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Por que as pessoas estão tendo sonhos mais vívidos durante a quarentena?

Desde pesadelos com a cura até histórias de amor impossíveis. Saiba o que tem tornado as noites de sono tão emocionantes em tempos de pandemia.

Por Carolina Fioratti
10 abr 2020, 17h32

Você se lembra com o que sonhou essa noite? Caso a resposta seja sim, o mesmo vale para as noites passadas? E antes da pandemia de Covid-19, você lembrava das histórias que passavam na sua cabeça durante o sono? Pois é, talvez aquela rotina não te permitisse sonhar com tanta intensidade, mas as coisas mudaram. Nas redes sociais, muitas pessoas estão relatando experiências vívidas (e um pouco estranhas) sobre seus sonhos. 

Se você sentiu isso e percebeu que outras pessoas ao seu redor passaram pela mesma situação, relaxe. Não é delírio coletivo e muito menos motivo para criar teorias da conspiração. A ciência é suficiente para explicar o fenômeno. 

Vamos ao primeiro possível motivo: o sono REM – sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos” –, fase em que sua atividade cerebral se torna similar à de quando você está acordado. O sono REM ocorre em ciclos que duram entre 90 e 120 minutos e pode se repetir algumas vezes durante a noite. É nesse momento que os sonhos mais vívidos acontecem.

Qual é a relação do sono REM com a situação atual? Bem, nós estamos quase todos fora da nossa rotina. Muitas pessoas estão dormindo mais e não precisam pular da cama para ir ao trabalho, o que significa que ocorrem mais ciclos REM durante a noite (simplesmente porque o tempo total de sono aumenta).

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Além disso, a probabilidade de acordar naturalmente durante um ciclo REM também aumenta – é bem mais saudável do que levantar na hora que o despertador quer –, e quando isso ocorre, é mais provável que o indivíduo se lembre do que estava sonhando.

Já para aqueles que estão sonhando diretamente com o coronavírus ou tendo vários pesadelos, a resposta evidentemente pode estar no estresse físico e emocional causado pela pandemia. Você é bombardeado diariamente por notícias sobre a Covid-19, seus amigos e familiares só falam disso nas redes sociais. Logo, o tema também vai surgir durante a noite – de acordo com a teoria de continuidade de William Domhoff, psicólogo americano especialista em sonhos.

Noites ruins são recorrentes após tragédias coletivas – não são só acontecimentos pessoais que contam. Na época dos atentados de 11 de setembro, em 2001, uma professora associada de psicologia na Faculdade Merrimack, em Massachusetts, estava realizando um trabalho com seus alunos em que, diariamente, eles registravam seus sonhos em diários. A professora teve a oportunidade de comparar o que eles escreveram antes e após o desastre, levando em consideração a influência que a mídia teve naquilo que estavam sonhando.  

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A professora concluiu que, para cada hora que os alunos eram expostos ao assunto na TV, as referências aos ataques nos sonhos aumentava em 6%. Outro fato interessante é que, quando os alunos não conversavam com ninguém sobre o assunto, sonhavam diretamente com aviões, torres e explosões.

Por outro lado, se esse tema era debatido com a família e amigos, os pesadelos não eram especificamente sobre o ocorrido. Eram coisas como um acidente de carro ou uma cena de perseguição, por exemplo. Assim, a pesquisadora percebeu que o trauma era mais facilmente superado quando as pessoas colocavam a angústia para fora. O acontecimento acabava se integrando com mais facilidade à vida como um todo. 

Caso você não aguente mais ter pesadelos, tem como se livrar deles. Para isso, você precisa estar tendo um sonho lúcido, ou seja, “despertar” no meio do sonho e perceber que aquilo não é real. A partir daí, você consegue tomar o controle da situação. Voar, lançar chamas, mudar de roupa num piscar de olhos, tudo isso torna-se possível. Nessa matéria da Super, você consegue saber direitinho como chegar nesse ponto.

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Durante a Segunda Guerra Mundial, a escritora Charlotte Beradt coletou cerca de 75 sonhos de pessoas que viviam sob o governo nazista e lançou o livro “O Terceiro Reich dos Sonhos”. Inspirado na iniciativa, nasceu o blog “Eu Sonho com Covid”, em que pessoas do mundo todo podem enviar seus sonhos e tê-los publicados. 

As histórias são diversas. Temos uma pessoa da Califórnia que ficou responsável por escolher quem tomaria a vacina para combater a doença ou não, tendo que deixar inclusive sua mãe de fora. Um brasileiro escreveu que estava nevando muito em nosso país tropical e que foi induzido a participar de uma invasão, que no fim, era na casa de seus próprios pais.

Outro brasileiro criou um amante nos sonhos, capaz de fazer com que ele se sentisse seguro. Mesmo sem saber quem é essa figura imaginária, diz sentir saudades ainda quando está acordado. Me questionei se deveria acrescentar na lista meu sonho bizarro dessa noite, em que eu encontrava o Mickey numa praia americana. Mas, e você, com que tem sonhado? 

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