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O que faz as baleias da Nova Zelândia encalharem tanto

Certas características naturais do país ajudam a explicar o número de encalhes em massa das últimas semanas

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 10h57 - Publicado em 4 dez 2018, 19h32

No final de novembro deste ano, 145 baleias-piloto morreram após encalhar na baía de Mason, região praiana da Ilha Stewart, na Nova Zelândia. Enquanto metade delas não suportou o tempo passado fora d’água, o restante teve de ser sacrificado devido à dificuldade de acesso ao local, que impedia eventuais tentativas de resgate.

As baleias estavam espalhadas em uma fila que se estendia ao longo de 2 quilômetros de costa, como você pode ver neste vídeo do Departamento de Conservação neo-zelandês, que sobrevoou o local.

Menos de uma semana depois, mais 90 exemplares da mesma espécie repetiram a cena no país, desta vez na baía Hanson, na pequena ilha de Chatham – a 1.300 quilômetros de distância da Ilha Stewart. Do grupo de baleias, 50 já foram avistadas sem vida, outras 39 conseguiram ser resgatadas e devolvidas ao mar e uma teve de sofrer eutanásia.

“Infelizmente, a probabilidade de que uma equipe consiga ter sucesso em devolver as baleias ao mar é extremamente baixa. A localização remota e a falta de pessoal para acompanhar a situação dos animais implicam que a coisa mais digna a se fazer seja a eutanásia”, disse Ren Leppens, do Departamento de Conservação da Nova Zelândia, ao jornal local New Zealand Herald. “Ainda assim, esta sempre é uma decisão de quebrar o coração”.

Como destacou o New Zealand Herald, foram pelo menos 23 eventos significativos envolvendo baleias encalhadas no país desde 2010. Estimativas do jornal para o período falam em 1114 mortes, de diferentes espécies. O maior incidente aconteceu em 10 de fevereiro de 2017, quando 416 baleias-piloto encalharam em Farewell Spit, Golden Bay. Pelo menos 300 morreram. Pouco, se comparado ao que aconteceu na mesma Ilha de Chatam, há exatos cem anos: 1000 encalhamentos, recorde jamais superado.

Reincidência maori

Sobre os acontecimentos dos últimos dias, o Departamento de Conservação do país afirmou que a situação é um tanto comum: existem, em média, 85 casos com mamíferos marinhos todos os anos – ainda que a maioria, no entanto, seja de animais solitários. Desde 1840, foram mais de 5 mil baleias encalhadas na Nova Zelândia, segundo a entidade.

Estimativas da ONG Project Jonnah, grupo que trabalha no resgate de baleias no país, são ainda mais impressionantes: seriam 300 baleias e golfinhos mortos na praia todos os anos. Independentemente do número total, dá para dizer que a situação é representativa a nível mundial. Um estudo da década de 1990, por exemplo, apontava pelo menos 2 mil encalhes por ano em todo o planeta – o que elegeria a Nova Zelândia como região de maior concentração de eventos do tipo.

Mas, afinal, por que isso acontece? O que faz das praias neo-zelandesas um ímã de baleias em momentos de maré-baixa? Ainda que as razões principais permaneçam sem uma explicação definida, há algumas ideias para explicar tamanha recorrência de encalhes em massa.

Sabe-se que a ecolocalização, capacidade dos animais marinhos de detectar o ambiente por meio de ondas ultrassônicas, fica prejudicada em áreas muito rasas ou com águas mais turvas – justamente o caso de regiões mais ao norte da Nova Zelândia, como Farewell Spit. Por lá, também é comum a presença de solos irregulares, que alteram a percepção que baleias e golfinhos têm do ambiente, fazendo-os achar que nadam em áreas mais profundas do que de fato o fazem.

A região neo-zelandesa também tem contornos um tanto irregulares. Pode observar no mapa: certas áreas de costa com formações geológicas complexas, dão desenhos mais tortuosos às praias e embaralham o mecanismo de localização. Uma vez cercados por diferentes porções de terra, é como se baleias e golfinhos se sentissem encurralados sempre que se aproximam muito das praias – principalmente se estiverem longe de seus habitats naturais.

Outro fator que pode comprometer a localização das baleias são as temperaturas mais elevadas. Como todo local que se preze no Hemisfério Sul, a chegada do verão, que valerá a partir de 21 de dezembro, faz com que as águas fiquem mais quentes ao longo do dia. “Isso pode estar afetando a forma como as presas se movem no fundo do mar. Como consequência, podemos ter mais desvios de rota das baleias, que tendem a seguir suas presas”, explicou à AFP Karen Stockin, pesquisadora da Universidade Massey, na Nova Zelândia.

Aspectos como má alimentação e cansaço também podem fazer os animais desviarem suas rotas e se perderem. Em espécies como as baleias-piloto, que contam com um senso de coletividade bastante desenvolvido, o fato de um integrante do grupo se machucar ou se perder pode comprometer o andamento da viagem de todo o bando. Baleias mais velhas, machucadas ou doentes tendem a procurar águas mais rasas para tomar um fôlego e voltar a nadar. Quem se aproxima muito da praia faz do retorno mais difícil, aumentando suas chances de virar estatística.

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