A poluição por lixo plástico nos oceanos vem ganhando contornos cada vez mais sombrios. Agora, os pesquisadores descobriram que as micropartículas de plástico, filamentos com menos de cinco milímetros, parecem ter um efeito “fast food” sobre os peixes.
Na pesquisa, os cientistas identificaram uma espécie que pode realmente tornar-se viciada em comer microplásticos ao confundi-los com um alimento nutritivo. O estudo completo, publicado na revista Science e liderado por pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, é um dos primeiros a avaliar os impactos sobre a vida marinha desse material, bastante comum em produtos esfoliantes e outros cosméticos.
Realizada no mar Báltico, na Europa, onde existem altas concentrações de micropartículas de polietileno, a pesquisa descobriu que os espécimes mais jovens, em fase de crescimento, são os mais vulneráveis ao “pseudoalimento” indigesto. É como se eles fossem iludidos ao julgar que se trata de um recurso de alta energia que eles precisam comer aos montes.
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Naturalmente, esse tipo de dieta é um convite ao desastre: segundo a pesquisa, os peixes em águas com maior presença de plástico são fisicamente menores do que o grupo de controle de águas limpas, além de serem mais lentos e mais “burros”, demorando para fugir de predadores potenciais.
Para agravar, os pesquisadores notaram que, não raro, os peixes optavam por comer microplástico mesmo quando opções naturais, como o planctôn, estavam prontamente disponíveis.
O estudo alerta que, apesar de muitos contaminantes químicos serem conhecidos da Ciência, pouco se sabe sobre seus impactos ecológicos. “Os mecanismos pelos quais os microplásticos podem afetar embriões e larvas de organismos aquáticos, que são particularmente vulneráveis aos poluentes, são especialmente obscuros”, observam os pesquisadores.
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O aumento da utilização de plásticos é de tal forma significativo que, em 2050, os oceanos terão mais detritos desse material do que peixes, alertou um estudo recente da fundação da reconhecida velejadora britânica Ellen MacArthur, em parceria com a consultora McKinsey.
No final, a poluição marinha por plástico expõe não apenas os animais marinhos e seus ecossistemas, como nós, humanos. Uma pesquisa divulgada em outubro passado mostrou que nada menos do que um quarto dos peixes vendidos nos mercados na Califórnia e na Indonésia contém, em suas entranhas, detritos plásticos. Pois é, o mundo dá voltas.