O selvagem da motocicleta
Evel Knievel bateu os recordes de saltos-mortais e ossos quebrados: 35 ao longo da vida. Mas ganhou fama e muito dinheiro
Era 31 de dezembro de 1967. Em Las Vegas, o hotel Caesar’s Palace tinha programado uma atração especial para a virada de ano. Um motociclista chamado Evel Knievel iria tentar saltar sobre as fontes da entrada do hotel. Eram 46 metros, quase o comprimento de uma piscina olímpica. Na hora marcada, o motoqueiro acelerou a sua Harley-Davidson. Disparou na rampa, deu um salto espetacular. Mas só acordou em fevereiro de 1968.
O público assistiu horrorizado ao espetáculo. Evel ficou um mês em coma. “Perdi o controle da moto. Ao cair, rolei por mais de 50 metros”, relatou mais tarde. O resultado do salto foi um crânio rachado, múltiplas fraturas nos quadris e nas costelas e fama instantânea. Quando voltou a si, Evel era uma celebridade polêmica. Valia a pena arriscar a vida por um espetáculo?, perguntava a imprensa, chocada. Evel achava que sim, e delirou quando a esposa, Linda Bork, contou, ainda no quarto do hospital, que um batalhão de repórteres o esperava do lado de fora. Até então, ninguém havia sido tão radical em arriscar a vida. Com ele nasceu uma nova era: a dos profissionais do perigo extremo.
A paixão pelo risco já marcava Robert Craig Knievel (seu nome verdadeiro) desde a adolescência, no estado americano de Montana. Sua primeira moto ele roubou aos 13 anos. Garoto-problema, furtava lojas de conveniência, arrombava cofres e trapaceava no carteado. Só sossegou em 1964, quando virou sócio numa loja de motos. Para atrair a clientela, dava shows sobre duas rodas. Daí pra Las Vegas foi um pulo, com o perdão do trocadilho.
Depois do episódio do Caesar’s Palace, Evel dedicou-se a se superar. Conseguiu. Em 1972, saltou sobre 52 carros no Los Angeles Coliseum. Em 1973, pulou sobre 13 ônibus de dois andares no estádio Wembley, em Londres. Em 1974, a bordo de uma motoca turbinada com foguetes, tentou saltar sobre o cânion Snake River. Seu pára-quedas abriu antes da hora, mas, mesmo assim, embolsou US$ 6 milhões pagos pelos patrocinadores do show.
Era o auge da sua carreira. Virou tema de dois filmes e vendia mais bonecos que o GI Joe (o nosso Falcon). Mas, em 1977, sua vida pessoal começou a desmoronar. Espancou o seu agente, foi multado por propor programa a uma policial disfarçada de prostituta e se afundou na bebedeira.
Sofria do fígado, de diabetes e problemas pulmonares. Faleceu em 30 de novembro de 2007, com 69 anos e, ao que parece, nenhum arrependimento. Em entrevista ao New York Times, chegou à sua melhor definição: “Eu sou um homem de negócios. Mas também um explorador.”
Grandes momentos
• Knievel ganhou o apelido ainda adolescente, no xadrez. Dividia a cela com Awful Knofel (“Knofel, o Pavoroso”). Então o xerife apelidou o moleque de Evil Knievel (“Knievel, o Demoníaco”). Ele adorou e registrou o apelido em cartório. Só trocou o “i” pelo “e”, para ser exótico.
• Evel casou-se aos 20 anos com a namorada de escola. Detalhe: teve de seqüestrá-la duas vezes, até ter o pedido aceito.
• Ao todo, Evel sofreu 15 cirurgias. Tinha quadril de titânio e dezenas de pinos de alumínio pelo corpo. Chegou a ser operado para trocar as peças artificiais, quebradas nos tombos de moto.