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Para evitar o assédio, beija-flores fêmeas se “disfarçam” de machos

A plumagem das aves é peça importante na hora do acasalamento – que pode ser um estorvo para as fêmeas, que precisam lidar com investidas insistentes. Mas uma espécie latina descobriu como contornar o problema.

Por Luisa Costa
Atualizado em 6 set 2021, 20h01 - Publicado em 6 set 2021, 19h44

O macho do beija-flor azul de rabo branco (Florisuga mellivora) – encontrado principalmente no norte do Brasil e em outros países da América Latina – apresenta penas azuis e verdes brilhantes, além de penas brancas em sua barriga. Já a fêmea da espécie é totalmente diferente: bem mais discreta, ela apresenta coloração verde acinzentada. Ou, pelo menos, costuma apresentar.

É que um novo estudo mostrou que quase 30% das fêmeas se disfarçam e apresentam plumagem parecida com a dos machos. Os cientistas perceberam que isso é um truque: exibindo penas mais extravagantes, elas são bem menos importunadas pelo assédio de sua contraparte.

Você já deve estar familiarizado com a ideia de que pássaros exibem características diferentes dependendo do sexo. O pavão é um bom exemplo: só os indivíduos machos apresentam aquela cauda colorida e esvoaçante. 

Uma teoria recorrente para explicar essa diferença é a “seleção sexual”: a ornamentação dos pássaros (a características de suas penas) seria desenvolvida tendo em mente vantagens relacionadas à procura de parceiros sexuais e reprodução. A diferença das plumagens, então, aumentaria as chances de um match.

Mas cientistas estão percebendo que fatores não sexuais também podem ser importantes no desenvolvimento e evolução de características físicas, como a ornamentação dos pássaros. É o caso deste novo estudo. 

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De acordo com os pesquisadores, a ornamentação masculina de algumas fêmeas pode surgir puramente por meios não-sexuais, a partir de uma “seleção social”. Ou seja, a hipótese é que elas desenvolvem sua plumagem tendo em vista outras vantagens além de conquistar parceiros.

A equipe do estudo foi até Gamboa, no Panamá, investigar por que as fêmeas da espécie azul de rabo branco eventualmente se pareciam com os machos. Os cientistas instalaram vários comedouros na cidade e em uma floresta próxima para atrair os pássaros e observaram cerca de 400 beija-flores. 

Eles descobriram que todas as fêmeas jovens tinham uma plumagem azul, parecida com a dos machos. Mas, à medida que elas cresciam, a maioria mudava suas penas para uma coloração verde suave.

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A equipe também precisava observar como os beija-flores machos se comportavam em relação aos pássaros discretos e aos mais extravagantes. Então, os pesquisadores colocaram algumas montagens (animais mortos, preservados pelo processo de taxidermia) de fêmeas verdes e azuis nos comedouros.

Eles notaram que os pássaros machos tinham uma clara preferência sexual por fêmeas verdes. Era a essas montagens que os beija-flores dirigiam suas investidas e até agressões – relacionadas a assédio sexual ou comportamento territorial. As fêmeas verdes eram perseguidas mais de dez vezes mais do que aquelas que se disfarçavam de azul.

Além do problema do assédio, o disfarce azul também oferecia outras vantagens às fêmeas. A equipe monitorou o comportamento alimentar dos pássaros ao longo de nove meses e percebeu que as fêmeas azuis conseguiam visitar os comedouros com mais frequência (e por mais tempo) do que as fêmeas verdes. Provavelmente, porque perdiam menos tempo se desvencilhando de machos irritantes.

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