Outras substâncias da pasta, como mentol ou eucaliptol, também podem alterar quimicamente os receptores, causando um tipo de curto-circuito.