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Peixe prolonga sua gestação para proteger filhotes da fome

Quando se está em um ambiente em que o alimento é escasso, manter a cria um tempinho a mais no forno pode ser a escolha mais correta

Por Guilherme Eler
Atualizado em 17 out 2017, 18h31 - Publicado em 16 out 2017, 19h31

Vale tudo para não decepcionar uma criança – inclusive, adiar a estreia dela no mundo. Cientistas da Universidade Brown, nos Estados Unidos, notaram pela primeira vez que esse comportamento aparece nos populares lebistes, ou barrigudinhos (Poecilia reticulata). O simples ato de esperar um pouquinho para dar à luz pode ser o suficiente para formar uma cria mais preparada para a vida lá fora, e capaz de batalhar pelo seu próprio alimento por conta própria.

Apesar de ser uma das espécies ornamentais preferidas dos aquários, os lebistes também vivem em natureza – são naturais de rios de Trinidad e Tobago. Enquanto nadam livres pelo país da América Central, eles têm chance de crescer em dois ambientes diferentes. Na parte baixa dos rios, onde há mais predadores, as mães costumam também dar à luz uma quantidade maior de filhotes, e têm, ainda, ninhadas maiores. Esses bebês, contudo, nascem menores e menos desenvolvidos.

O cenário é bem diferente para quem escolhe nadar acima das quedas d’água. Por lá, os predadores dão muito menos as caras – o que significa que a competição por alimento, entre os pequenos, é mais intensa. Mães que estão nessa região produzem poucos filhotes, mas eles são maiores em comparação à turma da outra parte do rio.

O trabalho dos pesquisadores foi exatamente nesse ponto: explicar o porquê dos grandalhões nascerem sobretudo em áreas mais hostis do ponto de vista de disponibilidade de alimento. Para descobrir a real causa, eles mediram os ossos e músculos de cobaias das duas áreas do rio, antes e depois do nascimento. A ideia era entender se havia diferenças no período de maturação dos lebistes – relacionando com o tempo de gestação e a rapidez com que as crias ficavam prontas para sair para o mundo.

Os resultados mostraram que não havia nenhuma diferença no processo de crescimento, ou seja, ambos completavam seu desenvolvimento no mesmo ritmo. O que foi diferente em cada um dos casos foi o tempo. Quem nascia em um ambiente com pouca comida chegava, em média, 10% depois dos outros.

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Os mais lerdos, porém, nasciam com até 70% de sua musculatura esquelética formada, enquanto o desenvolvimento dos outros estava na casa dos 20%. O interessante é que, apesar de saírem na frente e ficarem maiores mais rápido, essa liderança de maturação não permanecia por muito tempo. De acordo com Terry Dial, um dos autores do estudo, filhotes dos dois tipos, quando analisados 30 dias depois do nascimento, estavam igualmente desenvolvidos.

O estudo foi publicado no jornal Proceedings of the Royal Society B.

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