Misturar álcool com energético faz você se sentir mais bêbado
Além de te deixar mais extrovertido e confiante na hora do flerte. Mas isso é consequência, não é mesmo?
“Red Bull te dá asas”, diz o slogan mais famoso da marca. Se ser alado significar uma maior extroversão e mais confiança para chegar em alguém na balada, a afirmação realmente procede. Mas há mais coisa envolvida na mistura álcool + cafeína e taurina. Saber que há um energético no seu drink pode dar a sensação de que você está mais bêbado – e a culpa é exatamente desse par de asas que você magicamente pensa ter adquirido ao tomar sua bebida. É o que comprovou um estudo publicado no periódico Journal of Consumer Psychology.
Para determinar a força desse efeito placebo, os pesquisadores analisaram 154 voluntários – todos homens, heterossexuais e que diziam beber apenas “socialmente”. A tarefa deles era bem simples: matar em dez minutos um drink composto por vodka, energético e suco de frutas, combinação clássica de uma noitada fora de casa, enquanto assistiam a videoclipes. Apesar de todos os drinks terem os mesmos ingredientes, eles receberam três diferentes rótulos: Red Bull & vodka, coquetel de vodka e coquetel de frutas.
O mero fato de olhar para o copo e ler sobre seu conteúdo foi determinante para o comportamento dos participantes. Os que acreditavam ter enchido a cara com a combinação de álcool e energético, se sentiram mais bêbados e desinibidos do que quem tomou as outras misturas.
Mais “calibrados”, eles também tiveram mais confiança na tarefa de se aproximar de uma mulher, num teste que simulava um encontro em um bar. Além disso, tinham mais certeza de que a cantada seria bem sucedida. Ter dinheiro no bolso, para esses participantes, seria um problema: eles também passaram a tomar mais riscos em um jogo de azar proposto pelos pesquisadores.
Insistentes e inconsequentes mas, com responsabilidade no trânsito. Quem acreditou ter bebido o drink composto só por energético e vodka se tornou um motorista mais consciente. O tempo de espera até se considerar apto para assumir o volante foi, em média, 14 minutos maior do que de outras cobaias.
A explicação dessa sensação, para os pesquisadores, vem da forma como o produto é vendido. As propagandas de energéticos tendem a alterar as expectativas de quem compra, e assim, seu comportamento. Dessa forma, falar ao consumidor que ele ganhará asas pode induzi-lo a acreditar que realmente será capaz de fazer qualquer coisa – seja chamar a atenção feminina, vencer uma partida de poker, ou, em casos mais graves, sair efetivamente voando por aí. “Eles se acham mais bêbados simplesmente porque o marketing diz que eles devem se sentir dessa forma”, afirma Yann Cornil, um dos autores do estudo.
Para o outro autor, Pierre Chandon, os efeitos psicológicos – e não somente os fisiológicos – também devem ser claros para os usuários. Isso significaria explicitar nas propagandas não só habilidade de te deixar mais ligadão ou até invencível, mas também a de ampliar os efeitos de sua bebedeira se você resolver combinar com etílicos.
O problema é que, apesar de ser comum, essa prática não é nem um pouco recomendada. Resultados de pesquisas anteriores permitem classificar os drinks de álcool e energéticos como nocivos também para a saúde. Misturar pode ter o mesmo efeito que a cocaína, para adolescentes, ou ainda levar quem bebe a se machucar mais, ingerir mais álcool e passar mais tempo fora de casa. O que faz com que a proposta de ter asas não seja nem mais tão atrativa assim.