Polvos e peixes formam alianças para caçar juntos; veja vídeos
Pesquisadores descobriram que os moluscos lideram missões e usam os peixes como exploradores para achar comida.
A união faz a força? No oceano, sim: cientistas descobriram que polvos, geralmente considerados seres solitários, podem fazer uma aliança inusitada com peixes para caçar moluscos e peixinhos menores. Os bichos de oito tentáculos – que estão entre os animais mais inteligentes do mundo – tomam o posto de comandantes dessa operação, guiando os seus subordinados.
Nessa parceria incomum, os peixes funcionam como exploradores – fazem uma ampla varredura no local à procura de possíveis presas, principalmente em corais. Quando encontram um alvo fácil, sinalizam para o polvo, que vai fazer sua refeição. Às vezes, a presa escapa do ataque do cefalópode, saindo rapidamente do coral… só para acabar na boca de um dos peixes ajudantes. Por isso a relação acaba sendo benéfica para ambas as espécies.
A conclusão é de um estudo publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution, fruto de mais de 120 horas de gravações feitas em meses de sessões de mergulho no Mar Vermelho, na costa do Egito e Israel. Os pesquisadores encontraram 13 episódios dessas caças conjuntas envolvendo a espécie Octopus cyanea, e documentaram em detalhes seu comportamento.
Polvos, em geral, são considerados animais solitários. Antes, episódios de aparente cooperação desses bichos com peixes para caçar já haviam sido observadas, mas não se sabia se era algo coordenado ou se eram apenas espécies de peixe que seguiam os moluscos para se aproveitar e pegar restos ou presas fugidas.
Agora, ficou claro que a coisa é engenhosa – e que os polvos estão no comando. São eles, por exemplo, que definem o ritmo de busca de presas e decidem quando a coisa acaba e começa. Várias tipos de peixes foram observados como ajudantes dos moluscos no estudo, em especial os do grupo Parupeneus.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a empreitada é coordenada pelos polvos ao reconstruir a movimentação dos grupos filmados em vídeo em um modelo computacional que analisou como a trajetória de cada bicho influenciava a caçada. Descobriram, assim, que os peixes exploravam o ambiente (em especial nas regiões de pedras e corais, que abrigam muitos peixes e moluscos menores) e indicavam os melhores caminhos para o líder do grupo procurar por comida. Quando havia muitas opções diferentes, era o polvo que escolhia qual seguir. Veja abaixo um exemplo:
No vídeo abaixo, dá para ver bem como funciona a relação: o peixe indica uma estrutura para o polvo, que logo depois reage envolvendo o objeto com seu corpo para capturar a presa que possivelmente está aí.
Os pesquisadores também compararam as caçadas conjuntas com missões solitárias, em que os polvos saíam para almoçar sem ajuda dos seus parceiros exploradores. Nesses casos, a taxa de sucesso de capturas de presas era menor, indicando que a presença dos peixes de fato é benéfica para os moluscos.
Em alguns momentos, peixes oportunistas tentaram se aproveitar da caçada – se juntavam ao grupo em busca de alimento, mas não ajudavam na exploração. Os polvos percebiam a presença dos folgados – e, muitas vezes, expulsavam esses intrusos com um socão (ou seria tentaculada?). Olha só vários exemplos no vídeo abaixo:
É engraçado, mas também impressionante: isso demonstra uma certa a capacidade do polvo de reconhecer quem são seus aliados na caçada e quem está ali de intruso. Não é 100% preciso, é claro – os polvos também foram filmados “socando” seus parceiros, mas numa frequência menor do que espantavam os aproveitadores.
Veja mais imagens coletadas pelos pesquisadores no vídeo completo: