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Normal? Nem o psiquiatra sabe o que é

O número de transtornos catalogados cresce sem parar, mas a definição de normalidade é uma questão filosófica em aberto

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 19 Maio 2012, 22h00

Desde 1952, o DSM aumentou de 106 para 365 o número de transtornos mentais. E, quando chegar em sua 5ª versão, haverá ainda mais diagnósticos. Ou seja, pode não se saber o que é normal, mas cada vez há mais definições do que não é. Mas Michael First, professor da Universidade de Columbia, EUA, e editor do DSM-4-TR, dá um alívio: “A maioria das pessoas hoje ainda é normal”.

 

A psiquiatria tirou o foco do indivíduo para tratar apenas o cérebro com remédios?
Um bom psiquiatra só receitará remédio se julgar realmente necessário, e ele mesmo indicará a terapia com um psicólogo. Psicologia e psiquiatria são campos complementares, não inimigos. Mas há, sim, problemas: é preciso lembrar que muitos remédios para doenças mentais não são sequer prescritos por psiquiatras, mas por clínicos gerais, que naturalmente recebem maior influência da indústria farmacêtucia.

Nos EUA, por exemplo, as empresas de medicamentos podem anunciá-los na TV, então muitos pacientes acabam partindo para essa saída mais fácil. Muitos pacientes estão sendo medicados, enquanto, na verdade, deveriam fazer psicoterapia. Mas, ao mesmo tempo, há muita gente com sérias doenças mentais que não está sendo tratada. Só uma minoria dos pacientes com distúrbios mentais será tratado ao longo da vida.

 

Por quê? O que impede as pessoas de procurarem ajuda?
Há muitas razões. Falta de dinheiro para bancar o tratamento, falta de profissionais de saúde mental disponíveis em muitos lugares, o próprio estigma de ser rotulado como portador de transtorno mental e a falta de reconhecimento por parte da sociedade de que tal pessoa está, de fato, sofrendo com uma doença mental – e que ela pode ser tratada.

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Os transtornos mentais continuam a ser tratados pela sociedade de forma completamente diferente das doenças comuns. Há um estigma forte associado a ter um transtorno mental, então muitas pessoas acreditam ainda que tais sintomas de certa forma representam uma “fraqueza moral”, e não exatamente uma doença tratável.

 

Muitos personagens de ficção se baseiam em transtornos mentais. Essa popularização de rótulos ajuda ou atrapalha os pacientes?
Muitas representações de doenças mentais na TV e no cinema são distorcidas e imprecisas e por isso desinformam pacientes e suas famílias. Claro, às vezes quando isso é feito de forma precisa, essa imagem pode ser útil para ajudar as pessoas a identificar seus sintomas como de uma doença e então buscar tratamento. Só que isso é bem menos recorrente, por exemplo, com os transtornos de personalidade, que geralmente são usados como elementos de uma trama que quase sempre estigmatiza os pacientes. O pior exemplo é o filme Atração Fatal e sua descrição de um borderline.

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Com tantos transtornos novos sendo identificados e rotulados, afinal, quem seria normal nos dias de hoje?
Eu ainda acho que a maioria das pessoas pode ser considerada normal, mesmo com a proliferação dos diagnósticos no DSM. A prevalência de transtornos mentais na população, segundo vários estudos epidemiológicos, mesmo considerando as taxas mais altas entre eles, é ainda assim bem abaixo de 50%, então eu não entendo a noção de que que o DSM rotula todo mundo como tendo algum tipo de problema. Isso não é verdade. Agora, se a pergunta for “o que é normal”, não se sabe. No fim, não há uma definição aceita do que é normal, por mais frustrante que isso seja.

 

 

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