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Pessoas talvez enxerguem as cores de forma diferente – graças a uma molécula

O vermelho que eu vejo é igual ao seu? Com retinas criadas em laboratório, cientistas investigaram como uma molécula influencia as células que reconhecem as cores.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 24 jan 2024, 12h34 - Publicado em 24 jan 2024, 11h43

Você já deve ter se perguntado se o “verde” que você enxerga, é o mesmo “verde” das outras pessoas. Bem, por sorte o nosso oráculo já respondeu essa, mas resumindo: não dá para saber, já que a percepção de cores é uma experiência individual. Uma recente pesquisa, entretanto, mostrou que talvez as pessoas enxerguem cores ligeiramente diferentes umas das outras.

Antes de explicar, vamos dar uns passos para trás e lembrar como funciona a visão em cores. O que a gente entende por cor é um fenômeno físico, onde o comprimento de onda de uma determinada frequência eletromagnética equivale a uma determinada cor. 

Enquanto o branco remete a soma de todas as cores, a cor dos objetos vai depender de quais comprimentos de onda ele é capaz de absorver. As que não são absorvidas, refletem nas cores que nossos olhos conseguem enxergar.

O funcionamento dos olhos depende principalmente da presença de células fotorreceptoras – ou seja, células especializadas em captar a luz que chega à retina. A maior parte dos animais vertebrados, como os humanos, possuem dois tipos dessas células: os bastonetes e os cones.

Os bastonetes são responsáveis principalmente pela capacidade de enxergar em ambientes com mais ou menos luz. Em outras palavras, é a alta ou baixa presença dessas células que indicam se o animal consegue ou não enxergar no escuro. É aqui também que se encontra a escala em tons de cinza, indo do preto ao branco.

Já os cones são as células responsáveis pela percepção da cor: quanto mais tipos de cones, maior será a variedade de cores percebida pelo animal. Os humanos, por exemplo, possuem três tipos diferentes de receptores de luz. Assim como alguns primatas,  nós somos capazes de perceber o comprimento de onda do verde, azul e vermelho.

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Mas isso varia no reino animal. Alguns animais, como as abelhas, também possuem três tipos de cones – mas, ao invés do vermelho, elas conseguem perceber o ultravioleta. Os pássaros possuem até quatro tipos diferentes de cones. As borboletas podem possuir cinco ou mais. 

O recordista do reino animal é a chamada lagosta boxeadora. Além de possuírem olhos com a capacidade de distinguir entre luz polarizada ou não, as famosas tamarutacas possuem 12 tipos diferentes de cones nos olhos, com sua percepção de visão indo do ultravioleta até o infravermelho.

Nossos amigos cachorros, por exemplo, não possuem tanta sorte para enxergar o arco íris. Eles possuem só dois tipos de cones receptores: um para o azul e outro para o amarelo. Isso significa basicamente que eles não conseguem enxergar a diferença entre objetos com de verde e vermelho, por exemplo.

Mas até aí, isso só explica o porquê da gente ver mais cores que eles. Quando o assunto é a comparação de pessoa para outra pessoa, o motivo da diferença pode estar na quantidade de cones verdes e vermelhos. E nos humanos, a produção desses cones se deve basicamente a uma molécula.

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Um estudo de pesquisadores da Universidade John Hopkins e da Universidade de Washington mostrou que a presença e os níveis de uma molécula chamada ácido retinóico são essenciais para determinar as proporções dos cones vermelhos e verdes.

A descoberta foi possível graças à utilização de retinas cultivadas em laboratório. Durante seu desenvolvimento, as retinas que foram expostas a maiores níveis de ácido retinóico durante os primeiros 60 dias apresentaram maiores taxas de cones verdes. Já os cones imaturos expostos a níveis mais baixos do ácido acabaram se tornando cones vermelhos em fases mais avançadas do desenvolvimento.

“Podemos controlar em organóides a população de células verdes e vermelhas, podemos direcionar o conjunto para ser mais verde ou mais vermelho”, disse Sarah Hadyniak, uma das autoras do estudo, em comunicado à Universidade de John Hopkins. “Isso tem implicações para entender exatamente como o ácido retinóico está agindo nos genes.”

O período em que o ácido retinoico é introduzido também é importante. Os pesquisadores descobriram que, caso ele seja adicionado após 130 dias do desenvolvimento da retina, o resultado não muda. Ou seja, não é possível mudar a um cone vermelho para um cone verde depois que este já estiver maduro.

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Além disso, os pesquisadores mapearam a proporção dessas células em retinas de 700 adultos do sexo masculino. Nenhum deles apresentava sinais de deficiência na visão de cor, como daltonismo. Mesmo assim, a proporção entre cones verdes e vermelhos variou bastante entre as pessoas estudadas.

“Ver como a proporção de cones verdes e vermelhos muda em humanos é uma das descobertas mais surpreendentes da pesquisa”, apontou Hadyniak. Mesmo assim, não se sabe exatamente como a diferença na proporção dos cones afetam a visão de cada um.

“Ainda pode haver alguma aleatoriedade nisso, mas nossa grande descoberta é que você produz ácido retinóico no início do desenvolvimento. Essa temporização realmente importa para aprender e entender como essas células de cone são formadas”, explica Robert Johnston,  biólogo do desenvolvimento e um dos autores do estudo. 

Os pesquisadores esperam que estudos como esse possam, no futuro, auxiliar na recuperação de pacientes com perda de células visíveis à luz. “A esperança futura é ajudar pessoas com esses problemas de visão. Vai demorar um pouco até que isso aconteça, mas apenas saber que podemos criar esses diferentes tipos de células é muito promissor”, completa  Johnston.

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