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O médico nazista que infectou pacientes com malária – e ganhou um Nobel

Julius Wagner-Jauregg conseguiu tratar uma problema psiquiátrico fatal usando a doença. Entenda como.

Por Eduardo Lima
27 Maio 2024, 19h00

Foram 249 milhões de casos só em 2022. A malária, doença infecciosa transmitida principalmente por mosquitos que leva a quadros de febre, continua muito presente na África, de onde vieram 94% dos casos e 95% das mortes. 

A enfermidade tem cura e tratamento, mas mesmo assim continua sendo um dos principais problemas de saúde pública mundiais, e ainda representa um perigo na região amazônica do Brasil.

Difícil de imaginar, então, que no fim do século 19 e no começo do século 20 a malária estaria sendo usada como remédio para doenças psiquiátricas severas. 

Julius Wagner-Jauregg, o psiquiatra austríaco que desenvolveu essa técnica, ganhou o prêmio Nobel de Medicina em 1927 por curar diversos pacientes de demência paralítica ao infectá-los com malária. Mas de onde veio a ideia para esse tratamento nem um pouco convencional?

A diferença entre o remédio e o veneno é a dose

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível que pode se manifestar em úlceras e lesões na pele dos infectados. Em certos casos mais graves e mais tardios, um sintoma possível é a paralisia geral progressiva, também conhecida como paresia ou demência paralítica. 

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Essa infecção e consequente destruição do tecido cerebral pela bactéria Treponema pallidum leva à psicose, com uma deterioração gradual da personalidade do doente, perda de memória, ataques de raiva, apatia e a entrada num estado letárgico e paralítico que pode levar à morte.

Wagner-Jauregg se inspirava no conhecimento tradicional de que febres poderiam aliviar doenças psiquiátricas. Então, em 1917, expôs alguns enfermos com paresia ao sangue de soldados infectados com malária do tipo Plasmodium vivax. Esse parasita causava uma febre alta e longa nos pacientes, mas que poderia ser controlada com o uso de quinina (um antitérmico), sem causar grandes danos.

A paralisia geral progressiva era incurável até a introdução da malarioterapia, que pôs a doença em controle médico parcial. O experimento de 1917 apresentou resultados de sucesso, e a piroterapia, ou seja, aumentar a temperatura de um corpo por meio de febre, foi muito usada na primeira metade do século 20 para tratar diversas doenças.

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Febre nazista

A partir da década de 1940, a penicilina e os antibióticos viraram o principal tratamento para demência paralítica e tiraram a piroterapia de moda. A doença, então, passou a ser curável.

Wagner-Jauregg morreu aos 83 anos, em 1940. Antes disso, o psiquiatra se dedicou a outras ideias que deveriam ter ficado no passado (assim como a malarioterapia), mas que teimam em continuar aparecendo. Ele era um nazista entusiasta, que só não conseguiu se juntar ao partido porque sua ex-mulher era judia.

Ele era um grande defensor da ideia de higiene racial e se tornou o presidente da Liga Austríaca para Regeneração Racial e Hereditariedade, uma organização eugenista. O neurologista também defendia a esterilização forçada de pessoas com transtornos mentais, criminosos e pessoas consideradas como “geneticamente inferiores”.

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Até hoje, o nome de Wagner-Jauregg ainda é celebrado em algumas ruas e edifícios hospitalares na Áustria. Há de se reconhecer sua contribuição à medicina, claro. O problema é que seu passado eugenista e antissemita costuma ser deixado de lado. 

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