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Oceano Atlântico pode ter 10 vezes mais plástico do que se estimava

Segundo um novo estudo, a quantidade dessa poluição é altamente subestimada pelos cálculos atuais – e pode chegar a mais de 200 milhões de toneladas.

Por Bruno Carbinatto
20 ago 2020, 19h27

A poluição dos oceanos, que já era um problema, acaba de piorar. Novas estimativas calculam que a quantidade de plástico no oceano Atlântico é pelo menos 10 vezes maior do que se imaginava até então: são 200 milhões de toneladas de plástico só nessa parte da Terra.

É o que mostra um novo estudo feito por cientistas britânicos e publicado na revista Nature. Os pesquisadores do Centro Nacional de Oceanografia da Inglaterra passaram três meses coletando amostras de água com até 200 metros de profundidade no oceano Atlântico, do Reino Unido até as Ilhas Malvinas (ou Falklands, como os britânicos preferem chamar). Depois, eles analisaram essas amostras em laboratório em busca de partículas de três plásticos comumente utilizados: polipropileno, poliestireno e polietileno.

Os resultados mostraram uma quantidade entre 12 e 21 milhões de toneladas desses plásticos nos primeiros 200 metros do oceano – uma área analisada que equivale a 5% de todo o Atlântico. Assumindo que a concentração de plástico é a mesma em todo o corpo de água, os cientistas estimam que há pelo menos 200 milhões de toneladas de plástico nas águas desse oceano.

Estimativas anteriores, que se baseavam em dados sobre resíduos plásticos que não tinham o destino de reciclagem correto em cidades costeiras, falavam em uma quantidade entre 17 milhões  e 47 milhões de toneladas de plástico lançadas no Atlântico nos últimos 65 anos. Ou seja, o novo número é entre 4 e 10 vezes maior do que se pensava até então. Segundo os pesquisadores, isso indica que nossos dados oficiais estão subestimando consideravelmente a quantia de plástico que estamos despejando nos oceanos todos os anos.

O problema real, porém, provavelmente é ainda maior do que as novas estimativas calculam. Isso porque o estudo só analisou três tipos de plástico, que de fato são comercialmente muito populares – o poliestireno, por exemplo, é o famoso isopor. Mas outros tipos devem aumentar ainda mais a poluição.

Plástico nos oceanos não é um tema exatamente novo: há décadas sabemos que nossas águas estão cada vez mais poluídas por conta do descarte inadequado de lixo. O plástico tem uma degradação extremamente lenta e, nos mares, ele se quebra em pedaços cada vez menor, até partículas microscópicas conhecidas como microplásticos. Estes, por sua vez, são consumidos por peixes e outras formas de vida marinha e entram na cadeia alimentar, retornando aos humanos via alimentação.

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“Estudos anteriores não haviam medido as concentrações de partículas invisíveis de microplásticos logo abaixo da superfície do oceano. Nossa pesquisa é a primeira a ter feito isso em todo o Atlântico”, explicou em comunicado Katsiaryna Pabortsava, autora principal do estudo.

Ainda sabemos muito pouco sobre os reais impactos que esse tipo de poluição tem, tanto no meio ambiente quanto na saúde humana. Para entendermos melhor as dimensões do problema, “precisamos de boas estimativas sobre a quantidade e as características desse material, sobre como ele entra no oceano, como se degrada e qual é a sua toxidade nessas concentrações”, explica Richard Lampitt, coautor do estudo.

É por isso que, cada vez mais, a ciência se interessa mais e mais em estudar o tema. Pesquisas recentes têm revelado as reais dimensões do problema. Um estudo publicado em julho deste ano na revista Science, por exemplo, estimou que, se medidas não forem tomadas para diminuir o descarte inadequado de plástico, a quantidade do material entrando nos oceanos pode triplicar nas próximas duas décadas. Uma outra análise descobriu que a quantidade de microplásticos no fundo do oceano bateu recorde recentemente, e uma terceira pesquisa indica que a quantidade total de plásticos nos oceanos é bastante subestimada pelos cálculos atuais, concordando com os resultados do novo estudo britânico.

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