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Por que a floresta não está se recuperando após a mineração de ouro na Amazônia

Os solos não conseguem mais reter água - e isso impede a regeneração da mata.

Por Manuela Mourão
6 jun 2025, 18h00

Um novo estudo publicado na Communications Earth & Environment revela um dos aspectos mais devastadores da mineração de ouro na Amazônia: não é apenas o solo envenenado por metais pesados que impede a regeneração da floresta: é a água, que desapareceu.

“Sabemos que a degradação do solo retarda a recuperação florestal”, afirma Josh West, professor da USC Dornsife, explorador da National Geographic e coautor do estudo, em comunicado. “Mas isso é diferente. O processo de mineração seca a terra, tornando-a inóspita para novas árvores.”

A pesquisa, conduzida por cientistas do Woodwell Climate Research Center e da USC, analisou áreas devastadas da Floresta Amazônica na região de Madre de Dios, no Peru, próxima às fronteiras com Brasil e Bolívia. 

A técnica mais usada, conhecida como mineração por sucção, destrói completamente a capacidade da terra de reter água. Jatos de água de alta pressão explodem o solo, separando o ouro e deixando para trás montes de areia e lagos estagnados, que se tornam cicatrizes permanente em uma das maiores biodiversidades do planeta.

Imagens térmicas de drones revelaram que essas pilhas de areia podem atingir até 60 °C, enquanto o solo natural nas florestas ao redor se mantém fresco. A água da chuva escorre quase 100 vezes mais rápido nesses depósitos, evaporando em questão de horas.

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“Mesmo as mudas plantadas não conseguem sobreviver”, explica Abra Atwood, também autora do estudo. “Quando as raízes não encontram água e o calor é extremo, não há chance de regeneração.”

“É como tentar plantar uma árvore dentro de um forno”, disse West. 

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Apesar de algumas áreas próximas a lagos e baixadas apresentarem tímidos sinais de recuperação, vastas extensões permanecem completamente áridas, sem qualquer sinal de vida.

“Em Madre de Dios, um total de 95.750 hectares foram desmatados entre 1985 e 2017, apenas no âmbito das atividades de mineração. Somente entre 2009 e 2019, 64.586 hectares foram desmatados, uma área que, segundo a Fundação para a Conservação e o Desenvolvimento Sustentável (2023), equivale a 90.456 campos de futebol”, afirma um relatório feito por nove organizações de conservação da Amazônia, de seis países diferentes. No total, a mineração é responsável por quase 10% de toda a perda de floresta na Amazônia.

Se as descobertas científicas soam alarmantes, decisões recentes do Estado brasileiro adicionam uma camada ainda mais sombria ao cenário.

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O Senado brasileiro aprovou recentemente um projeto de lei que flexibiliza drasticamente o licenciamento ambiental. Na prática, muitas obras e empreendimentos passariam a depender apenas de autodeclarações das empresas, eliminando etapas fundamentais de fiscalização ambiental. Agora, o texto do projeto será apreciado pela Câmara dos Deputados.

Além disso, no dia 19 de maio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) avançou uma etapa no processo de eventual autorização da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, uma região marinha entre o Amapá e o Pará, considerada uma das mais sensíveis ambientalmente.

Historicamente, o Ibama havia rejeitado os pedidos da Petrobras, alegando que os projetos não atendiam às exigências de proteção ambiental. Desta vez, no entanto, deu sinal verde para que a empresa fizesse vistorias e simulações na região. É uma fase pré-operacional do conceito do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF).

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Em nota, o Ibama ressaltou “que tal inspeção não representa qualquer direcionamento conclusivo quanto a emissão ou não da licença ambiental referente à atividade de perfuração marítima no bloco FZA-M-59, na bacia da Foz do Amazonas”. 

Mesmo assim, a reação foi imediata. Mais de 60 líderes indígenas do Oiapoque, no Amapá, divulgaram uma carta aberta acusando o governo de “disseminar desinformação” e de colocar em risco a própria sobrevivência dos povos originários. “Nos ameaçam com falsas promessas de desenvolvimento, mas quem pagará essa conta seremos nós, com nossa terra, nossa água e nossas vidas”, diz um trecho da carta.

 

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